‖ ‖ ‖ Nádia Pirillo ‖ ‖ ‖
O programa Mídias na Educação, do Ministério da Educação (MEC), abriu edital para seleção de professores que queiram se especializar no uso de mídias na educação. Na cidade de São Paulo, no primeiro semestre de 2014, são oferecidas 620 vagas para o programa, nas modalidades de especialização e aperfeiçoamento. O programa abrange todo o Brasil e, para saber sobre as vagas oferecidas em outros municípios, basta entrar em contato com as instituições participantes do programa, disponíveis aqui.
Criado em 2005, o Mídias na Educação proporciona formação para o uso das diferentes tecnologias de informação e comunicação (mídia impressa, rádio, televisão e internet) em sala de aula. O programa foi concebido pela Secretaria de Educação a Distância (Seed), em parceria com secretarias de educação e universidades públicas, que se tornam responsáveis por produção, oferta e certificação dos módulos e pela seleção e capacitação de tutores.
O programa se realiza a distância com o auxílio da plataforma Moodle, executada no ambiente de aprendizagem virtual e-ProInfo, e é dividido em três ciclos: básico, intermediário e avançado. Entre os objetivos do programa, estão: destacar as linguagens de comunicação mais adequadas aos processos de ensino e aprendizagem; incorporar programas da antiga SEED, das instituições de ensino superior e das secretarias estaduais e municipais de educação no projeto político-pedagógico da escola; e desenvolver estratégias de autoria e de formação do leitor crítico nas diferentes mídias.
As mídias na educação
O uso de mídias na educação está presente na pauta de discussões de muitas secretarias de educação brasileiras, que enxergam nos meios de comunicação e nas tecnologias atuais uma forma de levar a tal ‘modernidade’ para a sala de aula. Porém, sem um planejamento sobre seu uso e sem um preparo adequado dos professores, as mídias acabam entrando nas escolas de forma muito técnica e pouco crítica. Ou seja, elas se tornam coadjuvantes no ensino das disciplinas tradicionais do currículo, quando poderiam ser aproveitadas como objeto de estudos, levando ao despertar crítico, criativo e reflexivo dos alunos acerca dos meios de comunicação.
A questão principal que surge é: como os professores estão sendo preparados para utilizar as mídias? Será que os conteúdos e as sugestões de trabalho com as mídias oferecidas pelo programa estão em consonância com o que se espera de uma educação para as mídias? Os resultados parciais de minha pesquisa de mestrado, advindos da análise do ciclo básico do programa, mostram que o Mídias na Educação propõe levar os meios de comunicação para uso e discussão dentro da escola ainda de forma pouco aprofundada, tendo em vista todas as potencialidades de ensino que podem emanar das mídias. Em outras palavras, os conteúdos e atividades do programa, em seu primeiro ciclo, pouco orientam algumas questões importantes, como as condições de funcionamento das mídias e as associações semânticas, linguísticas e sintagmáticas utilizadas nos diferentes meios. Faltam, também, sugestões de atividades de produção, que trazem o conhecimento necessário aos professores e alunos para descontruir sintaxes e recombiná-las, criando novas formas de trabalho utilizando as mídias.
Além disso, em alguns momentos, os módulos sugerem pensar nas mídias como plataformas de apoio ao ensino ou como suportes para que a administração escolar possa dinamizar a sua gestão. É importante ressaltar que levar a inovação às escolas, através das tecnologias, pode ser considerado válido por si só. Mas um programa de educação para a mídia deve explorar a riqueza que as novas mídias possuem como objeto de estudos e não pensá-las apenas como instrumentos de apoio à aprendizagem.
O primeiro ciclo do programa Mídias na Educação ainda não prepara, em sua maior parte, os professores para uma educação midiática baseada no desenvolvimento de um pensamento crítico e reflexivo sobre os meios de comunicação. Isso significa que o primeiro momento do curso sugere o trabalho do professor com as mídias, mas nota-se uma falta de orientações de conteúdo e sugestões de trabalho que auxiliem o desenvolvimento de capacidades de metalinguagem, localização de informações, interpretação e julgamento de mensagens e signos, análise, avaliação, criação e recombinação de sintaxes para gerar novas mensagens midiáticas, apenas para citar algumas das capacidades que podem ser trabalhadas em uma abordagem de preparação para uso de mídias.
Uma possível justificativa para esses resultados pode estar no próprio ciclo, que é considerado básico e, nesse sentido, possuiria uma abordagem mais superficial acerca do uso das mídias na educação. Porém, nesse caso, espera-se que nos ciclos seguintes, intermediário e avançado, a perspectiva da preparação seja identificada na maioria das etapas. Os outros dois ciclos do programa Mídias na Educação abordam temas mais complexos da área de comunicação, como o uso de ferramentas de interatividade, a convergência de mídias e os aspectos políticos dos meios de comunicação. A pesquisa está em andamento e os resultados finais serão obtidos no segundo semestre deste ano.