‖ ‖ ‖ Bibiana Garrido ‖ ‖ ‖
Para quem se informa enquanto passeia pelas redes sociais e demais sites da internet, já são familiares os artigos em forma de lista, que, com chamadas generalistas e linguagem coloquial desenvolvem debates sobre os mais variados temas, como política, cultura, alimentação, estilo de vida e entretenimento. Os 10 melhores álbuns da música brasileira de 2015, 50 geniais filmes políticos e sociais e 10 passeios subterrâneos que vão tornar SP muito mais interessante são produções que ilustram bem essa realidade.
Os “list-icles” se misturam aos textos triviais que circulam pela rede na tentativa de captar a atenção dos leitores com textos curtos, daí o jornalismo de listas, direto. É cada vez mais frequente em sites e blogs a ferramenta que exibe o tempo de leitura estimado antes mesmo do título do texto.
Embora quase um senso comum, a ideia de que os internautas estariam lendo cada vez menos os textos longos e complexos não é confirmada por análises de dados de navegação. O fato constatado é: a leitora e o leitor da internet se interessam por textos aprofundados, pelo jornalismo investigativo e pelas grandes reportagens que oferecem novas perspectivas.
É o que mostra um recente estudo do American Press Institute realizado em parceria com o grupo Pioneer News. A pesquisa caracteriza como um “problema oculto do jornalismo” as errôneas conclusões tiradas a partir de coletas de dados de navegação. Segundo a avaliação de Tom Rosenstiel, diretor-executivo do instituto, expressa no estudo, as empresas de comunicação vêm interpretando de maneira equivocada dados de sistemas de análise, que pretendem avaliar o comportamento do público leitor para melhor produzir e direcionar conteúdo.
De acordo com o estudo, que analisou mais de 400 mil textos jornalísticos de 55 publicações, as pesquisas convencionais deixam de fornecer informações substanciais sobre as preferências dos internautas, e que vão de encontro ao senso comum de que as pessoas estão lendo cada vez menos na internet.
Ao focar suas observações em dados como o número de visualizações dos sites, as empresas de comunicação não consideram o tempo de permanência do leitor em determinada página, ou, por exemplo, não consultam a opinião do leitor sobre o conteúdo, já que este pode permanecer muito tempo na página, mas “pode achar a leitura irritante ou uma perda de tempo”, segundo o estudo: “o grande problema é que a maioria das análises da web são uma bagunça”, sustenta Rosenstiel.
Na tentativa de resolver o problema, os pesquisadores propõem a utilização de um Índice de Envolvimento, que mede o tempo de visita, o número de visitas à página e o compartilhamento de conteúdo. Construído com base no estudo, o Índice de Envolvimento serve de ferramenta para as mídias digitais que queiram avaliar não só o tráfego do público, mas também seu comportamento e preferências.
Em termos práticos, o estudo revoluciona as ideias que vem sendo apresentadas como tendência sobre a leitura na internet atualmente, como a de que as pessoas estão lendo menos, preferem cada vez mais textos curtos, colocados em listas. Pelo contrário, o internauta continua como sempre foram os leitores de jornais e revistas de grande reportagem, interessado em textos aprofundados e bem trabalhados.
Fica para os jornalistas, comunicadores e pesquisadores contemporâneos, a missão de captar e entender o comportamento do público nesses tempos de plataformas tão voláteis, e de aplicar o conhecimento obtido a partir de pesquisas como a do American Press Institute e demais agências, para a produção de um conteúdo de qualidade e que atenda às expectativas dos seus leitores e leitoras.
O Observatório Europeu de Jornalismo analisou o estudo neste texto (com tradução publicada pelo Observatório de Imprensa).