‖ ‖ ‖ Aline Camargo ‖ ‖ ‖
Realizada pela Fundação Perseu Abramo, uma abrangente pesquisa trouxe novos dados para o avanço da formulação de políticas de regulação de mídia. O estudo, disponível online, foi coordenado por Gustavo Venturi, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e Vilma Bokany, do Núcleo de Estudos e Opinião Pública da fundação.
Em questão, está a percepção da população brasileira sobre os meios de comunicação. Foram feitas 2.400 entrevistas com pessoas acima de 16 anos, que vivem na área urbana e rural de 120 municípios das cinco macrorregiões do país. Entre as pessoas ouvidas, 52,2 são mulheres, a maioria (65%) faz parte da população economicamente ativa e 40,3% estudou até o ensino médio.
Entre as questões apuradas, estão: qual o tipo de mídia mais consumida pela população? As pessoas se sentem representadas em interesses e imagens divulgadas pelos meios que consomem? Qual o papel que ocupa a internet em suas vidas? Qual a percepção sobre a neutralidade dos meios e as opiniões sobre a regulamentação do setor?
Quando questionados sobre a propriedade dos veículos de comunicação, sete em cada dez entrevistados não sabem que as emissoras de TV aberta exploram concessões públicas. Para 60%, são “empresas de propriedade privada, como qualquer outro negócio”. Mais da metade acredita que o número de grupos privados que controla as emissoras de TV e rádio no país é grande (55%). Para 25%, é médio; 12% avaliam que é pequeno.
A TV aparece como veículo de maior abrangência, alcançando 19 em 20 pessoas. A novidade refere-se à internet, que vem ganhando a preferência da população como veículo para se informar sobre a cidade, o Brasil e o mundo e aparece empatada com os jornais (43%).
A revista Veja aparece como a mais lida entre os entrevistados (50,2%), seguida por Isto é (12,5%), Época (11,6%) e Caras (10,7%).
Entre os entrevistados, 57% diz acessar a internet, e destes 68,6% a utilizam para buscar notícias/informações; 19,2% a utilizam como ferramenta de contato com amigos; 6,9% buscam entretenimento e 1,4%, compras. Entre os dez sites mais navegados, estão: Facebook (38,4%); Google (25,5); Globo (16,7); UOL (12,6%); Terra (7,3%); youtube (5,5%); R7 (4,9%); G1 (4,6%); Yahoo (3,1%); e-mail (2,6%).
Sobre a postura da mídia, 22% concordam plenamente que os meios de comunicação costumam ser neutros e imparciais; 29% afirmam que a cobertura do governo Dilma tem sido equilibrada e 18% acreditam que “quando noticiam um fato político, geralmente ouvem todas as correntes políticas envolvidas”.
Em relação à cobertura noticiosa, 36% avalia que “as notícias que aparecem na TV, nas rádios e nos jornais” cobrem a maior parte dos acontecimentos importantes. Para a maioria, o noticiário cobre cerca da metade (43%) ou apenas uma pequena parte (21%) do que seria importante.
As opiniões dividem-se em relação ao número de empresários de comunicação: 35% acreditam que a situação deveria ficar como está, 32% acreditam que o número de pessoas que controlam as emissoras deveria aumentar, e 22% defendem a diminuição do número.
Informados de que a maior parte dos meios de comunicação no Brasil pertence ou é controlada “por cerca de dez famílias”, a maioria avalia que isso é ruim para o país (40%); 30% é indiferente e, para 23%, a concentração é boa para o país.
A maioria das pessoas ouvidas (71%) é favorável a que haja mais regras para a programação veiculada na TV. Apenas 1 em cada 4 avalia que as regras atuais são suficientes (16%) ou que deveria haver menos regras (10%).
Frente à hipótese de que haja mais regras para a programação e publicidade na TV, a maioria (46%) manifesta-se favorável a que essa regulamentação seja definida e fiscalizada através de controle social, por um “orgão ou conselho que represente a sociedade”, 31% defendem a auto-regulamentação, como vigente, e 19% defendem o controle governamental.
A maioria se diz favorável a que TV não veicule palavrões (66%), não exponha gratuitamente o corpo da mulher (61%), não exponha cadáveres (60%), cenas de crueldade com animais (58%), cenas de nudez e sexo (53%), cenas de violência e morte (52%) e de uso de drogas (51%).
Entre 32% e 42% admitem tais conteúdos desde que com indicação de idade e controle de horários para sua exibição. A maioria é favorável a que não sejam exibidos na TV “conteúdos de violência ou humilhação” contra a população negra (54%), contra gays e lésbicas (54%) e contra mulheres (53%).
Em relação à diversidade e pluralidade na TV, para a maioria da população brasileira a TV trata dos problemas do Brasil menos do que deveria. Para 51%, a TV mostra a realidade apenas em parte; 23,1% acreditam que o veículo esconde a realidade. Para 54,3% dos entrevistados, a TV mostra a realidade do brasileiro, “mas não muita”; 21,9% acredita que a realidade do cidadão não é representada na TV.
Quando questionados sobre “a TV mostra pessoas como você?”, 43,3% afirmaram que não costuma mostrar, 31,6% acreditam que mostra de modo positivo, e 25,2%, de modo negativo. Para 46,8%, a TV retrata as mulheres “às vezes com desrespeito” e 16,8% “quase sempre com desrespeito”.
Espera-se que a pesquisa seja amplamente divulgada e propicie debates acerca da temática da mídia no país, levando às pessoas informações que potencializem discussões sobre, por exemplo, a democratização da gestão e dos conteúdos midiáticos.