Brasil é o segundo que mais confia na mídia


‖ ‖ ‖ Felipe Mateus ‖ ‖ ‖ 

 

Enquanto polarizações políticas fizeram com que a confiança nos meios de comunicação caísse em diversos países, o Brasil demonstra ir na contramão da tendência mundial e permanece como o segundo país que mais confia nas notícias veiculadas pelas mídias em geral. É o que mostra a sexta edição do Digital News Report, estudo divulgado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism. Cerca de 70 mil pessoas de 36 países foram entrevistadas entre o fim de janeiro e o início de fevereiro de 2017. Os resultados trazem indicadores importantes que dizem respeito à confiança do público nas notícias que circulam pelas mídias sociais, às formas de acesso e de consumo em diferentes plataformas e também ao financiamento das atividades jornalísticas. 

Apesar de pesquisas apontarem para uma forte dicotomia política no Brasil, expressa sobretudo nas mídias sociais, 60% dos brasileiros dizem confiar nas notícias a que têm acesso pelos meios de comunicação em geral. A mesma parcela também confia nas notícias que circulam pelas mídias sociais. Isso faz com que o país fique atrás apenas da Finlândia (62%) entre os que mais confiam nos meios de comunicação.

Outros países que também passam por polarizações políticas apresentam maiores níveis de desconfiança em relação às notícias tradicionais, ao passo que as disponibilizadas em espaços como o Facebook parecem mais seguras aos seus usuários. Nos Estados Unidos, onde as eleições de 2016 foram marcadas por acusações de que a disseminação de notícias falsas teria contribuído para a eleição de Donald Trump à presidência – episódio do qual o Facebook chegou a admitir a veracidade –, apenas 38% da população confia nos meios de comunicação, enquanto 53% acredita nas mídias sociais. Já no Reino Unido, o processo do Brexit e a consequente ascensão da conservadora Theresa May no Parlamento fizeram com que 7% dos britânicos deixassem de confiar nas instituições jornalísticas e dessem preferência aos próprios feeds.

Ainda que seja uma característica observada em vários países, a preferência pelas mídias sociais na seleção do que é ou não confiável na internet é a opção de apenas um quarto dos usuários das redes. Segundo a pesquisa, 54% dos entrevistados consomem notícias pelas mídias sociais, mas só 24% acredita que essas mídias conseguem separar os fatos das notícias falsas, enquanto 40% ainda diz confiar no trabalho desempenhado pelos meios de comunicação.

Polarização política e financiamento do jornalismo

A polarização política traz consequências no próprio financiamento das atividades jornalísticas. Uma análise do Digital News Report feita pelo Observatório Europeu de Jornalismo aponta uma tendência para o estímulo ao pagamento de assinaturas de sites e plataformas digitais justamente como uma forma de prevenir o consumo de notícias falsas. De acordo com a pesquisa, os que optam por assinaturas ainda são uma pequena parcela, apenas 13% dos entrevistados. Porém, o número de assinantes vem crescendo em determinados países e varia de acordo com a idade e inclinação política.

Em geral, a maior parte dos que pagam por notícias online têm menos de 35 anos e se declaram de esquerda. Nos Estados Unidos, o número de assinantes de 18 a 24 anos cresceu de 4% para 18% entre 2016 e 2017. Já os de 25 a 34, maior grupo de assinantes, foi de 8% para 20%. Em relação às afinidades político-ideológicas, 29% dos leitores de esquerda preferem pagar por conteúdos online, enquanto na direita apenas 11% optam por assinaturas.

O Brasil também se destaca na pesquisa quanto ao financiamento de conteúdos digitais. Dos 36 países analisados, estamos em 2º lugar entre os que optam por pagar pelas notícias online, com 22% de pagantes, atrás apenas da Noruega, com 26%. Na América Latina, estamos próximos do México, que tem 18% de assinantes, mas distantes da Argentina e do Chile, com 10% e 9% de pagantes, respectivamente.

Crescimento do mobile

A tecnologia utilizada para o consumo de notícias online varia também entre as regiões do globo. No comparativo entre países, observa-se que na América do Norte e Europa o computador é ainda o dispositivo favorito, quanto na Ásia e América Latina, o uso de smartphones tem destaque.

Apesar de o Facebook ser a mídia social mais utilizada para o consumo de notícias no mundo, uma tendência observada é o crescimento no uso de aplicativos de mensagens para o consumo de notícias em países emergentes da América Latina e Ásia, principalmente o WhatsApp. No Brasil, o aplicativo é utilizado por 46% dos entrevistados. O uso cresceu 7% em relação à última edição da pesquisa.

Compartilhamentos de notícias falsas

Os dados divulgados pela pesquisa são de grande importância para a o cenário global, principalmente em relação à prevenção e combate às notícias falsas. No Brasil, a importância é ainda maior considerando a polarização política do país e a proximidade das eleições de 2018. Segundo um monitoramento feito pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da Universidade de São Paulo, 12 milhões de pessoas compartilham notícias falsas sobre política no Brasil por meio das mídias sociais. Considerando o alcance desses compartilhamentos, são conteúdos que podem chegar a toda população brasileira.

Outra pesquisa, essa da Fundação Getúlio Vargas, identificou que softwares responsáveis por manipular debates na internet influenciaram no processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Constatações como essas já chegaram a estimular projetos de lei que criminalizam o uso de recursos digitais para interferir em debates políticos no Brasil. Porém, são propostas que demandam tanto iniciativa do poder público para estimular debates com a sociedade sobre o uso das mídias sociais, quanto conhecimento em relação ao que é ou não possível de ser regulado por meio de lei.

O Reuters Institute for the Study of Journalism é um instituto do Departamento de Políticas e Relações Internacionais da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Desde 2006, ele se dedica a analisar as tendências globais do jornalismo e unir pesquisas acadêmicas e práticas de mercado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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