A cidadania na primeira página


Kátia Viviane da Silva Vanzini


O tema cidadania há muito tem uma atenção especial de emissoras de televisão, jornais, rádios, sites e outros veículos de comunicação, que reservam parte de seus espaços para debater a questão.

Uma análise da primeira página das edições de 15 de maio de 2011 dos dois principais jornais da cidade de Bauru indica a presença do tema.

No Bom Dia, dos nove títulos apresentados, dois dizem respeito a direitos e deveres que podem influenciar, direta ou indiretamente, a efetivação da cidadania. No Jornal da Cidade, das 13 matérias, oito se referem a direitos e deveres, ou práticas de crimes e legislação.

No Bom Dia, a matéria “Pelo direito de amamentar em público” ocupa duas páginas. Uma personagem discorre sobre as dificuldades em amamentar o primeiro filho sem sofrer constrangimentos e sua decisão de superá-los com o segundo filho. Existe também a contextualização sobre o que motivou a reportagem, são apresentados os benefícios da amamentação e entrevistas destacando a importância da prática. Um pequeno quadro informa que o Ministério da Saúde recomenda a instalação de salas de apoio à amamentação em empresas e órgãos públicos.

Embora a legislação brasileira seja uma das mais avançadas na proteção ao aleitamento materno, não há menções no jornal sobre Constituição Federal, CLT ou Estatuto da Criança e do Adolescente que contemplem o direito em questão.

No Jornal da Cidade, a matéria “Homem tenta matar adolescente em motel” se inicia de forma curiosa: “Era para ser mais uma noite de amor”. O repórter descreve os acontecimentos, partindo da tentativa de homicídio contra a adolescente, com versões da vítima, do acusado e da autoridade policial. Há a reconstituição sobre como os dois se conheceram, o momento do crime, culminando numa perseguição policial ao acusado, que é autuado por tentativa de homicídio por motivo fútil e traição. Não há menção se o suspeito poderá responder pelo crime de corrupção de menores, já que a vítima tem entre 14 e18 anos.

O jornal poderia apresentar, por exemplo, um quadro sobre o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (18 de maio); esclarecer os principais tipos de crimes praticados; o que fazer; como denunciar e como prevenir.

Como aborda Vicente (2010), a comunicação local é uma ferramenta destinada a (re)criar construções voltadas para resgatar o que ele chama de “dinâmicas alinhadas com a cidadania” (VICENTE, 2010, p. 73)[1]. Portanto, os jornais locais, aproveitando o espaço que a mídia nacional não consegue atingir, devido à sua generalidade e distanciamento, poderiam utilizar temas como os apresentados acima para promover ações efetivas de garantia dos direitos humanos.

A informação é inerente à cidadania, mas só será efetivada quando acompanhada de conteúdo que realmente oriente o leitor e não promova, ao contrário, a sua desinformação.



[1] VICENTE, Maximiliano Martin. Comunicação local e cidadania. In: ______, ROTHBERG, Danilo. (Org.) Meios de comunicação e cidadania. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010, p. 59 – 80.