Fundamentos filosóficos da dignidade humana e dos direitos humanos na perspectiva ética de Adela Cortina
DOI:
https://doi.org/10.5016/ridh.v11i1.234Palavras-chave:
Adela Cortina, Dignidade humana, Direitos humanos, Ética da racionalidade humanizadaResumo
Resumo: A proclamação da Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, é um marco do século vinte e uma das maiores conquistas da humanidade. Ao afirmar no artigo 1º que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, a DUDH consagrou a liberdade, a igualdade, a fraternidade e a dignidade humana como referenciais da vida em comunidade. Tendo como objeto de estudo a possível relação entre ética, dignidade e direitos humanos, esta pesquisa estabelece como objetivo geral analisar alguns aspectos do entendimento sobre “dignidade humana e direitos humanos”, em Adela Cortina, e apresentar possíveis contribuições à reflexão sobre o tema na contemporaneidade. Pensar a dignidade humana e os direitos humanos – em uma perspectiva ética, autônoma, comunicativa, plural e emancipatória – é o desafio de Adela Cortina, filósofa espanhola, de matriz kantiana, que passou pela Escola de Frankfurt e foi influenciada por Jurgen Habermas e Karl-Otto Apel. A relação transversal entre ética, dignidade humana e direitos humanos é objeto do pensamento filosófico de Cortina. Na esteira da teoria discursiva aplicada à uma ética dialógica, Cortina argumenta que todo ser humano possui um valor intrínseco e inalienável: a dignidade. Cortina revela seu descontentamento com a extrapolação reducionista imposta pela razão instrumental e utiliza a teoria discursiva, que a permite ressignificar algumas problemáticas da ética kantiana e trazê-las para o contexto contemporâneo. Ela interpreta o projeto de emancipação da modernidade como inacabado e passível de ser completado e faz a opção por uma racionalidade humanizada que promova a emancipação do homem, baseada na máxima kantiana da “dignidade humana”. A ética da justiça deve ser complementada pela ética do cuidado. Cortina identifica na dimensão comunicativa a chave para a racionalização humanizante nas relações sociais e na reafirmação da dignidade humana. Seu projeto filosófico consiste em libertar a ética do relativismo e do subjetivismo e garantir sua racionalidade no âmbito prático da vida humana como opção teórica que melhor se adeque ao propósito de contribuir para uma sociedade mais justa. A proposta de Cortina inclui o reconhecimento recíproco dos direitos de natureza, pois a dignidade dos indivíduos encontra-se na raiz desses direitos que se denominam “naturais”. Para tanto, Cortina denuncia o excessivo formalismo, a ausência de articulação entre interioridade e exterioridade e a supremacia do jurídico sobre o moral. Este formalismo, associado às normas e à sua legitimação, conduz a uma secundarização dos elementos que integram a vida interior dos seres humanos. Para Cortina, não basta apenas fazer prevalecer o desejo de universalidade que atenda à premissa da inviolabilidade do ser, da dignidade e dos direitos humanos fundamentais. É necessário conectar interioridade e exterioridade, norma e vontade, autonomia e solidariedade e tirar da obscuridade os elementos morais que dão carne humana à racionalidade procedimental.
Fundamentos filosóficos de la dignidad humana y los derechos humanos en la perspectiva ética de Adela Cortina
Resumen: La proclamación de la Declaración Universal de los Derechos Humanos (DUDH) por parte de la Asamblea General de las Naciones Unidas, el 10 de diciembre de 1948, es un hito del siglo XX y uno de los mayores logros de la humanidad. Al afirmar en el artículo 1 que todos los seres humanos nacen libres e iguales en dignidad y derechos, la DUDH consagró la libertad, la igualdad, la fraternidad y la dignidad humana como referentes de la vida comunitaria. Teniendo como objeto de estudio la posible relación entre ética, dignidad y derechos humanos, esta investigación establece como objetivo general analizar algunos aspectos de la comprensión sobre “dignidad humana y derechos humanos”, en Adela Cortina, y presentar posibles aportes a la reflexión sobre el tema en la contemporaneidad. Pensar la dignidad humana y los derechos humanos desde una perspectiva ética, autónoma, comunicativa, plural y emancipatoria es el desafío de Adela Cortina, filósofa española kantiana, que estudió en la Escuela de Frankfurt y fue influenciada por Jurgen Habermas y Karl-Otto Apel . La relación transversal entre ética, dignidad humana y derechos humanos es el objeto del pensamiento filosófico de Cortina. En la estela de la teoría discursiva aplicada a la ética dialógica, Cortina sostiene que todo ser humano tiene un valor intrínseco e inalienable: la dignidad. Cortina revela su descontento con la extrapolación reduccionista que impone la razón instrumental y utiliza la teoría discursiva, lo que le permite replantear algunas cuestiones de la ética kantiana y llevarlas al contexto contemporáneo. Interpreta el proyecto emancipador de la