Mariane Bovoloni
Em 19 de abril deste ano, Fidel Castro, ex-presidente de Cuba e líder da Revolução Cubana, renunciou à liderança do Partido Comunista. No mesmo dia, os meios de comunicação divulgaram o fato com diferentes enquadramentos.
Na Carta Capital, o fato recebeu pouco destaque. Sua matéria informa a desistência de Fidel da liderança do Partido Comunista após ocupar o cargo durante 46 anos. Não há informações sobre o motivo da renúncia no texto, que também cita que o Comitê Central do Partido foi eleito no dia anterior, mas não traz detalhes.
Na matéria do jornal O Estado de S. Paulo, o fato também não ganhou muito destaque, mas há informações adicionais: Fidel teria se excluído da lista de candidatos ao Comitê Central “devido a sua idade e saúde”. O irmão Raul Castro seria o suposto substituto, depois de assumir a Presidência da República em 2008. No jornal, destaca-se uma imagem de Fidel, com expressão séria e pensativa, vestindo o tradicional uniforme militar verde-oliva e boina.
Na Folha de S. Paulo, o enfoque é diferente. A matéria informa José Ramón Machado assumira o posto de segundo secretário do Partido e o cargo de vice-presidente. Ele teria lutado nas guerrilhas da Revolução Cubana. No entanto, a decisão do partido teria decepcionado aqueles que esperavam alguém “com um perfil mais jovem e atual em meio às reformas no país”. A entrega do cargo de Fidel a Raul é confirmada.
A matéria da Folha traz detalhes que demonstram o apreço dos presentes no sexto Congresso do Partido a Fidel, que teria prestigiado o evento, “levando muitos dos presentes às lágrimas”. Fidel teria sido recebido “com uma longa ovação e vivas por parte dos mil delegados presentes”. O texto contou com imagens de Fidel com expressão debilitada.
A Folha cita que o sexto congresso teria o objetivo de eleger a nova cúpula e discutir medidas econômicas para “atualizar o sistema socialista adotado pela ilha”. Fidel consideraria que deveria haver mudanças, mas sempre reafirmando o socialismo e considerando o capitalismo um sistema que “fomenta e promove os instintos egoístas do ser humano”.
Já para a revista Veja, segundo o título da matéria, “Cuba finalmente enxergou o que não queria ver: o modelo socialista fracassou e precisa ser retificado logo no país”. A aprovação de reformas políticas e econômicas e a renúncia de Fidel Castro seriam indícios de que o sistema socialista cubano estava ultrapassado. Tais acontecimentos seriam vistos com “esperança e otimismo pela população do país e pelo mundo”. Inclusive, a China teria manifestado seu apoio às mudanças.
A revista cita algumas das mudanças que seriam realizadas no país e as considera “ousadas”. Destaca aquela que limitaria em dois mandatos de cinco anos os “altos cargos políticos”. Mas enfrentar o capitalismo seria “um difícil desafio na época bárbara das sociedades de consumo”.
Na Agência Carta Maior, houve apenas a publicação da carta de renúncia escrita por Fidel, em que ele comenta as reformas e narra aspectos de sua trajetória à frente do Partido.
Notamos diferentes enquadramentos sobre a renúncia de Fidel Castro. Carta Capital e o jornal O Estado de S. Paulo dedicaram pouco espaço ao assunto. Por ser novamente Raul Castro a assumir o cargo, desta vez como primeiro secretário do Partido, a renúncia é vista como uma continuidade, e não como algo que indique mudanças no país. As reformas discutidas no sexto Congresso sequer foram citadas.
Diferentemente, a Folha cita as reformas, mas não traz detalhes. A abordagem é menos crítica, tanto pelas fotos utilizadas quanto por informar a reação do público ao se deparar com a notícia da renúncia de Fidel.
A Veja enfoca o “fracasso” do sistema socialista e as possíveis mudanças que estariam por ocorrer no país. A matéria é crítica e considera que o socialismo deve se modificar, ainda que Fidel não goste do capitalismo.
A Carta Maior assume uma postura de defesa de Fidel, mostrando-o como um exemplo a ser seguido. Não há matéria, apenas a carta de renúncia na íntegra.
Há questões não exploradas em nenhuma das abordagens, como as possíveis consequências da gestão de Raul Castro e a importância de reformas políticas e econômicas. Nenhuma das matérias trouxe fontes. Os textos se basearam na carta de Fidel e em agências cubanas de notícias.