Lucas Liboni Gandia
Em 9 e 10 de novembro, a cidade de Brasília foi sede do Seminário Internacional “Comunicações eletrônicas e convergência de mídias”. A pauta do evento foi a discussão das experiências de regulação das comunicações em países como França, Estados Unidos e Reino Unido. A importância de discutir temas como esse se deve ao fato de que, antes mesmo do surgimento do jornalismo nos moldes como o concebemos hoje, as sociedades já se organizavam em torno das informações divulgadas e repercutidas pela população. É a partir dessa concepção que podemos acreditar que as coletividades urbanas contemporâneas são “centradas na mídia”, já que a maioria das decisões individuais é influenciada pela imprensa.
Com a evolução dos meios de comunicação, tornou-se inconcebível sequer pensar em uma sociedade sem informação, uma vez que, atualmente, as novidades chegam aos nossos olhos e ouvidos em frações de segundo. Juntamente com a inovação tecnológica, ganha força a participação do público enquanto produtor e, sobretudo, regulador dos conteúdos noticiados pela mídia. Trata-se do conceito de controle social, cada vez mais debatido por empresários e profissionais da comunicação.
Por meio do que se chama de controle social, a população ganha parcela de responsabilidade em relação ao que é produzido pela mídia noticiosa. Dessa forma, os indivíduos teriam poder de averiguar a qualidade e a pertinência dos materiais a serem divulgados pela imprensa. Para os defensores, essa forma de controlar a mídia é respaldada e embasada pelos princípios democráticos que regem nossa sociedade. Para os críticos, tal conceito pode ser prejudicial para as empresas de comunicação, já que constituiria uma espécie de controle de conteúdo. A participação do público configuraria uma forma de censura e cerceamento da liberdade dos veículos.
Os grupos comerciais de comunicação alegam que os consumidores de informação já possuem poder de controle sobre a produção midiática. A realidade, no entanto, é um pouco diferente. Os leitores, os telespectadores e os ouvintes não controlam a imprensa, pois apenas decidem se querem ou não consumir aquilo que é produzido. O fato de fechar as páginas de uma revista ou desligar o aparelho televisor ou de rádio não garante ao público o poder de influência no que futuramente será noticiado pelos veículos de comunicação.
As inovações tecnológicas características das sociedades modernas, no entanto, têm criado novas possibilidades para o fortalecimento do controle social. O surgimento de redes sociais como o twitter permite a atualização de dados a todo tempo, por qualquer indivíduo conectado a internet. Por meio de tal ferramenta, todos podem dar um grande furo de reportagem e antecipar o que os jornalistas profissionais só noticiarão posteriormente. Além disso, os blogs constituem uma importante ferramenta de livre expressão de idéias e opiniões, que também podem ser utilizados com facilidade por aqueles que acessam a rede.
Apesar de a internet possibilitar a livre produção de conteúdos noticiosos por qualquer um, ela ainda não garante a plena prática do controle social. No entanto, os novos aparatos tecnológicos têm caminhado nessa direção. A interatividade, por exemplo, pode se tornar uma ferramenta essencial para garantir a participação dos cidadãos na produção jornalística.
Por meio dos recursos interativos, torna-se possível selecionar determinado ângulo de imagem, participar de enquetes e conferir informações adicionais, entre outras inovações. A interatividade consiste um caminho inicial a ser seguido, uma vez que o controle social propriamente dito só será possível quando essas ferramentas permitirem a participação direta do público, de forma ampla e democrática, na seleção das matérias do dia e até mesmo dos enfoques a serem privilegiados.
A Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro de 2009 em Brasília, discutiu, entre outros tópicos, a importância do controle social na regulamentação dos meios de comunicação e na fiscalização da mídia. Após três dias de debate, cerca de 1,6 mil delegados representando empresas, movimentos sociais e o poder público aprovaram um relatório final com mais de 500 propostas, que serão encaminhadas para apreciação do Congresso Nacional. Entre as propostas aprovadas está a que prevê o controle social da mídia, com a participação popular em diversos processos, como no financiamento e na produção nacional.
Tal medida comprova que o próprio público tem sentido, cada vez mais, a necessidade de participar da produção noticiosa, com a finalidade de fomentar princípios como a ética e a pluralidade no jornalismo. Ao que tudo indica, ainda há muito a ser discutido sobre o assunto. Cabe ao cidadão brasileiro fazer valer seu direito e, principalmente, garantir que os próprios valores democráticos sejam mantidos e valorizados em nossa sociedade.