Teimosia faz mal à saúde, segundo revista


Alexandre Lopes

Jéssica de Cássia Rossi


Entre as estratégias existentes na área de saúde pública, a vacinação é uma das formas mais eficazes para a prevenção de doenças. No caso do Brasil, é uma medida adotada desde a década de 1970, principalmente em crianças, e tem diminuído a incidência de diversas doenças. Contudo, os nascidos antes de 1970 nem sempre foram imunizados contra doenças como sarampo e rubéola quando crianças, e hoje são o grupo que mais corre risco de contraí-las quando viajam para países contaminados (o Brasil já as erradicou). Tal situação pode ser confirmada pela incidência de sarampo, contraído em outros países, pela população adulta do Brasil em 2010: foram 73 casos. Devido a isso, o Ministério da Saúde tomou a iniciativa de vacinar pessoas adultas que irão viajar para a Europa e para os Estados Unidos neste ano.

Em sua edição de 13 de abril de 2011, a revista Veja publicou a matéria Maiores e Vacinados, da jornalista Laura Ming, enquadrando a vacinação como medida importante e eficaz para a prevenção e erradicação de doenças não só em crianças, mas também em adultos no país. A matéria considera que o Brasil tem cumprido, de modo adequado, a vacinação em crianças nas últimas décadas. “Foi em 1973 que o governo estabeleceu um programa nacional de imunização, com um calendário bem definido”, segundo a Veja, que alerta para a situação daqueles que tinham mais de 10 anos na década de 1970. Para confirmar o risco que essas doenças representam em adultos, a revista enquadra as consequências do sarampo como graves: “O sarampo comporta riscos razoáveis, especialmente em adultos. Pode resultar em pneumonia e encefalite, entre outras complicações”. É uma forma de a reportagem chamar a atenção das pessoas adultas para a importância da vacinação.

O enquadramento da situação pela revista como um caso sério seria uma forma de convencer os adultos de que tomar vacina não é apenas para crianças: “Assim como o sarampo, outras doenças associadas à infância, como a caxumba e a rubéola, também começam a assumir outras características de males da idade adulta. Ou seja, manter a vacinação em dia deixou de ser recomendável apenas para crianças. (…) Hoje, os adultos contam com uma ‘folhinha e vacinação’ só para eles”. E ainda a Veja usa, por meio de citação indireta, a fala de especialistas para confirmar esse enquadramento: “Os infectologistas e imunologistas recomendam que homens e mulheres sejam imunizados contra nove doenças [hepatite A, hepatite B, difteria, tétano, caxumba, rubéola, sarampo, gripe e pneumonia]”.

Para a pessoa adulta é mais difícil adotar determinados comportamentos, porque ela já tem seus valores e suas opiniões formadas, diferentemente de uma criança. Convencer um adulto a se vacinar talvez seja o principal desafio para erradicar as doenças como sarampo, rubéola e caxumba. O enquadramento da vacinação em adultos como algo importante é uma estratégia adotada pela revista Veja para enfrentar esse desafio. A revista reconhece a teimosia de uma pessoa adulta, ao dizer que ela só procura se vacinar depois que passou por uma situação de risco. Por esse enquadramento, pode-se considerar que a teimosia de uma pessoa adulta “faz mal à saúde publica do Brasil”.