Educação em direitos humanos na América Latina: fundamentos para uma prática educativa democrática
DOI:
https://doi.org/10.5016/ridh.v9i1.50Palavras-chave:
Educação em direitos humanos, América Latina, Modernidade, Fundamentos sócio-históricos, Diálogo democráticoResumo
O presente trabalho busca compreender quais os fundamentos da Educação em Direitos Humanos (EDH) na América Latina, identificando as possíveis rupturas e continuidades com o projeto social delineado na Modernidade. O artigo parte da ideia que a sociabilidade moderna formou as bases das práticas educativas contemporâneas latino-americanas, que têm como elementos a emancipação humana através da produção racional e universal do conhecimento, economia capitalista e Estado centralizado. No percurso investigativo realizado, entende-se que por não serem monolíticos, o conjunto de ideias, valores e crenças que formam a Modernidade apresentam tensões e conflitos internos, os quais não impediram o surgimento de um pensamento homogêneo e a colonização de múltiplos interesses sociais locais pela satisfação dos interesses econômicos globais. Em seguida, abordam-se os efeitos da adoção desse projeto na América Latina, marcado pela dominação direta dos colonizadores europeus, extermínio dos povos originários e sucessivos governos autoritários, emergindo práticas educativas que impedem o diálogo com o conhecimento local e a formação de cidadãos participativos. Por meio de uma abordagem qualitativa e revisão de literatura, é possível identificar que a EDH na América Latina se fundamenta na reflexão social crítica, que tem raízes nos preceitos da educação popular e movimentos sociais pró-democráticos, que buscam a ampliação da participação política popular. É possível concluir que o diálogo e a democracia são a um só tempo pré-condição e fim da prática da educação comprometida com a emancipação humana e a participação inclusiva. O desafio à manutenção de um programa permanente de EDH é a neutralização ou esvaziamento por interesses econômicos, antidemocráticos e de negação dos saberes locais.
La educación en derechos humanos en América Latina: bases para una práctica educativa democrática
El presente trabajo busca comprender los fundamentos de la Educación en Derechos Humanos (EDH) en América Latina, identificando las posibles rupturas y continuidades con el proyecto social perfilado en la Modernidad. El artículo parte de la idea de que la sociabilidad moderna fue la base de las prácticas educativas latinoamericanas contemporáneas, cuyos elementos son la emancipación humana a través de la producción racional y universal del conocimiento, la economía capitalista y el estado centralizado. En el camino investigativo tomado, se entiende que por no ser monolíticos, el conjunto de ideas, valores y creencias que conforman la Modernidad presenta tensiones y conflictos internos, que no impidieron el surgimiento de un pensamiento homogéneo y la colonización de múltiples intereses sociales y culturales. para la satisfacción de los intereses económicos globales. Luego, se abordan los efectos de la adopción de este proyecto en América Latina, marcado por la dominación directa de los colonizadores europeos, el exterminio de los pueblos originarios y sucesivos gobiernos autoritarios, prácticas educativas emergentes que impiden el diálogo con los saberes locales y la formación de ciudadanos participativos. A través de un enfoque cualitativo y revisión de la literatura, es posible identificar que EDH en América Latina parte de una reflexión social crítica, que tiene sus raíces en los preceptos de la educación popular, defensora del diálogo con los saberes locales y movimientos sociales prodemocráticos. , que buscan ampliar la participación popular. Es posible concluir que el diálogo y la democracia son a la vez condición previa y fin de la práctica de una educación comprometida con la emancipación humana y la participación inclusiva, y es un desafío mantener un programa permanente que no se neutralice ni se vacíe.
Palabras clave: Educación en derechos humanos. América Latina. Fundamentos sociohistóricos. Democracia. Justicia social.
Human rights education in Latin America: foundations for a democratic educational practice
The present work seeks to understand the fundamentals of Human Rights Education (HRE) in Latin America, identifying the possible ruptures and continuities with the social project outlined in Modernity. The article starts from the idea that modern sociability formed the basis of contemporary Latin American educational practices, whose elements are human emancipation through the rational and universal production of knowledge, capitalist economy and centralized state. In the investigative path taken, it is understood that because they are not monolithic, the set of ideas, values and beliefs that make up Modernity present internal tensions and conflicts, which did not prevent the emergence of homogeneous thinking and the colonization of multiple social and cultural interests by the satisfaction of global economic interests. Then, the effects of the adoption of this project in Latin America are approached, marked by the direct domination of European colonizers, the extermination of the original peoples and successive authoritarian governments, emerging educational practices that prevent dialogue with local knowledge and the formation of participatory citizens. Through a qualitative approach and literature review, it is possible to identify that HRE in Latin America starts from a critical social reflection, which has its roots in the precepts of popular education and pro-democratic social movements, which seek to expand popular political participation. It is possible to conclude that dialogue and democracy are both a precondition and an end to the practice of education committed to human emancipation and inclusive participation. The challenge for maintaining a permanent HRE program is its neutralization or emptying due to economic, anti-democratic interests and the denial of local knowledge.
Keywords: Human rights education. Latin America. Socio-historical foundations. Democracy. Social justice.
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