‖ ‖ ‖ Alexandre Lopes e Jéssica de Cássia Rossi ‖ ‖ ‖
A versão digital do jornal Folha de S. Paulo, na seção Cotidiano, nos dias 27 e 28 de setembro de 2012, publicou as seguintes matérias: Crianças passam mal após tomarem sedativo em hospital da Grande SP e Crianças internadas foram medicadas com ácido em vez de sedativo. São abordados dois casos de reações graves a ingestão de um medicamento tido como sedativo, em um mesmo hospital. Segundo a fonte, a conduta de administrar sedativo é indicada antes da realização de exames para as crianças permanecerem calmas durante os procedimentos.
Na primeira notícia, o jornal responsabiliza uma enfermeira pela administração desse medicamentos em duas situações diferentes. Em ambos os casos, houve reações adversas. Segundo a matéria, um médico foi acionado, e medidas de urgência foram tomadas. Uma das crianças medicadas necessitou ser internada e se encontrava em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva do mesmo hospital. Já o segundo texto especifica que a medicação administrada é, na verdade, um ácido utilizado em condutas dermatológicas e teria sido dado por engano às crianças. A matéria informa o início de investigação policial sobre o caso e reproduz depoimento de uma das profissionais envolvidas.
As duas notícias analisadas abordam a administração de medicamentos por profissionais de enfermagem. Verificamos que, na primeira notícia, essas profissionais são denominadas como ‘enfermeiras’ e, na segunda notícia, publicada um dia depois, há uma divergência em relação a quem administrou de fato o medicamento: “a enfermeira que medicou a menina alegou ter recebido de outra técnica de enfermagem o medicamento (…). Ele [o paciente] foi medicado por outra técnica de enfermagem não identificada pela reportagem”.
Segundo estudos de representações sociais sobre profissionais da saúde, o termo “enfermeira” é usado como denominação comum conceituada a qualquer profissional da enfermagem nos meios de saúde, independentemente de sua formação ou posição na instituição. Dessa forma, acreditamos que o texto utiliza-se desta denominação comum para se referir aos profissionais em questão, sem mesmo verificar, corretamente, o cargo dos envolvidos no fato. Por isso, na segunda notícia, verificamos que o jornal não soube apontar qual o profissional que, de fato, cometeu o erro. Esse tipo de representação, muitas vezes, pode reforçar estereótipos da profissão.
O que se tem visto nos últimos anos é a veiculação de notícias relacionadas a erros de enfermagem. Na maioria das vezes, esses erros são cometidos por auxiliares ou técnicos de enfermagem. Porém, como se utiliza a denominação comum de “enfermeiro” na mídia, esses erros são transferidos ao profissional da área, com curso superior, que podem levar a estereótipos e generalizações em relação a essa profissão.