‖ ‖ ‖ Aline Camargo ‖ ‖ ‖
A Solutions Journalism Network (SJN) lançou em janeiro de 2015 um guia para auxiliar jornalistas na cobertura de problemas sociais. A SJN é uma organização independente, sem fins lucrativos e fundada por repórteres que trabalham para legitimar e difundir a prática do jornalismo de soluções, propondo o relato de possíveis respostas para problemas sociais. “Se os jornalistas cobrem os problemas, eles também devem cobrir as respostas para estes problemas. Isso é simplesmente contar a história toda”, afirma David Bornstein, co-fundador da SJN em entrevista ao American Press Institute.
Para Bornstein, a expressão jornalismo de soluções descreve a prática de examinar em que as pessoas estão trabalhando para buscar soluções, com foco em resultados produzidos, evidências e dados disponíveis. Desta maneira, reportar se torna buscar apontar não apenas soluções que podem funcionar, mas sim como funcionam, por que funcionam, quais seus impactos e suas alternativas. Por exemplo, ao questionar: Quais os modelos estão tendo sucesso reduzindo a taxa de abandono escolar nas escolas públicas? Como é que eles realmente funcionam? O que eles estão fazendo de diferente em relação aos outros que está resultando em um melhor resultado?
O jornalismo de soluções propõe verificar as alternativas que estão funcionando e também as que não estão, a fim de evidenciar a produção de conhecimentos úteis, uma vez que pode-se aprender a partir de uma experiência bem sucedida e também de um fracasso: “A chave é olhar para o todo, o problema e a solução. Mas o jornalismo, muitas vezes, não chega a este último”, segundo Bornstein. “Se bem feito, o jornalismo de soluções torna a comunicação mais forte e completa, introduzindo informações valiosas para os leitores, atraindo-os, envolvendo- os e engajando-os de maneira a despolarizar o debate público”.
De acordo com o portal journalism.co.uk, “estudos mostram que as histórias que exploram soluções para os problemas incitam a audiência a envolver-se com a notícia e compartilhar conteúdo”. O portal afirma que a inovação que o jornalismo precisa vai além do uso de diferentes plataformas ou tecnologias, apontando o jornalismo de soluções, ou jornalismo construtivo, como também é chamado, como possibilidade.
A SJN impulsiona a inovação de duas maneiras:
- Plataforma de Educação: o portal da organização é fonte de ferramentas sobre a prática do jornalismo de soluções. São disponibilizados guias, documentos e estudos de forma gratuita. Há também um projeto para desenvolvimento de curso para alunos de pós-graduação ao redor do mundo.
- Busca de parcerias: A SJN trabalha com dezenas de organizações de notícias para construir a prática do jornalismo de soluções nas redações. Com um seleto grupo de parceiros, desenvolvem projetos como o Education Lab, que propõe repensar a cobertura jornalística da situação das escolas em Seattle.
Catherine Gyldensted, de um centro de estudos sobre o tema, afirma que os jornalistas passam a maior parte do tempo fazendo diagnósticos de problemas e exercendo a função de “cão de guarda”, deixando de olhar para soluções e o que pode ser aprendido com elas. Gyldensted garante que o jornalismo construtivo envolve os leitores. “Sabemos que a sensação de tristeza ou de impotência frente aos problemas deixa as pessoas deprimidas e inativas. Mas sentimentos como admiração criam a sensação de esperança e vontade de agir”, disse em entrevista que pode ser acessada aqui.
Um estudo desenvolvido pela SJN avaliou a resposta de 700 pessoas ao terem contato com uma reportagem que apresentava apenas problemas e outra que também trazia soluções. Constatou-se a que os leitores de histórias que também exploram formas de resolver o problema são mais propensos a compartilhá-las com seus amigos, indicando engajamento. De acordo com Bornstein: “Esse tipo de jornalismo, rigoroso, independente e baseado em evidências, faz com que as pessoas realmente pensem”.
O guia da SJN, escrito por Sarika Bansal e Courtney Martin e produzido por Samantha McCann, oferece exemplos para facilitar a compreensão de uma reportagem que atenda o conceito de jornalismo de soluções. Escrito de maneira didática, o guia apresenta dez questões a serem respondidas durante a produção de uma reportagem, assim como onde e como buscar possíveis soluções para problemas: acadêmicos, textos, especialistas, casos bem sucedidos, comunidade, arquivo de dados e pessoas envolvidas com o problema, além da própria experiência do jornalista.
Entre as dicas destacadas pela Rede de Jornalistas Internacionais para a cobertura de políticas sociais, estão:
- Encontre um problema que foi resolvido várias vezes e descubra qual método produziu os melhores resultados. Realce os sucessos e os fracassos da solução de uma cidade, empresa ou pessoa para que outros possam aprender com seus sucessos e erros.
- Para uma matéria com foco em soluções, concentre-se no “como”. Isso permite limitar as etapas do processo.
- Quando propor uma matéria orientada por soluções, inclua informações sobre como a pauta se relaciona com o cenário maior, qual é o gancho da notícia e por que você é o melhor repórter para escrever a matéria.
- Promova e compartilhe sua matéria nas redes sociais como forma de envolver os leitores e promover a discussão.
- Retrate também casos mal sucedidos, mas sempre acompanhados de alternativas e possíveis impactos.
O guia completo, em inglês, pode ser obtido a partir do cadastro neste link.
Exemplos de reportagens consideradas de jornalismo de soluções podem ser acessados aqui.