O curso que o jornalista precisa


Raphael Bispo


Quando o jornalismo é manchete, é quase certo que a notícia é trágica. Já estamos superando a falta da necessidade de diploma para exercer a profissão, e cada um já tem sua própria piada para o caso em diversas oportunidades e necessidades. A bola da vez é um curso de jornalismo, e não é piada, infelizmente. É o curso de Jornalismo de Celebridades do Instituto de Gestão e Comunicação (IGEC), no Rio de Janeiro.

O novo curso de extensão da faculdade carioca nos foi apresentado pela Revista Piauí em um texto que deixa claro a sua ironia e posição. Afinal, a Piauí é lembrada pela extensão de seus textos, bem contrastante das notas de fofocas. Pois bem, a repórter Cristina Tardáguila foi atrás de quem criou o novo curso, Roberta Escansette, freela da Caras, que ensinará, por 80 horas e R$ 2.250, os 20 mandamentos do Jornalismo de Celebridades.

Na descrição do “Curso de Desenvolvimento Profissional”, no sítio do instituto, a primeira frase é: “Noticiar a vida dos famosos tem movimentado a indústria jornalística”. E agora, (movimentará também) a indústria do diploma. Elencados na estrutura do curso estão os seguintes pontos: Universo dos famosos; Dia a dia da redação; Coluna Social; Jornalismo na Web; e por último, não menos importante, A arte de ser paparazzi.

Além de movimentar a “indústria jornalística”, a jornalismo de celebridades ganha espaço na indústria de entreterimento, se é que nunca esteve lá. Essa vertente jornalística é assunto principal também da nova série da Rede Globo, A Vida Alheia. Nela, o primeiro episódio mostra que alto padrão de vida da dona da revista – que dá nome ao programa – é garantido pelas capas que expõe os artistas. Talvez, uma realidade. Talvez, uma crítica já que os atores da emissora são colocados em outro patamar pela concorrência do jornalismo de celebridades, que os chama de “artistas globais”. Talvez, uma crítica a quem sustenta essa indústria e compra as capas d’A Vida Alheia.

Por essas e outras, não dá para saber o quanto a ficção da série bate com a realidade de um jornalista do gênero. Por isso, na Piauí há alguns dos “20 mandamentos” elaborados por Roberta Escansette, é claro que não todos para não tirar a surpresa dos matriculados no curso. E da repórter que “descobriu a amante de Marcelo Silva quando ele ainda estava com Suzana Vieira” algumas dicas:

1) Não use o mesmo carro todos os dias;
2) não grude um carro no outro porque pode haver um acidente;
3) decore as placas dos famosos quando eles ainda estiverem na festa;
4) ande sempre com vidros recobertos por insulfilm;
5) só se aproxime com uma pergunta depois de ter feito a foto.

“E quando o famoso se chateia? ‘Mande flores!’, responde rápido. […] Quando Escansette publicou que Susana Vieira estava sendo trocada pela proto-célebre Fernanda Cunha, por exemplo, ela enviou um buquê à atriz, acompanhado de um cartãozinho assim: “Nós estamos do seu lado. Queremos a sua felicidade.’”

Infelimente, parece que, por enquanto, a procura pelo curso não tem sido muito grande. Nenhuma turma foi iniciada até agora. Talvez, a não-obrigatoriedade do diploma esteja desistimulando as inscrições no curso de Jornalismo de Celebridade. Não viram a renda mensal de R$ 5 mil da professora, qua ainda há de lucrar com as aulas, por suas notas e furos na revista Caras, muito acima do “piso oficial” do jornalista indicados por seu sindicato. Para este curso, não há pré-requisitos: um dos objetivos é instrumentalizar o público alvo a atuar na área. Sortudos, os que se matricularem levem suas maçãs à professora; os outros me ajudem a mandar flores à jornalista por sua contribuição à profissão.


Uma resposta para “O curso que o jornalista precisa”

  1. eu ajudo a mandar flores à jornalista! seria engraçado se não fosse trágico…

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