‖ ‖ ‖ Alexandre Lopes e Jéssica de Cássia Rossi ‖ ‖ ‖
Segundo relatório divulgado em fevereiro de 2011 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil está entre os entre os países que aumentaram excessivamente o consumo de bebidas alcoólicas. De acordo com o documento, em 2005 a média do consumo de álcool foi de 6,2 litros por brasileiro, que totalizam mais de 1 bilhão de litros consumidos.
O consumo de bebidas tem crescido entre os adultos os jovens. Isso pode ocorrer porque o álcool é uma droga lícita e há o incentivo de consumo pela mídia. As pessoas, principalmente as mais jovens, não se sentem culpadas em consumi-las regularmente. As bebidas alcoólicas estão associadas à sensação de prazer e servem como artifício para que os jovens se enquadrem em tendências e grupos sociais.
Não é raro o jovem buscar constantemente novas formas de prazer. Nesse sentido, ele se depara com varias formas associativas de drogas, lícitas ou ilícitas. A combinação de bebidas em busca de sensações prazerosas permeia a juventude, pela variedade de produtos disponíveis no mercado. Tais associações em sua maioria trazem prejuízos à saúde, mesmo que sejam elas comercializadas legalmente.
Nos últimos anos, o consumo de bebidas alcoólicas tem sido feito em associação com o consumo de bebidas energéticas, que contêm substâncias estimulantes para dar mais disposição aos usuários. Muitas pessoas, principalmente os jovens, a consomem em associação com as bebidas alcoólicas para terem disposição principalmente em “baladas” e programas noturnos. Discute-se se esse tipo de bebida favorece ou não o aumento do consumo de bebidas alcoólicas.
Em 30 de outubro de 2011, o jornal Agora São Paulo publicou a matéria Consumo de bebida energética com álcool deve ser evitado, de Fabio Saraiva, sobre o perigo misturar bebidas energéticas e alcoólicas. O lead da matéria destaca as principais doenças cardíacas que o consumo pode provocar. O jornal aponta o crescimento significativo nas vendas desse tipo de bebidas, que conforme “[…] dados da Abib (Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas não alcoólicas) […]” cresceram “[…] 371% entre 2005 a 2010”. A matéria indica que esse aumento não é bem visto pelos médicos porque a bebida contém substâncias que podem fazer mal a pessoas com pressão alta ou com problemas cardíacos. Isso ocorre até mesmo com pessoas saudáveis.
Saraiva sustenta que os energéticos estimulam o consumo de álcool, o que é contestado pela Abir, que argumenta: “a quantidade de cafeína encontrada em cada “lata do produto da líder do mercado”, cerca de 80 mg, é semelhante à quantidade de cafeína de “uma xícara de caféde 150 ml”.
A reportagem indica que os energéticos chegaram ao Brasil no final dos anos 1990. “‘Ainda não existem estudos sobre os efeitos da mistura dessa substância no organismo em um longo prazo’, diz Marco Aurélio Magalhães, coordenador da área de cardiologia intervencional do Hospital Alemão Oswaldo Cruz”.
Percebemos que a matéria adota um posicionamento razoavelmente equilibrado. Entretanto, verificamos que o autor busca, principalmente quando aborda os efeitos negativos do consumo da bebida, se respaldar em dados científicos para dar validade à sua argumentação. Por isso, pensamos que a matéria aborda mais os efeitos negativos do consumo de bebidas energéticas.
Além disso, vemos que a reportagem é acompanhada de ilustrações e tabelas que facilitam a explicação sobre as consequências que as bebidas energéticas trazem para saúde. Pensamos que a utilização desses recursos ilustrativos tem por objetivo chamar a atenção dos leitores para o assunto, visto que o tema poderia parecer desinteressante se fosse abordado somente na forma de texto.
Há também outro texto no conjunto da reportagem, denominado “Orientações nas latas são ignoradas, diz pesquisa”, que indica que há informações sobre as precauções de consumo das bebidas energéticas. Contudo, de acordo com a pesquisa da Unifesp, 76% dos pesquisados “[…] ignoravam o risco e bebiam energéticos juntamente com vodka, uísque ou cerveja”.
Com essa argumentação, a matéria do jornal Agora São Paulo transfere a responsabilidade do consumo inadequado de bebidas energéticas para o consumidor e não para os órgãos públicos reguladores e as fabricantes de bebidas energéticas.
De modo geral, verificamos que a reportagem não discute as causas sociais que levam ao consumo de bebidas energéticas e bebidas alcoólicas, principalmente por jovens, e o problema de saúde pública que isso representa.