Tecnologia amplia preservação da história do Golpe


‖ ‖ ‖ Kátia Vanzini ‖ ‖ ‖ 

  

São diversas as definições para o termo hipermídia, cada vez mais usual desde que as tecnologias de informação e comunicação modificaram a forma como uma mesma informação é repassada ao público. Áudio, vídeo, infográficos, animações e álbuns de fotografias são tecnologias da convergência digital.

A mídia tradicional procurou adaptar suas mensagens, principalmente em ambientes digitais como portais e perfis em redes sociais, possibilitando aos produtores de conteúdo diferenciar sua abordagem sobre um mesmo tema, como, por exemplo, os 50 anos do golpe militar no Brasil.

Focaremos aqui dois especiais sobre o tema: o do jornal Folha de S. Paulo e o da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

O formato escolhido pela Folha remete às ilustrações e narrativas próximas dos gibis destinados ao público adolescente. O especial apresenta cinco tópicos de apresentação das informações. Em uma linha do tempo, em destaque na página, fotos históricas relembram fatos como a renúncia de Jânio Quadros, a posse de João Goulart, os movimentos pró e contra Jango, a divergência entre os próprios militares e a intervenção dos Estados Unidos, que “temiam outra Cuba no continente”.

Na seção “O Golpe Militar Hora a Hora”, são utilizadas ilustrações animadas para descrever os principais momentos que culminaram no golpe, de 30 de março a 11 de abril, quando o general Humberto de Alencar Castelo Branco assume a Presidência.

Na seção “Quem é Quem”, são apresentados perfis de 53 personagens do golpe e, em “Intervenções Militares”, são citados dez momentos em que houve intervenção militar nas decisões políticas do Brasil.

Já o especial da EBC é apresentado de maneira mais simples, bastando apenas rolar a página para acompanhar os principais momentos. A retrospectiva também se inicia a partir da renúncia de Jânio Quadros em 1961, passando pela posse de Jango; plano econômico apresentado pelo novo presidente; movimentos populares como o comício na Central do Brasil e Marcha da Família (1963); as diversas manifestações dos militares; a participação do governo americano; o início do movimento militar em Minas Gerais; as tentativas de resistência dos apoiadores de Jango; o avanço das tropas para Rio de Janeiro e São Paulo; a renúncia de Jango em 2 de abril e pedido de asilo político ao Uruguai; a posse de Castelo Branco.

O diferencial do material da EBC é o amplo acervo histórico disponibilizado em cada um dos momentos selecionados para o registro. São vários trechos de áudio, com declarações de Jânio Quadros, João Goulart, Rubens Paiva, Darcy Ribeiro e até uma conversa telefônica entre o então presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, e o Secretário de Estado, Dean Rusk, sobre as repercussões do movimento militar no Brasil.

Há também reportagens da EBC, trechos de filmes e documentários. O arquivo de fotos é vasto, com reproduções inclusive da carta de pedido de asilo político feito por João Goulart.

Fazendo uma breve análise dos dois especiais, é possível tecer considerações, destacando pontos positivos e aspectos a serem repensados.

O especial da EBC oferece material para contextualizar os acontecimentos, mas a falta de divisão em tópicos dificulta a navegação e exige que o internauta dedique tempo para acessar a riqueza do acervo.

O material da Folha se caracteriza pela fácil leitura e navegabilidade. A divisão dos principais temas em cinco tópicos facilita a navegação, e o amplo uso da infografia transmite as informações de forma mais lúdica e fluida. No entanto, não há arquivos como textos, áudios e vídeos, e nem matérias que a própria Folha publicou sobre o assunto.

Na produção dos especiais, verifica-se uma escolha entre a profundidade do resgate histórico, que permite a contextualização e o uso de variadas fontes para o enriquecimento de dados, e a superficialidade de informações, que atende à instantaneidade e à velocidade dos processos comunicacionais que hoje presenciamos.