‖ ‖ ‖ Lucas Liboni Gandia ‖ ‖ ‖
A liberdade de expressão é uma das grandes conquistas da sociedade democrática. A imprensa só pode exercer suas funções quando atua em um contexto livre, onde jornalistas e demais profissionais de comunicação podem realizar suas atividades de forma plena.
A história é polêmica e já rendeu muita discussão, seja na mesa de bar entre um grupo de amigos, seja em uma sala de aula de jornalismo. Afinal, Rafinha Bastos, do CQC, é culpado ou inocente?
O episódio começou no dia 19 de setembro, quando no programa da TV Bandeirantes o apresentador Marcelo Tas comentou que a cantora Wanessa Camargo estava “bonitinha” grávida. O parceiro de bancada Rafinha emendou: “eu comeria ela e o bebê”. A curta frase foi suficiente para que o seu nome fosse envolvido em uma série de notícias nos dias seguintes.
Após o ocorrido, o apresentador foi substituído na bancada por outro companheiro de programa. Posteriormente, a Band suspendeu o humorista da atração por tempo indeterminado, o que rendeu um pedido de demissão por parte de Rafinha, que ainda estava, em outubro, em negociação interna na emissora.
Wanessa Camargo e seu marido, o empresário Marcus Buaiz, entraram com um processo por danos morais na Justiça, que pode condenar o humorista ao pagamento de uma indenização de 100 mil reais.
Foram muitas as piadas feitas por Rafinha Bastos na televisão, em suas apresentações de stand up comedy e em sua página no twitter. Desta vez, no entanto, o humorista mexeu com a pessoa errada. Nem pela cantora, mas sim pelo seu marido. A questão é complexa, mas fácil de entender. Marcos Buaiz é amigo e sócio de Ronaldo, na empresa “9ine”. O ex-jogador de futebol é garoto-propaganda de uma operadora de telefonia móvel. Esta, por sua vez, é uma das maiores patrocinadora do CQC.
A ofensa causada por Rafinha não deve ser minimizada, mas, muito provavelmente, as retaliações seriam menores se os nomes envolvidos não fossem tão grandiosos. Entretanto, a fala do apresentador ofenderia qualquer outra mulher grávida e sua família. O argumento de que o processo só está indo adiante porque se trata de gente poderosa não pode ser utilizado para diminuir a gravidade da “brincadeira”, mas sim para fomentar o repúdio a toda piada que ofenda a dignidade de qualquer indivíduo, seja famoso ou não.
O que estaria sendo utilizado pela direção do CQC como punição ao humorista, também pode ser um rentável negócio. É o que afirma reportagem publicada pelo Estado. De acordo com o jornal, os anunciantes estariam satisfeitos com o barulho gerado pela polêmica. Com todos os holofotes voltados ao andamento do programa, a audiência tende a aumentar e favorecer os anunciantes. Definitivamente, um caso como este não deve se repetir, muito menos para favorecer os investimentos em um programa de televisão.
Não é a primeira vez que Rafinha Bastos se envolve em polêmicas. Em julho deste ano, o comediante fez uma piada sobre estupro em uma de suas apresentações de stand up. Na ocasião, o humorista disse que toda mulher que reclama que foi estuprada é feia, e que o homem que cometeu o ato merecia um abraço, e não cadeia.
A piada de Bastos foi criticada pelo Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo, órgão institucional formado por representantes da sociedade e do poder público, que divulgou nota de repúdio contra o humorista.
Casos como o de Rafinha apenas comprovam a o velho ditado popular. Terminantemente, quem fala o que quer, acaba ouvindo o que não quer. Neste caso, ainda não se sabia o que ele terá que ouvir.