STJ favorece igreja que apoiou Dilma com mídias


Mariane Bovoloni


Em março, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que o Ministério Público Estadual de São Paulo não pode requerer, diretamente ao poder judiciário dos Estados Unidos, a quebra do sigilo bancário de líderes da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Apenas o governo federal teria a prerrogativa de fazê-lo, segundo o Tratado de Assistência Legal Mútua entre Brasil e Estados Unidos. O Ministério Público Estadual de São Paulo investiga suspeitas de operações de lavagem de dinheiro conduzidas por membros da Iurd.

A decisão federal favorece a Iurd, que nas últimas eleições presidenciais não poupou esforços para apoiar a campanha de Dilma.

Até a década de 1970, raramente igrejas evangélicas brasileiras se envolviam com polí­tica. Sua participação se restringia a reivindicar verbas, principalmente, e atos simbólicos como nomeação de praças públicas. No entanto, conforme as denominações pentecostais foram se expandindo, passaram a apoiar e eleger candidatos próprios. Foi esse o caso da Igreja Universal do Reino de Deus, que iniciou seu efetivo envolvimento com política em 1986, elegendo um deputado federal para a Assembleia Nacional Constituinte.

E, para apoiar Dilma Rousseff, a Igreja Universal se utilizou de um dos seus principais meios de comunicação, a Folha Universal, lançada em 1992. A princípio, sua edição era mensal e, em 1995, tornou-se semanal. Em 1999, sua tiragem chegou a 1,5 milhões de exemplares. Em 2010, foram mais de 2,5 milhões.

Matérias da Folha Universal em outubro de 2010 abordaram temas polêmicos envolvendo Dilma, sempre em sua defesa, contra José Serra e, em uma matéria, também contra a Igreja Católica.

A primeira matéria publicada foi “Boato do mal”, na edição semanal de três a nove de outubro. Ela aborda a suposta declaração de Dilma a um jornal de Minas Gerais: “Nesta eleição, nem mesmo Cristo me tira essa vitória”.

Para a Folha Universal, a declaração foi explorada de maneira estratégica pela mídia, para jogar Dilma contra os eleitores evangélicos. Segundo a matéria, Dilma estaria sofrendo “calúnia e difamação” no “jogo sujo” em que a disputa eleitoral teria se transformado.

Assim como a primeira matéria, “Vítima de mentiras” abordou o mesmo tema na edição de 17 a 23 de outubro de 2010. Dilma seria vítima de calúnias que teriam como objetivo jogá-la contra os eleitores evangélicos. Dessa vez, uma mensagem teria se espalhado na internet afirmando que a candidata seria a favor do aborto, o que ela já teria desmentido em diversas ocasiões.

No jornal de 24 a 30 de outubro, houve outra matéria, “Na mão do clero”, mais extensa e com abordagem diferente das demais. Desta vez, o alvo principal foi a Igreja Católica que, por apoiar o candidato José Serra, estaria influenciando as eleições presidenciais. Isso constituiria uma afronta ao “aparato institucional da República” e um desrespeito à democracia.

A matéria também cita os dois milhões de panfletos, apreendidos pela Polícia Federal, que teriam sido encomendados por um bispo ligado à diocese de Guarulhos, São Paulo, e assinados por alguns dirigentes da Confederação de Bispos do Brasil (CNBB). A mensagem dos panfletos se destinaria a influenciar os fiéis católicos a votar em Serra.

O objetivo da Igreja Católica, segundo a matéria, seria mudar o foco das eleições, saindo dos programas de governo e abrangendo questões moralistas. Essa estratégia serviria para “ocupar a opinião pública”, porque Serra não possuiria planos de governo.

Mais um texto foi publicado na edição de 31 de outubro a seis de novembro: um artigo do senador pelo Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, político ligado à Igreja Universal, intitulado “Sete razões para votar em Dilma”. Os argumentos seriam ligados aos programas de governo, como a manutenção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), diminuição da desigualdade e aumento do número de empregos. Outros argumentos seriam que seu governo seria baseado no respeito às diferentes instituições religiosas e na liberdade de culto, além de respeito aos “valores cristãos de defesa da vida e da família”.

Os quatro textos aqui comentados se empenham na mesma ação: promover a candidatura de Dilma Rousseff e desqualificar seu principal opositor, José Serra. Sem pluralidade de versões, como determinam os princípios éticos do jornalismo, as matérias foram parciais e insuficientes. Faltam diversas informações, como programas de governo, estatísticas eleitorais, versões opostas. Podemos considerar que as matérias tiveram por fim não informar de maneira equilibrada sobre os assuntos, levando informações corretas aos seus leitores, mas unicamente incentivar o voto na então candidata Dilma Rousseff.


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