ESTADO DE EXCEÇÃO E GOLPE DE ESTADO, 1964: o Autoritarismo de um Passado que Não Passou

Autores

  • Castor M. M. Bartolomé Ruiz Unisinos

DOI:

https://doi.org/10.5016/ridh.v12i01.292

Palavras-chave:

Golpe de estado, golpe de exceção, Autoritarismo, Memória histórica

Resumo

O golpe de Estado civil militar de 1964 no Brasil impôs o estado de exceção do regime autoritário de uma ditadura militar por mais de vinte anos. O próprio regime autoritário implantou sucessivas estratégias de esquecimento para que quando do retorno da democracia a barbárie da repressão do estado de exceção no golpe de Estado ficasse impune no esquecimento. A falta de políticas públicas de memória histórica de verdade justiça e reparação possibilitou que aquele tempo sombrio imposto pelo golpe de Estado permanecesse vigente em muitas instituições do Estado, em notáveis segmentos do exército e do corpos de segurança e no imaginário social de grupos da extrema direita política. Por isso aquele é um passado que não passou. Neste artigo apresentamos uma análise a respeito dos nexos que vinculam as estratégias dos fascismos com o estado de exceção no golpe de Estado de 1964 e com os novos movimentos autoritários de nosso presente. Entre essas estratégias do estado de exceção comuns aos fascismos, ao golpe militar e aos novos autoritarismos, apresentamos um estudo sobre a fabricação do inimigo como estratégia que os fascismos desenvolveram para tornar a política uma guerra de todos contra todos e que se tornou comum ao estado de exceção no golpe de Estado de 1964 e aos novos movimentos autoritários. Também analisamos a utilização estratégica do medo, desenvolvida pelos fascismos e presente no estado de exceção do golpe de Estado de 1964 e nos novos autoritarismos; o medo como técnica política para estabelecer um estado de tensão política extrema com o objetivo de dividir de modo bipolar a sociedade. Apresentamos uma análise de como a estratégia do medo permanece ativa nos novos autoritarismos através da fabricação de uma cultura do ódio, ou do ódio como arma política para criar um caos social extremo que possibilite adesão social ao estado de exceção de governos autoritários. Por fim, concluímos analisando a urgência das políticas de memória como antídoto necessário para neutralizar o passado autoritário que não passou

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGAMBEN, G. Homo sacer. O poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

AGAMBEN, Giorgio. Estado de excepción. Homo sacer II, I. Buenos Aires: Hidalgo, 2005.

BENJAMIN, W. Magia, arte e política. Brasiliense: São Paulo, 1987.

CRESTANI, L.A. O surgimento do inimigo interno: ditadura militar no Brasil (1964 a 1985)”. Revista História em Reflexão. Dourados: UFGD, v. 5, n. 9, 2011.

FILHO, J. C. O anjo da história e a memória das vítimas: o caso da ditadura militar no Brasil. Revista Veritas. Porto Alegre. PUC/RS. v. 53, n. 2, 2008.

GALLEGO, E. (org.). O ódio como política: a reinvenção da direita no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018.

HOBBES. Leviatã, ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. HUNTER, D. Is there a culture war? A dialogue on values and American public life. Washington: Pew Research Center, 2006.

HUNTER, D. A guerra cultural continua. Pol. Cult. Rev. Salvador. v. 15, n. 1, p. 22-62, jan/junho, 2022.

GASPARI, E. A ditadura derrotada. São Paulo: Cia das Letras, 2004

GASPARI, E. A ditadura escancarada. São Paulo: Cia das Letras, 2002.

KRISCHKE, J.; VIOLA, S. E. A.; PIRES, T.V. Em primeiro de abril de 1964: soltaram os demônios. Revista Ciências Sociais Unisinos. São Leopoldo. UNISINOS/RS. v. 48, n. 2, p.171-180, 2012.

KRISCHKE, J. “Operação Condor”. São Leopoldo: IHU-UNISINOS, 31/jan/2008.

LEBRUN, J. P. O futuro do ódio. Porto Alegre: CMC, 2008.

MICHELON, F. F.; FERREIRA, M. L. M. Cicatrizes da memória: fotografias de desaparecidos políticos em acervos de museus. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre. PUC/RS. v. 41, n.1, p.79-97, 2015.

NAPOLITANO, M. A imprensa e a construção da memória do regime militar brasileiro (1965-1985). Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre. PUC/RS. v. 43, n. 2, p. 346-366, 2017.

OLIVEIRA, C.F. Ipes e Ibad: a crise política da década de 60 e o advento do Golpe Civil-Militar de 1964. Revista História em Reflexão. Dourados: UFGD, v. 2, n. 3, 2008.

RODEGHERO, C. S. A anistia entre a memória e o esquecimento. Revista História Unisinos. São Leopoldo. UNISINOS/RS. v.13, n. 2, 2009.

RUIZ, C. B. R, (org.). Justiça e memória. Para uma crítica ética da violência. São Leopoldo: Unisinos, 2009.

RUIZ, C. B. R. A testemunha e a memória. O paradoxo do indizível da tortura e o testemunho do desaparecido. Revista Ciências Sociais Unisinos. São Leopoldo. UNISINOS/RS. v. 28, n. 2, p. 70- 83, 2012.

SCHMITT, C. Der begriff des politischen. Berlim: Duncker & Humblot, 2002.

VASCONCELOS, C. Escola Superior de Guerra e as raízes da repressão política aplicada a militares pós o golpe de 1964. Antíteses, Londrina, v.13, n. 25, p. 278-308, jan-jun. 2020.

VIANA, M. Estado Novo: Consolidando o Autoritarismo. São Paulo: Memorial de Resistência, s/d.

VIOLA, S. E. A.; PIRES, T. V. A memória de um período e a verdade da história. Revista Ciências Sociais Unisinos. São Leopoldo. UNISINOS/RS. v. 48, n. 2, p. 93-100, 2012.

Downloads

Publicado

01.07.2024

Como Citar

RUIZ, C. M. M. B. ESTADO DE EXCEÇÃO E GOLPE DE ESTADO, 1964: o Autoritarismo de um Passado que Não Passou. Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, Bauru, v. 12, n. 01, p. 101–120, 2024. DOI: 10.5016/ridh.v12i01.292. Disponível em: https://www2.faac.unesp.br/ridh3/index.php/ridh/article/view/292. Acesso em: 4 jul. 2024.

Edição

Seção

Dossiê