‖ ‖ ‖ Aline Camargo ‖ ‖ ‖
O conceito de comunicação pública é bastante amplo e em processo de construção. De acordo com Brandão (2007) e Duarte (2007), a comunicação pública é um processo comunicativo entre Estado, governo e sociedade com o objetivo de informar e construir cidadania. Entre seus compromissos estaria o de privilegiar o interesse público em relação ao interesse individual, centralizar o processo no cidadão e tratar comunicação como processo mais amplo do que informação. Assim, o desafio dos comunicadores públicos estaria na utilização da comunicação como instrumento de interesse coletivo para fortalecimento da cidadania. Já o conceito de cidadania está ligado ao estabelecimento e exercício de direitos e deveres, tendo como maior símbolo a Constituição.
Para Barbosa (2009), a definição de comunicação pública passa por três requisitos básicos: prestação de informações, informação significativa e participação. Os três pontos constituem princípios de transparência administrativa presentes na Constituição de 1988. O ideal de transparência atribuiu maior relevância à comunicação pública e colocou o direito à informação como condição para o estabelecimento da democracia e exercício da cidadania. No entanto, a transparência vai além da simples disponibilização de informações: além de informar, é preciso dar sentido às informações e suscitar discussões.
Comunicar ciência e tecnologia
De acordo com Lima, Neves e Dagnino (2008, p. 1), “a crescente influência da C e T em diferentes dimensões da vida moderna torna cada vez mais indispensável o entendimento das questões científico-tecnológicas para o exercício da cidadania”. Uma política de popularização da ciência poderia estimular a participação pública em escolhas e direcionamentos da ciência e tecnologia e contribuir para a inclusão dos interesses de grupos sociais. “Nesse sentido, as ações para promover a popularização da ciência podem ser entendidas também como estratégicas para impulsionar a inclusão social” (2008, p. 1).
Segundo Brandão (2007, p. 3) o objetivo da comunicação é “criar canais de integração da ciência com a vida cotidiana das pessoas, ou seja, despertar o interesse da opinião pública em geral pelos assuntos da ciência”. Há dois principais pontos que identificam as atividades de comunicação científica como comunicação pública. O primeiro deles diz respeito à divulgação científica, em que o público é colocado como receptor e o objetivo é a popularização dos feitos da ciência. Em segundo lugar, a comunicação da ciência pode ser vista como comunicação pública em razão da produção e da difusão do conhecimento, que “incorporaram preocupações sociais, políticas, econômicas e corporativas que ultrapassam os limites da ciência pura e que obrigam as instituições de pesquisa a estender a divulgação científica” (BRANDÃO, 2007, p. 4).
A maior preocupação com o papel social da ciência na sociedade, principalmente nos últimos vinte anos, e o aumento da competitividade entre equipes de pesquisa e os altos investimentos em dinheiro colocaram a ciência em destaque, fortalecendo a premissa de que o acesso às informações de ciência e tecnologia é fundamental para o exercício da cidadania.
O direito à informação aparece como particularmente relevante por ser um meio para acesso e uso dos outros direitos referentes à cidadania. Como observa Duarte (2007, p. 67), “as pessoas que mais precisam de informação em geral são as que têm menos acesso aos mecanismos de transmissão e orientação ou possuem mais dificuldades de compreesnao de seu significado”.
A divulgação científica, em grande parte realizada pelo jornalismo e de relevante importância, cede lugar à “necessidade de posicionar a ciência no que se refere às decisões políticas e econômicas do país e, por conseguinte, a necessidade de legitimação perante a sociedade”, o que significa despertar o interesse da opinião pública, dos políticos, da sociedade organizada e, principalmente, da mídia. “Para isso, é crucial que o campo científico e o campo da mídia sejam cada vez mais próximos”, conclui Brandão (2007, p. 4).
Assim, a comunicação pública diz respeito “à gestão das questões públicas e pretende influir na mudança de hábitos da população, bem como na tomada de decisão política a respeito de assuntos de ciência que influenciam diretamente a vida do cidadão”, ressalta Brandão (2007, p. 4).
Monteiro (2007) destaca que, embora não seja o único, “a mídia é o principal instrumento de difusão das visões de mundo e dos projetos políticos nas sociedades contemporâneas”. No entanto, de acordo com Miguel (2002, p. 163) “o problema é que os discursos que ela veicula não esgotam a pluralidade de perspectivas e interesses presente na sociedade”, o que resultaria, na opinião do autor, na insuficiente representação da diversidade social.
Como consequência da relativa nova posição da ciência e tecnologia junto à opinião pública, cresce também o papel do profissional de divulgação da C e T. O trabalho da comunicação da ciência aparece ligado à noção de compromisso público e de prestação de contas, tendo como objetivo o cumprimento da cidadania e o posicionamento da sociedade como gestor de políticas públicas de ciência e tecnologia.
Referências
BARBOSA, H. Comunicação pública digital em ciência e tecnologia. In: SOUSA, C. M.; HAYASHI, M. C. P. I.; ROTHBERG, D. (orgs.). Apropriação social da ciência e tecnologia: contribuições para uma agenda. Campina Grande: Eduepb, 2011.
BRANDÃO, E. P. Conceito de comunicação pública. In: DUARTE, J. (org.) Comunicação pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. São Paulo: Atlas, 2007.
DUARTE, J. Comunicação pública: estado, governo, mercado e interesse público. São Paulo: Atlas, 2007.
DAGNINO, R.; LIMA, M. T.; NEVES, E. F. Popularização da ciência no Brasil: entrada na agenda pública, de que forma? Journal of Science Communication, v. 7, n. 4, 2008.
MIGUEL, L. F. Os meios de comunicação e a prática política. Lua nova, n. 55-56, p. 155-184, 2002.
MONTEIRO, G. F. A singularidade da comunicação pública. In: DUARTE, J. (org.) Comunicação pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. São Paulo: Atlas, 2007.