‖ ‖ ‖ Bibiana Alcântara Garrido ‖ ‖ ‖
Não é à toa que o dicionário Oxford elegeu pós-verdade como a palavra do ano de 2016. Definido pelas “circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência sobre a opinião pública do que os apelos à emoção e crenças pessoais”, o termo reflete uma série de observações que vem sendo feitas em pesquisas acerca da veracidade das notícias digitais.
Três das cinco notícias mais compartilhadas na semana do impeachment de Dilma Rousseff se provaram falsas. As histórias inventadas também são destaque no cenário político mundial das eleições norte-americanas: vinte notícias falsas tiveram mais destaque na internet do que aquelas publicadas por veículos amplamente reconhecidos como o New York Times e o Washington Post.
A verificação de notícias digitais se mostra de extrema importância na atualidade das mídias sociais com alta circulação de conteúdo, que, sem se saber como, onde, ou porque, acaba por ser difundido sem uma checagem de fatos adequada. Ao visar informação, se obtém, desta maneira, desinformação.
Para suprir essa demanda surge o First Draft News, uma iniciativa que pretende aperfeiçoar os padrões de produção noticiosa e no compartilhamento de informações online.
Ao aliar o trabalho acadêmico de especialistas em comunicação, jornalistas e editores de organizações como o New York Times e ABC News, e também representantes de grandes grupos como o Facebook, Google e Twitter, o projeto pretende combater a proliferação de notícias falsas e trazer de volta a confiança no jornalismo.
“Nós fornecemos um guia prático e ético para encontrar, verificar e publicar conteúdo de mídias sociais”, propõe a página do First Draft News. A ideia é que não é possível avançar na busca pela qualidade no jornalismo sem interferir na situação atual dos fluxos contínuos de pós-verdades. E o ambiente mais propício para agir são as redes nas quais as pessoas estão conectadas.
No Brasil, observatórios de mídia como este Plural: Observatório de Comunicação e Cidadania cumprem a função de watchdog do jornalismo produzido e divulgado em território nacional. O Observatório da Imprensa é pioneiro no meio, que também conta com iniciativas como o Observatório da Ética Jornalística – objETHOS, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Com caráter semelhante, veículos jornalísticos que se declaram alternativos e contra-hegemônicos costumam pautar de maneira diferenciada, e, por vezes, contrapor o que é reportado pelas empresas consolidadas e consideradas tradicionais da mídia brasileira.
Em tempos de pós-verdade, a verificação de notícias na internet com o envolvimento da avaliação das mídias sociais é tida como “absolutamente crucial”, como avalia a diretora do First Draft News Jenni Sargent, em declaração ao portal da Rede de Jornalistas Internacionais.