Lucas Liboni Gandia
Francisco Everardo Oliveira Silva. Esse é o nome do candidato a deputado federal pelo Partido da República (PR) com maior chance de vitória em São Paulo. Entretanto, são poucos os que o reconhecem dessa forma, uma vez que o apelido Tiririca já é conhecido pela população brasileira há muitos anos. Dono do bordão “Pior que tá não fica”, o candidato abre espaço para uma importante discussão: até que ponto famosos e esportistas são bem vindos na cena política?
Tiririca é apenas um das “celebridades” a disputar um cargo político. Nas eleições de 2010, o cantor Netinho de Paula disputa o senado paulista pelo Partido Comunista do Brasil. Segundo as últimas pesquisas, Tiririca chega a aparecer na primeira posição, o que o tornaria eleito dia 3 de outubro. A fama também tem sido utilizada por personalidades como o estilista Ronaldo Ésper (candidato a deputado federal em São Paulo pelo PTB), a funkeira Tati Quebra Barraco (candidata a deputada federal no Rio de Janeiro pelo Partido Trabalhista Cristão) e o ex-jogador de futebol Vampeta (candidato a deputado federal em São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro).
O “fenômeno Tiririca”, como vem sendo denominado nas eleições deste ano, deve trazer para os eleitores a consciência de que o candidato famoso, por si só, não é nem o problema e nem a solução para o país. Assim como um médico ou um professor podem se candidatar, por exemplo, um cantor também tem o direito de disputar um cargo político. No entanto, a escolha também deve ser feita de forma igualitária pelo eleitor. Pesquisar o histórico dos candidatos é uma importante etapa do processo eleitoral que deve ser realizada com qualquer um dos concorrentes, seja ele famoso ou não.
Tais constatações, no entanto, ficam perdidas no cenário político nacional. Enquanto muitos votam nos famosos por já conhecerem os candidatos, outros fazem desse tipo de situação uma oportunidade para satirizar a realidade da democracia brasileira. Depois da eleição do Rinoceronte Cacareco para o cargo de vereador de São Paulo, em 1958, com cerca de 100 mil votos, o chamado voto de protesto passou a ser utilizado com freqüência nas disputas eleitorais no país.
Quem lucra mais com o “show” das eleições são os partidos, já que, por meio das expressivas votações dos famosos, outros nomes das legendas e coligações garantem suas vitórias. Tal tendência na política nacional pôde ser observada claramente nas eleições de 2006, quando o cantor de forró Frank Aguiar e o estilista Clodovil Hernandes se elegeram à Câmara dos Deputados de São Paulo. Com quase meio milhão de votos, Clodovil carregou consigo dois parlamentares do PTC. O resultado é a procura cada vez maior dos partidos, principalmente os pequenos, por famosos, sejam cantores, atores ou atletas, já que tais personalidades têm garantido bons resultados nas disputas políticas.
Uma solução para o fim das candidaturas de famosos sem qualquer tipo de ligação com a política seria permitir a participação na disputa somente daqueles que estão filiados aos partidos há um determinado período pré-especificado. Enquanto o processo eleitoral brasileiro não sofre nenhum tipo de alteração, de modo a impedir a eleição de candidatos empurrados pelos votos na legenda ou coligação, cabe ao eleitor fazer a seleção de quem deve ou não ocupar os cargos políticos. Boas propostas são boas propostas. Candidatos com bons perfis e bons históricos são sempre as melhores opções de voto, sejam famosos ou não. Pesquisar com seriedade continua sendo a melhor alternativa.