Estudo mostra como ajudar crianças a distinguir notícias falsas


‖ ‖ ‖ Mara De Santi ‖ ‖ ‖ 

 

Como distinguir entre uma notícia falsa e uma verdadeira? A tarefa pode ser relativamente simples para um adulto, e ainda assim dependerá de fatores como escolaridade, nível de formação crítica e capacidade de interpretação. E se quem tiver que fazer essa distinção for uma criança? Com tantas ferramentas online disponíveis, a disseminação de conteúdos – verdadeiros ou falsos – acontece a uma velocidade impossível de ser medida e os jovens são tão impactados nesse sentido quanto os adultos.

Uma pesquisa realizada pela Common Sense Media, uma organização norte-americana sem fins lucrativos que se dedica a ajudar pais e educadores a ensinar às crianças o uso positivo dos meios digitais, apontou que os jovens acham importante o consumo de notícias, mas que nem sempre se veem representados nelas. O estudo News and America’s Kids: How Young People Perceive and Are Impacted by the News foi feito com 853 crianças entre 10 e 18 anos e indica que menos da metade dos entrevistados consegue distinguir entre uma notícia falsa e uma verdadeira. Se por um lado os jovens conseguem perceber a importância de se manter informados – mais de dois terços disseram que se sentem inteligentes e experientes quando acompanham o noticiário – ainda precisam de orientação e acompanhamento sobre onde buscar essa informação, uma vez que a maioria aponta as redes sociais como principal fonte de notícias.

Assim como em qualquer outra área do conhecimento, a educação para a informação é parte essencial do desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. Nesse sentido, o papel de pais, responsáveis e educadores é fundamental na formação de leitores críticos, com condições de avaliar aspectos fundamentais de uma informação – como a confiabilidade.

“Os pais precisam saber que os filhos verão imagens em estado bruto, não editadas, não contextualizadas, e precisam estar preparados para reagir”, disse Devorah Heitner, escritora e fundadora do Raising Digital Natives, em artigo para o jornal The Washington Post, que lista 11 tópicos de alfabetização digital para ajudar nesta tarefa, que aqui reproduzimos:

  • Conversa aberta: falar e ouvir sobre o que a criança está vendo é importante para entender a origem das notícias que estão consumindo. O adulto também pode compartilhar o que está lendo.
  • Proatividade: não deixar que as crianças, especialmente as mais novas, acompanhem notícias por conta própria; ter disposição para ajudá-las a processar as informações.
  • Especificidade: evitar ideias generalistas e ser mais específico em relação ao que se sente em relação a um fato noticiado e explicar os motivos à criança.
  • Conhecimento das plataformas: redes sociais ou plataformas como Youtube, Twitter e Facebook são ambientes com os mais variados tipos de informação disponível , e nem sempre há curadoria a respeito. A supervisão durante a navegação é de extrema importância.
  • Algoritmos: ensinar às crianças como as escolhas e pesquisas podem influenciar e melhorar a qualidade das informações oferecidas.
  • Ceticismo: mostrar que existem conteúdos que merecem um olhar mais atento, que podem ser patrocinados ou que podem parecer enganosos; ou seja, é preciso ensinar as crianças a desconfiar de maneira saudável.
  • Checagem de fontes: fazer a leitura de uma informação falsa e comparar com uma notícia de fonte confiável é um bom exercício para mostrar as diferenças e ensinar a fazer busca em locais seguros.
  • Entendimento: estimular as crianças a compartilhar experiências, seja através de blogs ou participação em jornais comunitários ou da escola. Dessa maneira, elas terão condições de compreender o trabalho empregado em edição, contextualização, etc.
  • Limites: os pais precisam ser o exemplo e perceber a partir de que momento o contato com algumas notícias pode interferir na rotina da criança (como ver notícias de impacto no período da noite, que potencialmente podem prejudicar o sono). Os limites devem estar claros e ser seguidos por todos na casa.
  • Compartilhamento: não replicar informações sem antes checar sua veracidade e explicar às crianças que existem notícias que se espalham rápido demais, mesmo sem serem verdadeiras.
  • Ações efetivas: realizar atividades que criem interação com algumas notícias é uma boa maneira de mostrar o impacto que temos com e sobre a informação (como doar agasalhos para refugiados ou escrever para representantes no governo).