‖ ‖ ‖ Murilo C. Soares ‖ ‖ ‖
Só é possível compreender a cultura do silêncio se a tomarmos como uma totalidade que é, ela própria, parte de um todo maior. […] A sociedade dependente é por definição, uma sociedade silenciosa.
Paulo Freire
“Cultura do silêncio e democracia no Brasil – ensaios em defesa da liberdade de expressão (1980-2015)”, de Venício Artur de Lima, lançado este ano, é uma obra panorâmica, cobrindo 35 anos de produção intelectual de um autor que contribui destacadamente para o pensamento da comunicação e da política no Brasil. Pensador e pesquisador, com uma trajetória investigativa original, Venício oferece nesse livro uma reunião de suas reflexões, em campos nos quais se tornou referência, influenciando colegas e orientandos e inspirando pesquisas.
A obra foi lançada pela Editora da Universidade de Brasília, onde o autor foi professor titular de Ciência Política e Comunicação, após cursar o mestrado e doutorado na University of Illinois. Venício é também pós-doutor pela University of Illinois e pela University of Miami-Ohio. Foi professor visitante nas universidades de Illinois e Miami-Ohio, nos Estados Unidos e na La Habana, Cuba. Coordenou a pós-graduação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e foi pesquisador visitante da UFMG. Atualmente, é colaborador do Observatório da Imprensa, do portal Carta Maior, da revista Teoria e Debate e pesquisador do Centro de Estudos Republicanos da UFMG.
O livro traz vinte ensaios organizados em torno de cinco eixos, como escreve o próprio Lima: “dois autores – Paulo Freire e Stuart Hall – e três temas – políticas públicas de comunicação, mídia e política e liberdade de expressão.” O título é uma referência a autores como o padre Antonio Vieira, que, no sermão da Visitação de Nossa Senhora, de 1640, afirmou: “O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala…” Lima retoma o tema, com Paulo Freire, autor sobre o qual versou seu doutoramento. Para Lima, cultura do silêncio é um conceito freireano, a partir da observação do padre Vieira, sobre o Brasil do século XVII. Segundo Lima, a cultura do silêncio “caracteriza a sociedade a que se nega a comunicação e o diálogo e, em seu lugar, se lhe oferece “comunicados”, vale dizer, é o ambiente do tolhimento da voz e da ausência de comunicação, da incomunicabilidade”.
Essa noção crítica constitui a categoria central do livro, em torno da qual se integram as análises que formam os eixos da obra. O primeiro desses eixos, das políticas de comunicação, trata da comunicação na Constituinte de 1987-1988, do interesse privado versus interesse público, dos Conselhos de Comunicação Social. No segundo eixo, mídia e política, o foco recai sobre a liberdade de expressão, os conceitos de cenários de representação da política e de coronelismo eletrônico. O terceiro eixo, da liberdade de expressão, aborda as diferenças entre liberdade de expressão e liberdade da imprensa, enfoca a mídia e a justiça no Brasil e a censura decorrente da ação dos oligopólios mediáticos.
Fruto de trabalhos escritos ao longo de três décadas, por um autor que foi, muitas vezes, testemunha dos acontecimentos e dos assuntos analisados, “Cultura do Silêncio” combina a perspectiva crítica com a coesão interna, apesar da diversidade dos objetos tratados. Constitui uma obra madura, reflexiva, de um intelectual a caminho de se tornar um clássico, como salienta o prefácio de Juarez Guimarães.
Acesse aqui a introdução do livro.