‖ ‖ ‖ Ana Cristina Consalter Amôr ‖ ‖ ‖
Pesquisa do Ibope indica que parte dos brasileiros avalia como excessivamente negativa a cobertura da imprensa sobre a situação econômica do país: 41% acreditam que a imprensa retrata a economia brasileira de uma maneira muito negativa, até mais do que o percebido no dia a dia. Discordam desta opinião 28% dos entrevistados, e os percentuais são semelhantes em praticamente todas as variáveis. Em relação à renda familiar, por exemplo, 46% dos que ganham mais de cinco salários mínimos avaliam a imprensa desta forma, assim como 41% dos que ganham até um salário. Não sabem ou não responderam à questão 7% dos entrevistados.
Para o professor de sociologia da Unesp Murilo Cesar Soares, em seu livro Representações, jornalismo e a esfera pública democrática, na comunicação mediática, as conotações ideológicas seriam expressadas de forma tácita – “como vestígios ou traços implícitos em narrativas do jornalismo, da ficção, da publicidade e da propaganda” – e assim confeririam realismo, drama e intensidade afetiva às representações mediáticas.
Segundo Soares, tudo o que a sociedade conhece acerca das questões cotidianas é estabelecido em sua maioria pelos meios noticiosos, que produzem e disseminam todos os dias e a todo instante, representações narrativas com avaliações, defesas, críticas e proposições. “Bem ou mal, leitores e telespectadores geralmente passam a raciocinar e a tomar decisões eleitorais, econômicas, profissionais, familiares, pessoais, com base nesses fatos”.
Vale destacar aqui outro indicador do quanto as pessoas confiam e agem de acordo com as representações emitidas pela imprensa. O estudo IPCLBrasil (Índice de Percepção do Cumprimento da Lei), realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), indica que a imprensa é a quarta instituição em que os brasileiros mais confiam, e que as emissoras de TV ocupam a sexta posição depois das Forças Armadas, da Igreja Católica e do Ministério Público. Entre a imprensa e as emissoras de TV, estão as grandes empresas.
O IPCLBrasil retrata “a relação do indivíduo com o Estado de direito, observando o respeito daquele às leis, bem como às autoridades que devem fazer com que as leis sejam cumpridas”. Este índice procura retratar o sentimento da população em relação às leis e analisa a percepção dos brasileiros sobre o respeito às leis e o respeito às autoridades que devem executar o cumprimento da lei.
Seria possível afirmar que a imprensa pode ter alguma influência, alimentando um pessimismo generalizado, porque, de acordo com os números da pesquisa de opinião do Ibope, os brasileiros estariam pessimistas também em relação a outros assuntos. Indagados sobre como se sentem em relação ao futuro do país, por exemplo, 20% dos entrevistados responderam estar otimistas e apenas 1% estaria muito otimista, enquanto 36% se sentem pessimistas e 12% muito pessimistas. Esses percentuais se mantêm parecidos em todas as variáveis.
A pesquisa do Ibope buscou conhecer também se as pessoas sabem ou já ouviram falar sobre o atual índice de inflação. Verificou-se que os brasileiros pouco sabem sobre os atuais índices e que 35% não sabem ou não responderam. Apenas um quarto dos brasileiros (25%) afirma que o índice está entre 4% e 8%, ou seja, conhece o atual cenário, de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulado de 4,56% até abril. Quase metade dos entrevistados acha que o índice atual é maior do que era no governo de Fernando Henrique Cardoso (em 2002, último ano de governo de FHC, o número foi 12,5%).
Sobre a atual taxa de desemprego, 6,4% (registrada em abril), o desconhecimento se repete. Somente 15% cita a média atual da taxa. Os mesmos 35% não sabem ou não responderam. Dos entrevistados, 27% afirmam que a taxa de desemprego é maior que 12%, enquanto, 20% dizem que está entre 9 e 12%, e 3% apontam que o índice é menor 4%.
A pesquisa de opinião ainda buscou opiniões sobre em quais áreas estariam os maiores problemas do país. A saúde desponta na frente de todos os problemas, sendo citada por 61% dos entrevistados, seguida de segurança/violência, com 37% das respostas; as drogas obtiveram 35% das respostas e educação, 34%. Combate à corrupção (27%) e custo de vida/preços e controle da inflação (19%) também são áreas citadas.
Realizada com 2.002 pessoas com mais de 16 anos, em 141 municípios brasileiros, entre os dias 14 e 18 de maio, a pesquisa considerou variáveis como sexo, grupos de idades (16 a 24 anos, 25 a 34 anos, 35 a 44 anos, 45 a 54 anos, 55 anos e mais), escolaridade (até 4ª série do fundamental, 5ª a 8ª série do fundamental, ensino médio, superior), renda familiar em salários mínimos (mais de 5, mais de 2 a 5, mais de 1 a 2, até 1), região do país, a condição do município (capital, periferia ou interior), porte do município (até 50 mil, mais de 50 a 500 mil, mais de 500 mil), religião e cor (branca, preta/parda, outras). A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra.