Os limites dos shows de realidade


Lucas Liboni Gandia


Que os reality shows já se consolidaram na programação televisiva brasileira, todo mundo sabe. Aliás, a cada ano surgem novos programas do gênero, nas mais variadas emissoras. O que tem impressionado, no entanto, são as estratégias utilizadas para ganhar mais audiência e chamar a atenção do público, que vão desde provas arriscadas ao apelo à gastronomia bizarra. Afinal, o público brasileiro realmente merece esse conteúdo?

No ano 2000, foi ao ar a primeira edição do programa No Limite, pela Rede Globo. Apresentado por Zeca Camargo, o reality ganhou destaque e se tornou sucesso no país, principalmente após uma das mais famosas provas da edição. Os participantes foram submetidos a um banquete um tanto exótico: ganhava quem mastigasse e engolisse a maior quantidade de olhos de cabra. Onze anos depois, os reality shows “aperfeiçoaram” suas táticas e têm exposto os participantes a situações cada vez mais escabrosas.

Em setembro de 2010, foi ao ar a estréia da segunda edição do Hipertensão, atração comandado  por Glenda Kozlowski. Desde o início, o reality foi definido como um programa constituído de provas de resistência. Quem suportasse todos os desafios sairia campeão e 500 mil reais mais rico. Mesmo com tantas polêmicas envolvendo os exageros a que os participantes eram submetidos, o Hipertensão não obteve o sucesso esperado e os competidores não permaneceram na mídia após o término da edição, como geralmente ocorre em reality shows.

Uma das provas do desgaste sofrido pelos programas desse segmento é o Big Brother Brasil. O maior reality da televisão brasileira já não apresenta o mesmo desempenho das edições anteriores. Dez anos após a chegada da atração no país, os índices de audiência comprovam que os telespectadores não a acompanham mais como antes. A atual temporada do BBB tem registrado média de 25,7 pontos de audiência, cerca de três pontos a menos que a edição anterior e dez que a sétima temporada. Os números têm indicado uma queda gradativa e irreversível ao longo dos anos.

Apesar da menor popularidade do programa em relação ao início da sua exibição no Brasil, o BBB continua sendo a atração mais lucrativa da Rede Globo. A atual edição conta com 16 anunciantes e, até o momento, já contou com cerca de 1209 ações de merchandising. A conseqüência direta de tanto patrocínio é o exagero de propagandas ao longo da programação, o que torna o reality uma constante exibição de marcas e produtos, abrindo espaço, assim, para o debate sobre os limites da publicidade na televisão brasileira.

Além disso, muitas outras discussões vêm à tona em função do Big Brother Brasil. A classificação indicativa do programa é uma delas. Atualmente, o BBB é indicado para telespectadores acima dos 12 anos de idade e, portanto, só pode ir ao ar após as 20 horas. É importante ressaltar que o Ministério da Justiça não tem permissão para punir as emissoras. Entretanto, caso suas determinações sejam descumpridas, os canais de televisão podem ser acionados pelo Ministério Público, multados e até mesmo terem as transmissões suspensas.

No caso do BBB, é comum o apelo à sexualidade e a exibição dos participantes em condições de embriaguez. Na briga pela audiência e pelo destaque na mídia brasileira, os confinados não se privam de situações degradantes, enquanto a edição do programa aproveita para ganhar repercussão e novos telespectadores.

Nesse caso, quando a classificação indicativa já não atende à demanda do bom senso, cabe aos pais zelarem por aquilo que seus filhos vêem. No entanto, as emissoras de televisão não podem abrir mão da responsabilidade de transmitir conteúdos adequados a cada horário. Assim, enquanto a fórmula do reality show continuar sendo explorada da mesma forma pelos canais de TV, o público deve continuar atuando como crítico daquilo a que ele mesmo assistirá.


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