Blog incentiva crescimento do jornalismo colaborativo


‖ ‖ ‖ Mariane Bovoloni ‖ ‖ ‖

 

Um espaço virtual que pretende estimular o jornalismo não-superficial, as análises não- convencionais e a divulgação de informações inéditas. E isso através da participação dos próprios leitores, já que “a aventura de conhecer e narrar o mundo deixou de ser privilégio dos jornalistas”. É assim que se define o blog “Ponto de Cultura”, criado em setembro de 2011 pelo site “Outras Palavras”.

Mantido pela mesma equipe que fundou o Le Monde Diplomatique Brasil e o editou até março de 2009, o site “Outras Palavras” foi lançado com o objetivo de desenvolver um jornalismo de profundidade e espírito crítico, a fim de contribuir para a superação da hegemonia da comunicação de massa e o controle social que ela exerce.

O conteúdo de “Outras Palavras” é formado de análises ou textos breves sobre fatos que repercutem sobre a realidade nacional e internacional. As fontes são consideradas “alternativas” e possibilitam enxergar o que a mídia controlada pelo mercado ignoraria.

O site também colabora com demais publicações envolvidas na “construção de um novo jornalismo”. Entre elas está a Agência de Notícias Inter Press Service (IPS), uma das principais fontes mundiais de informações sobre temas globais.

Os esforços da equipe do site “Outras Palavras” se baseiam na crença de que a comunicação compartilhada é uma força em potencial de transformação. E isso se justifica porque, segundo seus produtores, sociedades que dependem de pequenos grupos ou empresas para compreenderem sua própria realidade são facilmente controladas. O subtítulo do site é “Comunicação compartilhada e pós-capitalismo – em mudanças!”.

Dentro dos esforços de estimular o jornalismo colaborativo, os leitores do site contam com três canais de participação. O primeiro é através dos comentários que, apresentando diferentes pontos de vista, podem gerar novos temas para as análises do site.

O segundo modo é a colaboração regular, formada por um grupo de pessoas responsável por acompanhar temas nacionais e internacionais relevantes, escrever e divulgar no site. A busca é pela criação de um material jornalístico contextualizado.

A terceira forma de participação dos leitores é a colaboração incentivada. Um grupo de pessoas conta com uma ajuda de custo simbólica, de 300 reais durante três meses, e se torna responsável por acompanhar e escrever sobre a cobertura de temas relevantes.

Ao analisar o conteúdo do blog, percebe-se que um assunto de destaque é o movimento “Ocupem Wall Street”. Na matéria “Oakland: imagens da violência contra o movimento Occupy”, há um vídeo sobre a repressão da polícia estadunidense contra manifestantes na Califórnia. O autor critica a atitude violenta da polícia e cita que um dos manifestantes, veterano da Guerra do Iraque, teria sido ferido na cabeça por uma bomba de gás lacrimogêneo e estaria no hospital em estado grave. A repressão, segundo a matéria, seria o “suposto caráter ilegal do acampamento”. O autor torce para que a violência não provoque uma baixa no movimento Occupy nos Estados Unidos.

Em outra matéria, “O homem que não mudou o mundo”, o autor critica a imagem de “gênio visionário” que Steve Jobs estaria recebendo da mídia de massa. Embora tenha sido um empresário de sucesso que incorporou, ao dia a dia das pessoas, produtos tecnológicos de grande importância, Jobs manteve a linha de produção típica do sistema capitalista. As empresas da Apple, segundo o texto, instalam-se em países como a China para aproveitar o baixo custo da mão-de-obra e os frágeis direitos trabalhistas. São comuns os casos de suicídio, intoxicação química, explosões e exploração de trabalho infantil nas empresas.

A matéria “A cidade sem catracas – Parte I: Cultura do automóvel” apresenta as dificuldades na mobilidade urbana em uma cidade do porte de São Paulo. Há o dado de que, em 2 de setembro de 2011, a cidade alcançou o recorde de 220 km de congestionamento. E, por sua vez, o governo paulistano investe um real no transporte público a cada 12 reais que investe em incentivos ao transporte particular, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. A autora do texto considera que ações políticas deveriam ser realizadas no sentido de diminuir o uso de carro particular e investir na manutenção de calçadas, expansão do metrô, quantidade e qualidade de ônibus e ciclovias.

Nas postagens analisadas, há um grande conteúdo crítico. As informações não recaem sobre o senso comum, explorado com exaustão pelos meios de comunicação de massa. Pelo contrário. Há novas fontes, contextos e visões. A linguagem utilizada é simples e acessível. Em conclusão, pode-se considerar que o blog “Ponto de Cultura” é uma iniciativa valiosa, pois incentiva o jornalismo colaborativo e proporciona aos internautas uma fonte de informações longe das influências do mercado.