Regulação, ética jornalística e guias editoriais


‖ ‖ ‖ Maria Eduarda Kalil ‖ ‖ ‖

 

Três meses após a divulgação, pelas Organizações Globo, de um documento com os princípios editoriais que devem reger o trabalho jornalístico realizado pela empresa, é possível esboçar uma análise preliminar de seu impacto sobre as redações. A novidade foi noticiada pelo Jornal Nacional e revistas e jornais do grupo, como Época e O Globo.

O fato desperta questionamentos sobre o papel das Organizações Globo no jornalismo brasileiro e à importância e repercussão de guias de autorregulamentação de um dos grupos de maior abrangência econômica e social do país. Pode-se dizer que, por se tratar de uma emissora de grande alcance, a divulgação de um manual que explica a concepção do grupo sobre jornalismo e disserta sobre sua relação com o público, abrangendo preceitos como isenção e correção, aproximaria o leitor/espectador da produção jornalística e buscaria convencê-lo de que a informação está acima de qualquer interesse da empresa.

Como exemplo, temos o tópico a, do subtítulo “2) Diante do público”, contido na seção “Como o jornalista deve proceder diante das fontes, do público, dos colegas e do veículo para o qual trabalha”, segundo o qual “o público será sempre tratado com respeito, consideração e cortesia, em todas as formas de interação com os jornalistas e seus veículos: seja como consumidor, seja como fonte delas”.

Muitos aspectos parecem rebater as críticas sofridas pela empresa. De acordo com o documento, “não pode haver assuntos tabus” para o jornalismo da Globo. E “as Organizações Globo serão sempre apartidárias, laicas e praticarão sempre um jornalismo que busque a isenção, a correção e a agilidade, como estabelecido aqui de forma minuciosa”.

Como iniciativa de autorregulamentação, o manual da Globo se sucede ao programa lançado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) em maio deste ano, que contém cinco tópicos: reconhecimento e publicação de erros; canais de atendimento aos leitores; publicação de cartas/e-mails de leitores; fóruns de análise crítica; processo de relacionamento com os leitores.

Mas há uma diferença fundamental entre os dois. A ANJ abrange ombudsman e conselhos de leitores, enquanto a Globo silencia sobre estas importantes instâncias.