‖ ‖ ‖ Priscila Caldeira ‖ ‖ ‖
O estudo “Vozes silenciadas: a cobertura das manifestações de junho de 2013 nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo”, desenvolvido pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, apresenta uma análise descritiva e comparada da cobertura dos jornais no momento significativo de mobilização social, que reuniu multidões em diversas cidades e causou paralisações em grandes centros urbanos.
Organizada em seis capítulos e publicada em 2014, a pesquisa foi coordenada pelo professor Sivaldo Pereira da Silva, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Universidade de Brasília (UnB). Uma equipe de pesquisadores do Centro de Formação e Extensão em Comunicação, Democracia e Direitos Humanos também integrou o processo de coleta de dados e checagem de informações.
Com o objetivo de fornecer uma compreensão histórica do que significaram as manifestações de junho de 2013 e servir como registro da ação mediadora dos meios de comunicação no processo de manifestação social, o Intervozes analisou o modo como o tema e os atores foram tratados em três veículos de jornalismo online de abrangência nacional, com grande número de leitores: O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo.
Para isso, foi realizada a coleta dos links das matérias no período entre os dias 1° e 19 de junho, por meio da utilização da palavra-chave “protestos” no buscador de cada veículo. Foram feitas duas triagens para excluir os links repetidos e matérias fora do recorte temporal e textos opinativos, e a adequação quanto ao tema em análise e o formato do texto notícia. Assim, o corpus foi de 964 matérias.
A coleta de dados e indicadores consistiu na leitura de cada texto e preenchimento de uma planilha eletrônica no software de análises estatísticas SPSS, composta por três categorias: informações de caracterização geral da amostra, indicadores qualitativos e indicadores normativos.
A pesquisa apresenta linguagem acessível e fundamentada em bibliografias sobre as manifestações de junho, demonstrando por meio do cruzamento dos dados a preocupação ou não dos veículos objeto de análise em se fazer um jornalismo de qualidade.
No estudo, foi realizada a mediação da fala de três categorias: (1) manifestantes, organizações civis, movimentos sociais e sindicatos de trabalhadores, (2) autoridades governamentais, policiamento e políticos; (3) outros atores não envolvidos diretamente nos protestos, como morador, comerciante, transeunte e especialistas.
Tabulados em gráficos e planilhas, os dados colocam em evidência diversas fragilidades do jornalismo brasileiro atual, como equívocos textuais ou técnicos, mas também violações éticas e impactos políticos na cobertura das manifestações. Um exemplo foi o cumprimento do princípio do contraditório em apenas 23% das matérias. E, em 48% delas que trazem acusações, os manifestantes foram os atores mais acusados, sem serem ouvidos.
A atenção dada a manifestações coletivas, mesmo que diversificadas, assume relevância pelo fato de serem movidas pela resistência e insatisfação ao sistema hegemônico, à medida que elucida situações específicas de luta e negociação. Nesse sentido, caberia ao jornalismo dar voz aos atores e não silenciá-los.