Estudo analisa inserção de emissoras públicas na internet


‖ ‖ ‖ Augusto Junior ‖ ‖ ‖ 

 

Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos têm proporcionado à comunicação múltiplas oportunidades e experiências. Nesse cenário, as mídias tradicionais, como o impresso, o rádio e a televisão, se veem obrigadas a se reinventar.

Esses veículos procuram expandir suas ofertas, fornecendo conteúdos multimídia e interativos por meio de redes sociais, aplicativos e serviços de vídeo on demand, seja para serem acessados via computador, smartv, smartphone ou tablet.

Como os serviços públicos de mídia da Europa estão se adaptando a esse contexto marcado pelo crescimento das mídias digitais? Essa foi a pergunta feita pelo Reuters Institute for the Study of Journalism. Para respondê-la, a organização conduziu uma pesquisa com foco em emissoras que compõem o sistema público de comunicação da Finlândia, da França, da Alemanha, da Itália, da Polônia e do Reino Unido.

O estudo mostra que as emissoras desses países enfrentam desafios para divulgar seus conteúdos online. Os obstáculos são financeiros, principalmente onde foram adotadas medidas de austeridade, e políticos, já que grupos privados de comunicação e partidos têm questionado se compete à mídia pública oferecer serviços via aplicativos.

Essas são algumas das questões que limitam a inserção de emissoras públicas, que permanecem tendo como foco as transmissões para o rádio e TV, no âmbito online. No entanto, a pesquisa pontua que há experiências que têm se destacado. É o caso da britânica BBC e da finlandesa Yle.

Dispositivos móveis e redes sociais

Para se adaptar às novas demandas, a BBC criou, em 2010, seu primeiro aplicativo para dispositivos móveis. Por meio dele, pode-se ter acesso a notícias em geral e em diferentes formatos (texto, áudio e vídeos). A emissora conta ainda com um portal que, em 2015, ganhou uma nova estrutura para poder ser acessado via tablets e smartphones. A finlandesa Yle segue na mesma linha. Já no caso do sistema público alemão, por exemplo, representado pela ARD e ZDF, seus aplicativos estão ligados a programas de TV específicos. Além disso, há as pressões políticas e comerciais dificultando que as emissoras públicas da Alemanha desenvolvam seus aplicativos.

Quanto às redes sociais, para os seis países estudados é importante estar presente, principalmente, no Facebook, pois ele direciona os usuários ao website das emissoras. Entretanto, nesse ambiente, o grande fluxo de informações é um problema. Para Eric Scherer, diretor de futuras mídias da France Télévisions, entrevistado pela pesquisa, nas redes sociais pode-se “perder o controle sobre o processo de distribuição e, possivelmente, sobre a relação que temos com nosso público”. No entanto, “se não estivermos nessas mídias, corremos o risco de perder grande parte da audiência: jovens que não assistem à TV”.

A BBC e a Yle se destacam nesse âmbito, pois contam com equipes específicas para as redes sociais. Segundo a pesquisa, “outras organizações têm uma abordagem mais pontual em relação a isso, e até agora elas têm investido menos no desenvolvimento de um serviço público de notícias distribuído via mídias sociais”.

Desafios e função social

O estudo conclui que, embora haja esforços nos seis países, apenas a BBC e a Yle despontam em todos os aspectos verificados (organização, dispositivos móveis e redes sociais). O investimento em tecnologias e em profissionais especializados, bem como a integração entre as equipes de diferentes plataformas, são alguns dos fatores que contribuem para o sucesso das duas emissoras na área de mídias digitais. Em 2016, a BBC destinou 7% do seu orçamento à mídia online.

Inserir-se na esfera das novas mídias é uma tarefa mais desafiadora para a modalidade pública de comunicação em comparação com a privada. As emissoras públicas saem em desvantagem, pois, sobretudo, contam com recursos inferiores para investir no setor. Muitos canais de TV privados, por exemplo, já competem com o Netflix, pois oferecem vídeos on demand. A realidade do segmento público, como diagnosticado, é outra.

Verificar o atual estado e as possibilidades de sobrevivência de emissoras públicas na atual conjuntura midiática significa prezar por um bem da sociedade. Elas complementam os serviços de mídia comerciais e estatais. A essência desse modelo de radiodifusão é privilegiar o interesse coletivo a partir de abordagens plurais e que vejam o público como cidadãos, e não como consumidores. Para continuar cumprindo sua função, essas organizações precisam estar atentas aos novos hábitos do público. Como todos os veículos ameaçados pelos adventos tecnológicos, deve haver esforços para que o serviço público de rádio e TV se reinvente, explorando todo o potencial fornecido pelas novas mídias.