‖ ‖ ‖ Daniele Seridório ‖ ‖ ‖
O Instituto Reuters, da Universidade de Oxford, publicou um relatório no qual indica cinco pontos “que todos precisam saber” sobre o futuro atividade jornalística. A emergência dessa discussão estaria no cenário atual em que a mídia digital empoderou as pessoas e deu acesso a diferentes meios e tipos de informação, mas, ao mesmo tempo, minou o jornalismo tradicional, sua credibilidade e forma de financiamento. A partir desse pressuposto, o relatório apresenta um diagnóstico em cinco pontos que poderiam indicar os caminhos para reverter, ou readequar, esse quadro.
O primeiro ponto trata de uma discussão que os especialistas já apontavam no início da era digital, a mudança no papel do gatekeeper. Ao contrário da linha que apontava a dissolução dessa barreira para o acesso à informação, foi adicionado mais um obstáculo: as empresas de tecnologia. Para chegar a sua audiência, empresas de jornalismo precisam passar pelo filtro dos algoritmos. Se antes as empresas de comunicação controlavam a produção de conteúdo e os canais de distribuição, atualmente, elas dependem das plataformas online – mídias sociais, agregadores de notícias e ferramentas de busca – para chegar até sua audiência.
Apesar disso, esses filtros não criaram as bolhas de informação que muitos acreditavam. O relatório defende como segundo ponto sobre o futuro do jornalismo a diversidade de fontes de informação gerada por esse fenômeno. Segundo o texto, “o acaso automatizado e a exposição acidental levam as pessoas a mais e fontes de informação mais diversificadas”. Esse processo pode ocorrer de duas maneiras. A primeira é porque os algoritmos das ferramentas de busca e das mídias sociais digitais oferecem uma gama mais diversificada de fontes quando comparada a que seria diretamente acessada pelo público. A segunda está na exposição a conteúdos noticiosos em momentos de lazer e de entretenimento, que ocorrem quando usamos redes sociais, por exemplo.
O terceiro ponto do relatório trata de uma questão crucial para o futuro do jornalismo: sua crise de credibilidade. Segundo o texto, o jornalismo está perdendo a batalha pela confiança e atenção das pessoas em alguns países. Podemos destacar a disseminação de informações falsas nas eleições presidenciais de 2018, no Brasil, e os ataques à credibilidade do jornalismo promovidos pelo atual governo. Fenômeno que também ocorre nos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump credencia como fake news informações que descreditam seu governo ou imagem.
O quarto ponto do relatório versa sobre o futuro do modelo de negócio, que desafia e enfraquece o jornalismo tradicional, baseado em grandes redações, além de colocar as práticas que exploram as novas mídias como mais suscetíveis a pressões comerciais e governamentais. Essa quarta questão acaba agravada pelo controle dos canais de distribuição por grandes corporações da internet, como Google e Facebook. As receitas publicitárias, que antes iam diretamente para as empresas jornalísticas, acabam nas mãos dessas corporações, que pouco repassam aos produtores de conteúdo.
Apesar desse cenário de descrédito e da falta de recursos financeiro, o bom jornalismo nunca esteve tão relevante. Pelo menos é o que sustenta o quinto ponto do relatório, que afirma que o jornalismo tem, cada vez mais, enfrentado os políticos e as corporações mais poderosas. “O jornalismo profissional e independente será mais importante do que nunca, ajudando as pessoas a entender os principais desafios e as oportunidades que enfrentamos no dia a dia, além dos problemas globais”, segundo o relatório.
A partir desse cinco pontos o relatório indica que o jornalismo deve enfrentar o desafio e as mudanças impostas pela mídia digital para reforçar o seu papel social e recuperar sua credibilidade. Segundo o texto, o jornalismo deve ser mais acessível, no sentido de distribuição e de acessibilidade, menos robusto, se afastando dos padrões quadrados do jornalismo tradicional, e independente de pressões políticas e de mercado.