‖ ‖ ‖ Aline Cristina Camargo ‖ ‖ ‖
“Muitas vezes faltam elementos como carro, motorista e fotógrafo”. (…) “Outra grande dificuldade é em relação às forças ocultas, tanto políticas quanto econômicas, que atuam na cidade e que muitas vezes atrapalham o nosso trabalho”. (…) “Boa parte das empresas da cidade não estão preparadas para lidar com a imprensa, não enxergam na mídia uma parceira”. (…) “A burocracia em conseguir informações, muitas vezes simples, junto aos órgãos públicos oficiais”. Essas são algumas das dificuldades apontadas por dois jornalistas de veículos do interior do Estado de São Paulo em relação ao exercício diário da profissão.
Para enfrentar obstáculos como esses, o projeto Grande Pequena Imprensa (GPI), do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, realiza atividades de formação, treinamento, reciclagem e consultoria no campo profissional e empresarial. “O Projor considera que os veículos de mídia locais e regionais são importantes para a imprensa no país. É sabido que esses veículos, de modo geral, enfrentam dificuldades para se consolidar, como limitações técnicas, de gestão financeira e de preservação de público leitor”, explica Carlos Eduardo Lins da Silva, presidente do Instituto.
O GPI tem como objetivo proporcionar aos veículos de comunicação locais e regionais consultoria em cinco eixos: técnicas de redação; técnicas de acesso ao mercado publicitário; gestão financeira e administrativa; tecnologia da informação; e logística e circulação. O GPI busca “o fortalecimento institucional dos veículos, sejam jornais, revistas, portais de notícias ou TVs. Os benefícios podem alcançar desde o aumento da transparência na administração pública em pequenos/médios centros urbanos e rurais até um maior engajamento da sociedade em situações que se colocam em seu próprio território”.
A primeira etapa do projeto foi concluída em 2012 e consistiu no mapeamento de veículos situados em regiões do país com atividades econômicas em expansão ou potencial de crescimento: cana de açúcar (São Paulo), exploração de petróleo (São Paulo e Rio de Janeiro) e soja (Mato Grosso).
A segunda etapa, concluída em novembro de 2013, foi a realização do Seminário Grande Pequena Imprensa, que contou com a presença de 80 pessoas, entre representantes de veículos, palestrantes e convidados. As palestras abordaram temas como melhorias na qualidade visual dos produtos; ferramentas de jornalismo online; papel do jornalismo local; jornalismo local x poder político; novo modelo de negócio no jornalismo; como alcançar a audiência.
Na terceira etapa, prevista para janeiro de 2014, ocorrerão a seleção de casos específicos e a capacitação para enfrenta-los. Serão escolhidos de seis a dez veículos de comunicação local para serem acompanhados durante cinco meses por consultores que atuarão não só na questão jornalística, mas também na gestão empresarial.
A proposta, segundo os idealizadores do projeto, é criar uma metodologia, a partir dos casos específicos, para que as consultorias possam colaborar com veículos de outras regiões do Brasil.
“O principal caminho para as pequenas redações é, além da independência e transparência, se transformarem numa espécie de porta-vozes dos interesses de sua região e das necessidades dos cidadãos locais”, segundo Silva. “Quanto mais se avançar nesse objetivo, maior é a expectativa de aumento do número de leitores e, por tabela, maior será o interesse do mercado publicitário. E é impossível hoje ganhar rentabilidade sem pensar na comunicação digital como um novo modelo de negócios. Esse é um caminho sem volta”.
A busca do pluralismo também deve nortear o jornalismo regional. “A transparência, a pluralidade e a independência emanam da capacidade de manter um negócio forte, influente e sustentável, capaz de manter uma linha editorial e de cobertura ética e isenta, sem submissão aos governantes de plantão ou a pressões de ordem religiosa, muito comuns em pequenas cidades e comunidades do interior”, diz Silva. “O pluralismo é um objetivo em comum, de grandes e pequenos, mas mais difícil de ser cultivado por veículos cuja sobrevivência depende, por exemplo, da publicidade oficial”.
Os nomes dos veículos selecionados serão divulgados no dia 14 de janeiro de 2014. O GPI tem apoio de Fundação Ford, Odebrecht e Google. A equipe do Projor conta com nomes como Alberto Dines, Caio Túlio Costa, Luiz Egypto e Eugenio Bucci, e entre seus projetos está o Observatório da Imprensa.
As palestras oferecidas pelo Grande Pequena Imprensa estão disponíveis aqui.