Paulo Pastor Monteiro de Carvalho
Com a proximidade das eleições e as diversas alianças políticas se formando – e se desfazendo –, o peso e o valor estratégico das pesquisas de intenção de voto ganham cada vez mais destaque. Prova disso é a constância com que elas aparecem nos jornais, rádios e canais de televisão – percentuais e diferentes simulações que atendem ao gosto de qualquer cliente, ou quase. Luis Fernando Verissimo, em tom de brincadeira, afirmou em uma crônica que as pesquisas tiram a graça do processo eleitoral. Difícil precisar se ele está certo ou não. Mas vale a pena pensar sobre o papel desempenhado por elas.
Uma demonstração de que a pesquisa eleitoral não é um mero indicador de quem, teoricamente, vai melhor, foram as reações dos dois principais partidos à última pesquisa da corrida eleitoral a presidência.
Enquanto os tucanos, apesar de preocupados com a aproximação de Dilma, avaliam como positiva a permanência de Serra na liderança e acreditam que, quando a campanha começar para valer, a experiência do candidato tucano tem tudo para garantir a vitória, os petistas acreditam que a arrancada de Dilma é só o começo e, quanto mais ela aparecer ao lado de Lula, mais sobe nas pesquisas.
Os mesmos números, interpretações contrárias, porém naturais. Olhar a pesquisa e relaxar com a vantagem ou se desesperar com índices negativos são reações imaturas, ainda mais para os dois partidos que polarizam a disputa presidencial há quase uma década. Afinal, o que vale mesmo é o dia da eleição. Como diria Lula, treino é treino e jogo é jogo.
Intenções e garantia de votos
Difícil é mensurar se o público também entende que é a hora do voto que vale. As entrevistas, que deveriam se limitar a ser um indicativo da intenção do voto, acabam sendo um dos elementos principais para se decidir o voto, mais até que o programa de governo do candidato.
O público, em geral, confia nos números, acredita que eles funcionam como um recorte fidedigno da realidade. Por isso, ao ver o seu preferido com 2%, pensam: “Ele não tem chance, vou votar em outro!” Não podemos, contudo, chegar ao exagero de dizer que as pesquisas decidem, sozinhas, uma eleição. Porém é interessante pensar na forma como elas influem no jogo político.
Cristovam Buarque, na eleição de 2006, foi o candidato monotemático, a educação era a resposta para tudo. Mesmo com muitos brasileiros – de discussão de boteco a cadeiras de universidade – concordando com o ex-ministro e apontando a baixa qualidade da educação como raiz de vários dos nossos problemas, ele não chegou nem aos 5% dos votos válidos na última eleição. Como explicar o fato dele ter recebido tão poucos votos, se o seu discurso batia com o de boa parte da população? É impossível não atribuir o fraco desempenho nas pesquisas à sensação, por parte do eleitor, de desperdiçar o seu voto ao escolher um candidato que marca um traço na intenção de voto.
Talvez fosse válida uma pesquisa que questionasse se a opinião de voto dos outros influi na sua, uma mais ousada questionaria se o entrevistado acredita nas pesquisas de opinião. Mas como ter certeza do resultado de alguma delas?
Se as intenções de voto fossem compreendidas como intenções, ao invés de garantia de votos, o eleitor compreenderia que é o momento no qual ele aperta o número do seu candidato na urna que se decide, de fato, a eleição. Os meios de comunicação deveriam expor essa verdade e não vender, como faz na maioria dos casos, as pesquisas como votos já ganhos.
Vai votar em quem? Paulo Pastor Monteiro de Carvalho pczinho@gmail.com |
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Com a proximidade das eleições e as diversas alianças políticas se formando – e se desfazendo –, o peso e o valor estratégico das pesquisas de intenção de voto ganham cada vez mais destaque. Prova disso é a constância com que elas aparecem nos jornais, rádios e canais de televisão – percentuais e diferentes simulações que atendem ao gosto de qualquer cliente, ou quase. Luis Fernando Verissimo, em tom de brincadeira, afirmou em uma crônica que as pesquisas tiram a graça do processo eleitoral. Difícil precisar se ele está certo ou não. Mas vale a pena pensar sobre o papel desempenhado por elas. Uma demonstração de que a pesquisa eleitoral não é um mero indicador de quem, teoricamente, vai melhor, foram as reações dos dois principais partidos à última pesquisa da corrida eleitoral a presidência. Enquanto os tucanos, apesar de preocupados com a aproximação de Dilma, avaliam como positiva a permanência de Serra na liderança e acreditam que, quando a campanha começar para valer, a experiência do candidato tucano tem tudo para garantir a vitória, os petistas acreditam que a arrancada de Dilma é só o começo e, quanto mais ela aparecer ao lado de Lula, mais sobe nas pesquisas. Os mesmos números, interpretações contrárias, porém naturais. Olhar a pesquisa e relaxar com a vantagem ou se desesperar com índices negativos são reações imaturas, ainda mais para os dois partidos que polarizam a disputa presidencial há quase uma década. Afinal, o que vale mesmo é o dia da eleição. Como diria Lula, treino é treino e jogo é jogo. Intenções e garantia de votos Difícil é mensurar se o público também entende que é a hora do voto que vale. As entrevistas, que deveriam se limitar a ser um indicativo da intenção do voto, acabam sendo um dos elementos principais para se decidir o voto, mais até que o programa de governo do candidato. O público, em geral, confia nos números, acredita que eles funcionam como um recorte fidedigno da realidade. Por isso, ao ver o seu preferido com 2%, pensam: “Ele não tem chance, vou votar em outro!” Não podemos, contudo, chegar ao exagero de dizer que as pesquisas decidem, sozinhas, uma eleição. Porém é interessante pensar na forma como elas influem no jogo político. Cristovam Buarque, na eleição de 2006, foi o candidato monotemático, a educação era a resposta para tudo. Mesmo com muitos brasileiros – de discussão de boteco a cadeiras de universidade – concordando com o ex-ministro e apontando a baixa qualidade da educação como raiz de vários dos nossos problemas, ele não chegou nem aos 5% dos votos válidos na última eleição. Como explicar o fato dele ter recebido tão poucos votos, se o seu discurso batia com o de boa parte da população? É impossível não atribuir o fraco desempenho nas pesquisas à sensação, por parte do eleitor, de desperdiçar o seu voto ao escolher um candidato que marca um traço na intenção de voto. Talvez fosse válida uma pesquisa que questionasse se a opinião de voto dos outros influi na sua, uma mais ousada questionaria se o entrevistado acredita nas pesquisas de opinião. Mas como ter certeza do resultado de alguma delas? Se as intenções de voto fossem compreendidas como intenções, ao invés de garantia de votos, o eleitor compreenderia que é o momento no qual ele aperta o número do seu candidato na urna que se decide, de fato, a eleição. Os meios de comunicação deveriam expor essa verdade e não vender, como faz na maioria dos casos, as pesquisas como votos já ganhos. |
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