Mídia-educação e currículo escolar em debate na TV Escola


‖ ‖ ‖ Nádia Pirillo ‖ ‖ ‖ 

 

Mídia-educação e currículo escolar foi o tema de uma série exibida em outubro pelo programa Salto para o Futuro, da TV Escola.  Os dois programas da série, Salto Debate e Salto Revista, promoveram uma discussão sobre a mídia-educação, área emergente no Brasil, já estabelecida em países como Inglaterra, Canadá e França.

O primeiro programa da série, Salto Revista, trouxe os questionamentos iniciais sobre o papel da escola na formação de leitores críticos em mídia. Para mostrar a importância do tema, a série aponta que, atualmente, o volume de dados disponíveis no mundo equivale à leitura de 174 jornais por dia por pessoa. Em meio a tanta informação, torna-se necessário questionar: será que as pessoas fazem uma leitura crítica de tudo que acessam? Qual o papel da escola para que essa leitura crítica se concretize? Qual é o lugar da mídia na escola?

Para responder a todas essas questões, o programa entrevistou vários especialistas, que explicaram que a mídia-educação, ou educação para as mídias, não deve ser confundida com o uso de mídias na educação. A mídia-educação envolve a apropriação crítica e criativa dos meios de comunicação, enquanto o uso de mídias na educação limita a mídia ao uso instrumental e coadjuvante no ensino de outras disciplinas. No Brasil, professores e escolas investem em trabalhos que envolvem as mídias dentro de sala de aula, mas com frequência de forma muito técnica e pouco crítica.

Para que a proposta de mídia-educação se concretize, é necessário que o trabalho com as mídias esteja previsto no projeto político-pedagógico da escola, como na Escola Municipal Norma Sueli Borges, em Uberaba-MG. A escola visitada pelo Salto Revista utiliza, desde 2005, as mídias como parte do processo educativo. A ideia foi tão bem recebida por alunos e professores que, em 2012, foi criada uma oficina de rádio na escola. Os próprios alunos sugerem pautas, elaboram textos e fazem a locução dos programas. Desse modo, entendem o processo de produção de notícias e se tornam mais críticos ao entrarem em contato com notícias veiculadas pelos meios de comunicação.

Outro projeto apresentado pelo Salto Revista foi o Núcleo de Cinema da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). A proposta do núcleo é incentivar a produção cinematográfica e pesquisas sobre o cinema. Com isso, os participantes conseguem descobrir as possíveis aprendizagens que o cinema pode trazer à sala de aula. Os graduandos de cursos de licenciatura, por exemplo, aprendem as técnicas da sétima arte e são incentivados a transmitir o conhecimento apreendido aos futuros alunos e a produzir conteúdo. O núcleo desenvolve uma parceria com escolas e centros de educação infantil, ensinando aos pequenos alunos aliar a criatividade com técnicas cinematográficas, como o stop motion.

O programa Salto Revista foi complementado pelo Salto Debate, que levou três pesquisadores em mídia-educação para uma conversa ao vivo sobre o assunto: Alexandra Bujokas, professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM); Raquel Pacheco, pesquisadora da Universidade Nova de Lisboa (UNL); e Danilo Rothberg, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O debate enfocou o papel da escola na construção de uma relação crítica entre os cidadãos e a mídia, e a relação estreita que existe entre os alunos e os conteúdos midiáticos.

O papel fundamental da mídia em sala de aula é fazer com que a escola dialogue com a sociedade e com a vida cotidiana dos estudantes. Nesse sentido, o professor teria o papel de selecionar as fontes de informação, orientar os alunos durante a navegação pelos conteúdos e na criação de soluções para os problemas encontrados. Por essa razão, deveria haver uma formação adequada para os professores, orientando-os no ensino de mídias.

Raquel Pacheco acredita que a sala de aula deve começar a virar um espaço mais democrático. Segundo a pesquisadora, isso não significa permitir aos alunos ficar conectados em seus celulares durante toda a aula, mas em alguns momentos dela, quando oportuno, o professor pode solicitar aos estudantes utilizar o celular para pesquisar assuntos em voga ou trabalhar de forma crítica e criativa a matéria que está sendo ensinada através do uso do aparelho.

O programa propôs exercícios críticos que o professor pode utilizar com os estudantes em sala de aula. Os professores podem, com seus alunos, procurar entender por que a mídia propaga tantos significados, perceber as intenções subjacentes às notícias e encontrar os motivos para um fato ser veiculado sob determinada perspectiva e não outra.