‖ ‖ ‖ Bruna Giorgi ‖ ‖ ‖
Jornalismo cidadão, produção colaborativa e inteligência coletiva são comuns no universo atual da comunicação. O motivo principal é a revolução tecnológica móbile que desfrutamos hoje. A informação está em todo lugar e pode ser consumida de leste a oeste do planeta, sem esbarros de tempo e espaço. Por esse motivo, a receita publicitária dos meios impressos migrou para os digitais, promovendo uma verdadeira crise nos veículos impressos. Quem quer pagar por um conteúdo do jornal que já viu ontem pela internet?
Diários de renome do mundo todo fecharam as portas ou enxugaram as redações em busca da exploração do mundo digital. O jornalismo, em muitos sentidos, se perde. As características de agilidade e tempo real da internet tornam muitos portais de informação, principalmente do Brasil, com rasa qualidade de conteúdo, pauta, abordagem e investigação.
Durante as manifestações de junho de 2013, o duelo entre a grande mídia imprensa e a imprensa independente ficou claro. Esse caso demonstra a democratização da produção de informação e o descontentamento político editorial dos grandes veículos por parte dos leitores.
“O veículo impresso está em crise. O jornalismo não”. É com essa frase que a plataforma O Sujeito justifica a sua existência. Assim como Beacon Reader e muitos outras, essa plataforma na web pratica o crowdsourcing, financiando matérias jornalísticas de relevância, que não teriam espaço no jornal impresso tradicional. Exemplos como esses preenchem lacunas da informação alternativa e são respostas para a questão de como financiar jornalistas independentes na produção de conteúdo de qualidade e sem vínculo editorial.
O projeto norte-americano Beacon, fundado em setembro de 2013, arrecada dinheiro para profissionais do jornalismo que atuam como autônomos. A iniciativa recebe investimento do Y Combinator, uma aceleradora de apoio para empresas iniciantes. O modelo individual de investimento é simples: o leitor paga 5 dólares por mês para um jornalista cadastrado e, em troca, pode acessar o conteúdo de todo o site. Os jornalistas recebem 70% do dinheiro pago pelos leitores a cada mês, e uma parte da receita restante vai para um banco de bônus, que é remunerado aos que escrevem as matérias mais compartilhadas, e a outra fatia fica com a empresa. O objetivo é identificar leitores e jornalistas dispostos a desenvolver a ideia de conteúdo independente.
Em março, o Beacon iniciou uma campanha de arrecadação de fundos para ajudar Shane Bauer, jornalista que passou mais de dois anos preso no Irã. O objetivo desse projeto é proporcionar o salário anual de Bauer para que ele produza uma grande reportagem sobre o sistema prisional dos EUA.
Já O Sujeito, canal cadastrado no Catarse, nasceu em 2013 com a onda de jornalistas demitidos de importantes redações. O canal se beneficia da expansão da comunicação digital. O modelo jornalístico tradicional não se sustenta mais e, talvez por esse motivo, muitos jornalistas estão fora das redações impressas.
O funcionamento de O Sujeito é simples e tem por base o financiamento coletivo. Pessoas interessadas na ideia – que não precisam necessariamente ser jornalistas – propõem pautas que, após serem avaliadas por uma central, serão financiadas por leitores. É um instrumento para aproximar o produtor de seu público e viabilizar economicamente essa relação.
Esses dois exemplos são tendências e a consequência do momento vivido. O que diferencia ambos de forma expressiva é o financiamento: apesar de serem contribuições coletivas, possuem peculiaridades importantes.
O primeiro ponto é o destino do financiamento. A startup Beacon financia jornalistas e incentiva as práticas do profissional que não tem espaço na mídia tradicional. Ou seja, o conteúdo, para ser concretizado, deve receber uma contribuição mensal e fixa de cinco dólares, que dá ao leitor/investidor direito a todo o conteúdo do site. Já O Sujeito financia o projeto jornalístico e não, necessariamente, o jornalista, até porque para propor pautas não há a necessidade de ser jornalista. Além disso, não há certeza de que o projeto será concretizado, pois deve preencher a cota de financiamento em 60 dias. E muitos não atingem.
O que observamos é que, no site norte-americano, o crowdsourcing possibilita uma forma de trabalho fixo, diferentemente do brasileiro, que incentiva matérias de free lancers, abordando assuntos sobre os quais a grande mídia não tem interesse.
Mas um aspecto comum é positivo e relevante: plataformas crowdsourcing aproximam o leitor do jornalista e podem promover uma melhora da qualidade das produções. É importante estar atento a ideias e iniciativas como essas para pensar a direção que o jornalismo pode seguir no século 21. As mesmas mudanças que abalam o paradigma da comunicação possibilitam a criação de novas formas de fazer jornalismo. E uma das questões marcantes é: como será a profissão do jornalista? De que forma será regulamentada a prática para que não comprometa a qualidade do trabalho?