Estreia da MTV é bem vista pela mídia especializada


‖ ‖ ‖ Mariane Bovoloni Dias ‖ ‖ ‖ 

 

Em maio, a MTV lançou a minissérie “A menina sem qualidades”, baseada no livro homônimo da escritora alemã Juli Zeh e dirigida por Felipe Hirsch. Esta é a primeira vez que o canal de música produz uma série de teledramaturgia e, segundo o seu site oficial, a trama traz um “retrato surpreendente da juventude atual”.

A série aborda o universo adolescente. Ana, uma jovem paulistana de 16 anos, é viciada em livros, tem inteligência acima da média e não consegue se relacionar bem com os colegas. Em uma das escolas que estudou, foi expulsa após uma briga. A situação muda quando, já em outro colégio, ela conhece Alex, outro adolescente desajustado.

Para esta crítica, foram analisadas quatro críticas, veiculadas na internet por Folha de S. Paulo, IG, Veja e O Globo, com o objetivo de apontar como a produção da MTV foi avaliada pelos críticos especializados em cultura.

No dia 27 de maio, a Folha de SP publicou uma crítica intitulada “Felipe Hirsch renova teledramaturgia adolescente”, de Thales de Menezes. Segundo o texto, a produção mereceria uma “audiência sem idade, pois não se assemelha a nada que já tenha sido feito”. Faz elogios quanto à qualidade da fotografia e aos diálogos complexos e densos, aos bons atores. Com seus 12 episódios, a séria “pode transformar uma década de ‘Malhação’ em um grande equívoco”. O autor também elogia a boa trilha sonora de rock indie.

No dia seguinte à estreia, 28 de maio, saíram duas críticas. A primeira foi na coluna “Na TV”, do site IG. Com o título “A menina sem qualidades, da MTV, é intensa e perturbadora, mas distrai ao fazer música ofuscar a história”, o colunista Fernando Oliveira considera que, por ser dirigida por um experiente profissional como Felipe Hirsch, a série já é vista de forma positiva. Fernando tece elogios à fotografia e aos planos-sequência. Também escreve que há cenas tão fortes e surpreendentes que o espectador tem que lidar com choques. Para Fernando, o único problema é quanto ao som e à trilha sonora. “Embora cheia de músicas incríveis, acaba sendo usada em demasia em determinadas cenas, o que acaba por despertar a seguinte questão: estaria a trilha a serviço da série ou a série a serviço da trilha?”. Segundo ele, isso se explica pela MTV ser um canal musical, mas o problema persiste.

A segunda crítica do dia 28 de maio foi de Fernanda Furquim, no site da revista Veja. Nela, a autora destaca um equívoco da MTV: veicular que “A menina sem qualidades” é sua primeira incursão na teledramaturgia, quando em 2009 foi produzida a série “Descolados”, com texto de Luca Paiva Mello. Ainda assim, Fernanda elogia o roteiro, o elenco e a fotografia. “A imagem não se sobrepõe nem engole os personagens, dando-lhes liberdade de existir”. Mesmo com os elogios, a resenha de Fernanda é mais contida: ela escreve que no primeiro episódio a história mostra que “será movida pela psicologia dos personagens e não (…) manipulados pelos roteiristas”, mas é preciso “ver se vale a pena”.

No dia seguinte, 30 de maio, Patrícia Kogut escreveu sobre a série em sua coluna no site do “O Globo”. Sua opinião já é clara no título: “A imperdível ‘A menina sem qualidades’ da MTV”. Segundo ela, a série “é um dos mais finos biscoitos da recente produção nacional na televisão”. A trama encontra seu equilíbrio ideal e vai falando por si, trazendo uma representação muito sensível da adolescência e fugindo do estereótipo “bonitonas-e-fortinhos” que domina as produções voltadas para o público adolescente. O único defeito que ela aponta é o “enciclopedismo artificial”, com excesso de citações. Ainda assim, contorna: isso funciona “como uma conexão entre a angústia de Ana e o mundo externo dela”. Sua conclusão: “se Hirsch contribui muito para o teatro, ele é muito bem-vindo na televisão”.

As quatro críticas analisadas vêem com bons olhos a produção da MTV e seu retrato sobre a juventude atual. Há repetidos elogios à densidade dos diálogos, ao bom elenco, e à fotografia. Soma-se a isso a direção de Felipe Hirsch, responsável pela boa qualidade da produção. As únicas críticas estão relacionadas à trilha sonora − quando as músicas se sobressaem em detrimento da série − e ao excesso de citações, encarado como a forma em que a protagonista se conecta com o ambiente externo.