O ambiente na ótica do Jornal Nacional


Juliana Santos

 

Apesar do desenvolvimento do jornalismo nas novas ferramentas tecnológicas, a forma mais comum do público adquirir informações ainda é através da televisão, por meio dos telejornais, nos quais com freqüência, no Brasil, não ocorre a devida contextualização dos fatos. Aqui verificamos o caso das edições do Jornal Nacional, da Rede Globo, veiculadas entre 27 de abril e 31 de julho, sobre o vazamento de petróleo no Golfo do México, nos Estados Unidos, em uma cobertura que se mostrou incompleta.

Detectado em 20 de abril, o vazamento de petróleo no Golfo do México foi considerado o maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos. No total, foram aproximadamente 4,9 milhões de barris de petróleo derramados.

Uma plataforma localizada no Golfo do México da empresa British Petroleum (BP) explodiu em 20 de abril e, após ficar dois dias em chamas, afundou. O vazamento começou a 80 km da costa. No entanto, a imprensa só foi informada quase uma semana após o ocorrido, no dia 26 de abril.

O Jornal Nacional noticiou o fato pela primeira vez na edição do dia 27 de abril, já prevendo o “prejuízo irreparável provocado por essa catástrofe ambiental”. E 14 das 18 edições seguintes apresentaram notícias relacionadas. Na segunda quinzena de maio, se passaram oito edições sem informações sobre o caso, que foi retomado somente no dia 26 daquele mês.

Inicialmente, foram noticiadas as primeiras tentativas da BP para a contenção do vazamento e as medidas adotadas pelo governo americano, com informações sobre a gravidade do ocorrido.

Algumas matérias trouxeram uma contextualização importante, como exemplos de outros vazamentos já ocorridos e suas conseqüências, como o caso do vazamento de petróleo do navio Exxon Valdez, no Alasca, que, mesmo após 21 anos, gera efeitos tóxicos sobre a fauna local. Outra edição examinou quais seriam os meios legais e tecnológicos para a solução de um eventual problema semelhante no Brasil.

Em 29 de maio, foi noticiado o fracasso da segunda tentativa de contenção do vazamento. A partir dessa data o número de matérias sobre o assunto foi diminuindo, com uma matéria em 7 de junho, e outra somente em 16 de junho. Deste dia até o fim de julho, as matérias sobre o assunto cessaram, e temas como a Copa do Mundo e o assassinato de uma ex-amante do goleiro Bruno ocuparam quase todo o espaço do telejornal de maior abrangência do país.

O JN buscou realizar uma cobertura pluralista do assunto, apresentando a opinião de especialistas, exemplos de casos semelhantes, pronunciamentos da BP e do governo americano.

Apesar de serem citados os prejuízos financeiros do desastre, os prejuízos ambientais não foram detalhados, nem as consequências de um acidente dessa proporção sobre a política do presidente Barack Obama. Também faltou uma apresentação clara sobre a empresa British Petroleum. Apesar do avanço do espaço que o meio ambiente conquistou dentro do jornalismo, ainda é necessário dedicar mais atenção a um tema com essa urgência.


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