modernidad como inacabado y susceptible de ser completado y opta por una racionalidad humanizada que promueva la emancipación del hombre, basada en la máxima kantiana de la “dignidad humana”. La ética de la justicia debe complementarse con la ética del cuidado. Cortina identifica en la dimensión comunicativa la clave para la racionalización humanizadora de las relaciones sociales y la reafirmación de la dignidad humana. Su proyecto filosófico consiste en liberar a la ética del relativismo y el subjetivismo y garantizar su racionalidad en el ámbito práctico de la vida humana como opción teórica que mejor se ajusta al propósito de contribuir a una sociedad más justa. La propuesta de Cortina incluye el reconocimiento mutuo de los derechos de la naturaleza, ya que la dignidad de las personas está en la raíz de estos llamados derechos “naturales”. Con este fin, Cortina denuncia el exceso de formalismo, la falta de articulación entre interioridad y exterioridad, y la supremacía de lo jurídico sobre lo moral. Este formalismo, asociado a las normas y su legitimación, conduce a una relegación de los elementos que componen la vida interior de los seres humanos. Para Cortina, no basta con que prevalezca el anhelo de universalidad que responde a la premisa de la inviolabilidad del ser, la dignidad y los derechos humanos fundamentales. Es necesario conectar interioridad y exterioridad, norma y voluntad, autonomía y solidaridad y sacar de la oscuridad los elementos morales que dan carne humana a la racionalidad procedimental.
Palabras clave: Adela Cortina. Dignidad humana. Derechos humanos. Ética de la Racionalidad Humanizada.
Philosophical foundations of human dignity and human rights from the ethical perspective of Adela Cortina
Abstract: The proclamation of the Universal Declaration of Human Rights (UDHR) by the General Assembly of the United Nations, on December 10, 1948, is a milestone of the twentieth century and one of the greatest achievements of humanity. By stating in Article 1 that all human beings are born free and equal in dignity and rights, the UDHR enshrined freedom, equality, fraternity and human dignity as references for community life. Having as object of study the possible relationship between ethics, dignity and human rights, this research establishes as a general objective to analyze some aspects of the understanding about “human dignity and human rights”, in Adela Cortina, and to present possible contributions to the reflection on the theme in the contemporaneity. Thinking about human dignity and human rights from an ethical, autonomous, communicative, plural and emancipatory perspective is the challenge of Adela Cortina, a Spanish philosopher who was originally a follower of Kantian thought. She studied at the Frankfurt School and was influenced by Jurgen Habermas and Karl-Otto Apel. The transversal relationship between ethics, human dignity and human rights is the object of Cortina’s philosophical thought. In the wake of discursive theory applied to dialogic ethics, Cortina argues that every human being has an intrinsic and inalienable value: dignity. Cortina reveals her dissatisfaction with the reductionist extrapolation imposed by instrumental reason and uses discursive theory, which allows her to reframe some issues of Kantian ethics and bring them to the contemporary context. She interprets the emancipation project of modernity as unfinished and capable of being completed and makes the option for a humanized rationality that promotes the emancipation of man, based on the Kantian maxim of “human dignity”. The ethics of justice must be complemented by the ethics of care. Cortina identifies the key to the humanizing rationalization of social relations and the reaffirmation of human dignity in the communicative dimension. Cortina’s philosophical project consists of freeing ethics from relativism and subjectivism and guaranteeing its rationality in the practical scope of human life as a theoretical option that best fits the purpose of contributing to a more just society. Cortina’s proposal includes the mutual recognition of the rights of nature, as the dignity of individuals is at the root of these so-called “natural” rights. To this end, Cortina denounces excessive formalism, the lack of articulation between interiority and exteriority, and the supremacy of the juridical over the moral. This formalism, associated with norms and their legitimation, leads to a relegation of the elements that make up the inner life of human beings. For Cortina, it is not enough just to prevail the desire for universality that meets the premise of the inviolability of being, dignity and fundamental human rights. It is necessary to connect interiority and exteriority, norm and will, autonomy and solidarity and bring out of obscurity the moral elements that give human flesh to procedural rationality.
Keywords: Adela Cortina. Human dignity. Human rights. Ethics of humanized rationality.
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