Adriana Donini
Bruno Sampaio Garrido
Jéssica de Cássia Rossi
Em outubro de 2010, o Jornal da Cultura estreou um novo formato. A produção passou a ser apresentada por Maria Cristina Poli e contar com a participação de debatedores, como sociólogos, escritores e professores universitários, que comentam reportagens exibidas em diversas áreas, como política, economia, meio ambiente e cultura.
Entre os quadros contemplados na reestruturação do telejornal está o Jornal da Cultura Explica que, segundo consta no site da emissora, consiste em “uma espécie de abc da notícia, em que serão traduzidos para o público termos utilizados no cotidiano, mas que não são compreendidos pela maioria da população”.
Então, geralmente, há explicação mais detalhada sobre determinado assunto que integre o telejornal, não seja de conhecimento do público em geral e possua relevância social. Os vídeos tem duração média de 1’30”. Assim, termos de diversas áreas do conhecimento são contemplados por esse quadro. Entre as abordagens já realizadas, estiveram esclarecimentos a respeito do funcionamento do Senado, sobre homeopatia, Previdência Social, Produto Interno Bruto, racismo e função do Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
Por meio de uma didática que abrange ilustrações, descrições e termos comparativos, se procura tornar os assuntos mais compreensíveis.
Um exemplo de vídeo veiculado pelo Jornal da Cultura Explica foi sobre crédito de carbono. Para procurar elucidar esse tema, inicialmente a apresentadora do telejornal apresentou uma definição geral sobre o assunto que se deu da seguinte maneira: “Crédito de carbono é um mecanismo criado pra ajudar os países desenvolvidos a cumprirem metas ambientais”.
Em seguida, foram expostas formas de geração de créditos de carbono, sendo citados, como exemplo, o reflorestamento, adoção de energias mais limpas (não esclarecidas) e a reciclagem de lixo.
Quanto à explicação da quantidade de gás carbônico necessária para que se tenha um crédito, a opção utilizada foi apresentar oralmente essa informação e, na tela, mostrar por escrito “Cada tonelada de CO2 = 1 crédito de carbono”. Nesse caso, também foi dito como funciona, na prática, esse tipo de mercado. Para tal, o programa valeu-se de ilustrações como de bandeiras de dois países utilizados na exemplificação, símbolo de dinheiro, e realizou a seguinte explanação: “Uma empresa da Alemanha, por exemplo, deixa de cumprir a meta de redução de CO2, enquanto isso, aqui no Brasil, uma outra empresa transforma o gás do aterro sanitário em energia limpa, ou seja, contribui com a preservação do meio ambiente e, com isso, gera créditos. A empresa alemã, por sua vez, recorre à empresa brasileira e compra a quantidade de crédito de carbono correspondente ao estouro da meta estabelecida”.
O valor de cada crédito de carbono no Brasil também foi exposto sendo mostrado valor aproximado em reais.
Um outro vídeo enfocou o câmbio para explicar como ele funciona na economia global. A abordagem do assunto inicia-se com uma definição sobre o tema dada por Maria Cristina Poli: “Câmbio é o preço da moeda estrangeira, da troca das moedas entre países”. Após isso, são apresentados os tipos de câmbios existentes: flutuante e fixo. Comenta-se que o Brasil adota o câmbio flutuante, explicado por meio de termos econômicos como “oferta” e “demanda”. A definição sobre câmbio fixo não foi contemplada.
O vídeo mostra também a aplicabilidade do câmbio no dia a dia das pessoas: “Nesta quinta-feira, por exemplo, foi preciso quase R$ 1,70 para comprar 1 dólar”. Por essa aproximação, o quadro explica que o dólar está mais barato para os brasileiros devido à grande quantidade de moeda americana existente no país. A reportagem termina com o questionamento: “Afinal, isso é bom ou não para o Brasil?”. É uma pergunta que estabelece um gancho para a discussão que vem em seguida ao quadro e conta com a participação de um economista.
Vale ressaltar que, ao longo do vídeo, não foi utilizada ilustração ou descrição para explicar o assunto, apenas imagens de operações financeiras no mercado com cédulas da moeda brasileira e da americana.
Já em outro vídeo, o tema principal foi o recurso, instrumento jurídico utilizado para sobrestar uma decisão judicial, contestá-la ou modificá-la. O objetivo foi o de esclarecer o significado desse termo e seus contextos de uso, além de citar e explicar outros ligados a essa temática – no caso, embargo, apelação, agravo e trânsito em julgado. São termos que estão frequentemente presentes nos noticiários, mas pouco compreendidos.
Seguindo um estilo didático, o quadro descreve o caminho que um recurso pode percorrer até se chegar a uma decisão definitiva. Essa explicação é reforçada com o uso de recursos visuais, que mostram as instâncias competentes para julgá-lo, desde as varas estaduais até o Supremo Tribunal Federal.
Contudo, é importante destacar que, ao descrever a trajetória que um recurso pode seguir até seu desfecho, há uma ênfase em determinados elementos que passam a impressão de morosidade da justiça e, por que não, de ineficiência do sistema atual, tendo em vista a possibilidade de interposição de vários recursos contra uma decisão judicial e, consequentemente, no adiamento (ou mesmo a suspensão) de seus efeitos. Vejamos alguns exemplos: “… é a chamada brecha na lei que adia a aplicação de uma sentença…”; “De recurso em recurso, o processo pode sair de um fórum estadual, subir para um tribunal federal e ir parar em poderes ainda maiores…”; “Quando um advogado anuncia que vai recorrer da decisão, ele dá início a uma batalha que pode se arrastar por anos e anos”; “Uma pessoa, no Brasil, só é considerada culpada quando o processo transitar em julgado, ou seja, quando não cabe mais nenhum recurso”.
Essa foi uma alternativa encontrada pelo Jornal da Cultura, dentro dessa linha mais analítica e de esclarecimento, para ampliar a divulgação de conhecimento sobre temas que, apesar de já estarem de certa forma incorporados ao dia a dia da população e às reportagens e notícias veiculadas pela mídia, ainda não são compreendidos por muitas pessoas.
Embora essa simplificação esclareça alguns pontos e, em meio a essa tentativa de uma abordagem mais clara, surjam outros termos que não são especificados como deveriam, esse é um caso de divulgação científica que pode servir de estímulo para demais veículos de comunicação. É possível considerá-lo como um exemplo de possibilidade de reincorporar abordagens que tornem os conteúdos com linguagem mais acessível, diminuindo o ruído no processo de comunicação, atingindo, assim, um público mais amplo.