‖ ‖ ‖ Daniela do Canto Alves ‖ ‖ ‖
Aumento de consumo de notícias por meio de redes sociais, intensificação do uso de dispositivos móveis para essa finalidade e crescimento do uso de bloqueadores de anúncios para os internautas. Essas são as principais tendências identificadas pelo Digital News Report, um relatório produzido pelo Instituto Reuters com o objetivo de entender como as notícias vêm sendo consumidas em uma série de países. Os dados foram colhidos pela empresa de pesquisas YouGov por meio de um questionário online aplicado entre janeiro e fevereiro de 2016 em 26 países, incluindo o Brasil. Mais de 50 mil pessoas foram entrevistadas, o que torna este o maior estudo comparativo contínuo de notícias do mundo.
A combinação das três principais tendências observadas na pesquisa, de acordo com o próprio relatório, traz uma pressão ainda mais severa tanto sobre os modelos tradicionais de publicação como sobre os recém surgidos dispositivos digitais, além de uma mudança na maneira como as notícias são apresentadas e distribuídas.Para colher os dados, o YouGov levou em conta fatores como idade, sexo e região. As respostas de pessoas que afirmaram não ter consumido nenhuma notícia no mês anterior foram desconsideradas para não prejudicar as conclusões da pesquisa. O relatório destaca que, como a pesquisa foi realizada online, os resultados subrepresentam os hábitos das pessoas que não estão conectadas às redes (geralmente aquelas de idade mais avançada ou com educação formal limitada). Pouco mais da metade das pessoas entrevistadas (51%) afirmou usar as redes sociais como fonte de notícias toda semana. Mas para 12% delas, esse é o principal meio de se informar. O Facebook lidera com folga esse ranking, com 44% do uso de redes sociais para consumo de notícias, seguido pelo YouTube (19%), Whatsapp (8%), Twitter (10%) e Instragram (3%). Em termos de dispositivos, a utilização de smartphones para o consumo de notícias é a que mais cresce, e já atinge 53% dos entrevistados, enquanto cai o uso de computadores e diminui o crescimento do uso de tablets.No âmbito das publicadoras, as organizações jornalísticas enfrentam problemas com o aumento da utilização dos bloqueadores de publicidade. Os números variam conforme o país. No Japão, por exemplo, se observa a menor taxa (10%) e na Polônia, a maior (38%). Mas o uso dos bloqueadores ainda é bem maior nos computadores. Ele está presente em apenas 8% dos smartphones. Entretanto, um terço dos entrevistados afirmou que planeja instalar um no celular em 2016.
Tendências de consumo de notícias no Brasil
Na parte do relatório dedicada ao mercado brasileiro, a pesquisa destaca o crescimento de sites de notícias como o G1 e o UOL, líderes de um setor que recebeu 30 milhões de visitantes em 2015. Mas aponta que, em popularidade, ninguém vence o Facebook: desde 2011, quando a empresa abriu um escritório no país, o número de brasileiros que utiliza a rede social aumentou quase seis vezes e ultrapassou os 83 milhões. Em termos de consumo de notícias por meio das redes sociais, ele aparece em primeiro lugar, seguido pelo Whatsapp, YouTube, Twitter e Instagram. Segundo a pesquisa, as redes sociais são usadas como uma fonte de notícias por aproximadamente 72% dos entrevistados.
O uso das internet com esse propósito cresceu 50% no primeiro semestre de 2015 se comparado ao mesmo período do ano anterior. Aumento registrado mesmo com a adoção cada vez mais frequente de paywalls (uma ferramenta de assinaturas que permite ao internauta acesso a conteúdos restritos), utilizados pelos jornais e outros veículos de comunicação na intenção de elevar as receitas. Até o fim de 2014, dez principais jornais tinham implementado paywalls, conforme os números da Associação Nacional de Jornais (ANJ).
Mais de um quinto (22%) dos entrevistados afirmou ter pago por algum tipo de conteúdo de notícias online durante o ano passado. Essa é a terceira maior taxa entre os 26 países analisados. Porém, esse consumo diz respeito, na sua maior parte, a demandas pontuais. O valor do pagamento médio anual é um dos mais baixos entre os 26 países pesquisados.No Brasil, o uso de bloqueadores de publicidade ainda não representa uma grande preocupação para os anunciantes online: a penetração permanece em 21% – uma das menores taxas observadas na pesquisa, que coloca o Brasil na 20ª posição no ranking de uso desse tipo de ferramenta.Outro ponto levantado na pesquisa é que, apesar do papel fundamental que a imprensa tem desempenhado em desvendar escândalos políticos recentes, nove dos dez jornais mais vendidos no país perderam leitores em 2015. Aliás, a crise da mídia impressa foi motivo de destaque no relatório, que traz o número de mais de 1,4 mil profissionais da área que perderam os seus empregos em 2015. Como exemplos, figuram os casos da Editora Abril, que fechou três títulos e vendeu outros sete em 2015, e o jornal Brasil Econômico, de propriedade do grupo português Ongoing, que encerrou as atividades no ano passado.