Contribuições da Educação Matemática para a cultura de respeito à dignidade humana
DOI:
https://doi.org/10.5016/ridh.v8i2.26Palavras-chave:
Educação matemática, Dignidade humana, Pandemia, Pós-pandemia, Formação sociopolíticaResumo
Este texto tem o propósito de apresentar as contribuições da Educação Matemática no desafio de construir uma cultura de respeito à dignidade humana, excepcionalmente, em tempo de pandemia e, permanentemente, no pós-pandemia. Utilizamos as produções de Ubiratan D’Ambrosio, de Ole Skovsmose e de Eric Gutstein com o argumento de que a Educação Matemática também deve se responsabilizar pela formação sociopolítica dos estudantes. Para tanto, iniciamos o texto, discorrendo sobre a concepção de dignidade humana como construção intersubjetiva, tendo como principal interlocutor Boaventura de Sousa Santos. Em nossa reflexão, enfatizamos que a falta de consciência sociopolítica dos direitos, bem como, de dignidade humana, resulta na banalização das situações de injustiças e de opressões vividas pela sociedade brasileira. E que as desigualdades sociais são problemas que impedem o enfrentamento da Covid-19. Na busca do lugar de fala da Educação Matemática diante deste cenário, reforçamos o Triângulo Primordial de Ubiratan D’Ambrosio compreendido como: um indivíduo, um outro indivíduo e, portanto, a sociedade, e a natureza como possibilidade filosófica e metodológica de atuação. Aliado a isso, o poder de formatação da sociedade de Skovsmose e o “ler” e “escrever” o mundo de Gutstein representam uma forma de inserção da matemática no desafio de construir uma sociedade que respeita a dignidade humana. Ciente deste papel, é preciso que a Educação Matemática reconheça seu potencial transformador primando pela formação de jovens amparada pelos princípios da humanização, da sustentabilidade e da paz.
Contributions of Mathematics Education to the culture of respect for human dignity
This text aims to present the contributions of Mathematics Education in the challenge of building a culture of respect for human dignity, exceptionally, in a time of pandemic and, permanently, in the post-pandemic. We use the productions of Ubiratan D’Ambrosio, Ole Skovsmose and Eric Gutstein with the argument that Mathematics Education should also be responsible for the socio-political formation of students. To this end, we begin the text, discussing the conception of human dignity as an intersubjective construction, having as main interlocutor Boa Ventura de Sousa Santos. In our reflection, we emphasize the lack of socio-political awareness of rights, as well as human dignity, results in trivialization of situations of injustice and oppression experienced by Brazilian society. And that social inequalities are problems that prevent Covid-19 from being faced. In the search for the place to speak of Mathematical Education in this scenario, we reinforce the Primordial Triangle of Ubiratan D’Ambrosio understood as: an individual, another individual and, therefore, society, and nature as a philosophical and methodological possibility of action. Allied to this, the formatting power of Skovsmose’s society and the “read” and “write” of Gutstein’s world represent a form of insertion of mathematics in the challenge of building a society that respects human dignity. Aware of this role, it is necessary that Mathematics Education recognizes its transforming potential, excelling in the formation of young people supported by the principles of humanization, sustainability and peace.
Keywords: Mathematics Education. Human dignity. Pandemic. Post-pandemic. Socio-political formation.
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