‖ ‖ ‖ Maria Antonia Vieira Soares e Malena Pignatari ‖ ‖ ‖
A licenciatura em Educomunicação iniciada em fevereiro deste ano pela ECA/USP, com a acolhida de 30 alunos num curso noturno, traz uma proposta de discussão para comunicadores, educadores e profissionais de mídia: o que pensar sobre essa nova categoria profissional, o educomunicador, e a atuação desse campo de estudos que em sua grade curricular une teorias comunicacionais e filosofia da educação? Ou ainda: como um comunicador ou um educador pode estabelecer relação com práticas educomunicativas a fim de adotar pedagogias menos rígidas e mais colaborativas?
A educomunicação é um campo de estudos interdisciplinar que integra Comunicação e Educação e também surge como um campo de síntese dialética entre a Pedagogia e a Comunicação. Segundo Ismar de Oliveira Soares, professor e coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da USP (NCE), o campo da Educomunicação é compreendido como um novo gerenciamento, aberto e rico, dos processos comunicativos dentro do espaço educacional e de seu relacionamento com a sociedade. Há ainda um terceiro termo proveniente da união entre educação e comunicação: a ação. É a participação que de fato contribui para a abertura de caminhos em direção a construção da cidadania e da intervenção na área de políticas públicas. Logo, a educomunicação também é um conjunto de ações que visam criar ecossistemas comunicativos, viabilizados pelas tecnologias da comunicação e voltados para a prática da cidadania. Trata-se de uma educação voltada para que as pessoas possam entender o mundo e serem ativas na construção da cidadania, como preconizou Paulo Freire.
Ecossistemas comunicativos são um conceito vinculado a área de gestão da comunicação no espaço educativo (planejamento, execução e realização), que designa a organização do ambiente, a disponibilização dos recursos, o modus faciendi dos sujeitos envolvidos e o conjunto das ações que caracterizam determinado tipo de ação comunicacional.
A educomunicação trabalha, portanto, com a perspectiva da educação como uma mediadora importante para o confronto analítico e prático com a vida, para convivências saudáveis, para a construção da democracia, da valorização dos sujeitos, da criatividade e identificar para que serve o conjunto dos conhecimentos compartilhados.
Perfil profissional
O educomunicador, segundo informações do próprio CCA-ECA/USP, estará habilitado para prática docente (professor de comunicação para o Ensino Médio) assim como para o exercício de consultorias junto aos órgãos governamentais, à mídia, ao sistema educacional (fundamental, médio e superior) e ao terceiro setor, em programas e projetos relacionados às diferentes interfaces entre comunicação, tecnologias de informação e educação.
Enquanto professor, o educomunicador irá suprir a demanda criada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional quando, já nos meados da década de 90, introduziu a comunicação, suas tecnologias e linguagens como conteúdo e como suporte metodológico no ensino médio brasileiro.
Como consultor, o educomunicador poderá prestar serviços nos meios impressos, audiovisuais e digitais, assim como em projetos mantidos por organizações e empresas, voltados para a gestão da comunicação em espaços educativos ou em áreas de produção destinadas à educação.
Para que essa intervenção social relativa ao campo de estudos ocorra é necessário que os profissionais da educomunicação trabalhem com o conceito de planejamento, implementação e avaliação de projetos, desenvolvendo suas atividades assistidos por teorias da comunicação que garantam a dialogicidade dos processos comunicativos. Nesse sentido, salienta-se que as teorias das mediações proporcionaram uma visão mais lúcida do processo de recepção, promovendo importante mudança na pedagogia da educação para os meios. O que o novo campo quer discutir na perspectiva desse receptor crítico é o inegável: os atuais e os vindouros paradigmas da educação em seu confronto/associação com o mundo da informação e sobre o papel do professor/instrutor nesta revolução tecnológica. E para muitos especialistas, a questão-chave não está nas tecnologias, mas no próprio modelo de comunicação adotado.
Assim sendo, o educomunicador tem como um de seus desafios desenvolver ecossistemas comunicativos. Nesse processo, as ações do educomunicador devem estar qualificadas como inclusivas (os membros da comunidade não podem se sentir fora do processo); democráticas (reconhecendo fundamentalmente a igualdade entre as pessoas envolvidas); midiáticas (valorizando as mediações possibilitadas pelos recursos da informação); criativas (sintonizadas com diversas formas de manifestação da cultura local).
O que o instrutor educomunicativo procura fazer em benefício da questão do ensino-aprendizagem em sala de aula é analisar os processos de comunicação num ambiente escolar. A pergunta da educomunicação não é como usar melhor o rádio ou o jornal ou a internet, mas como utilizar esses recursos para melhorar as relações de comunicação e como usar a estratégia educomunicativa para a produção midiática. Para alguns estudiosos, o estímulo a produção horizontal do conhecimento em sala de aula pode ser uma das ferramentas promissoras contra a realidade da evasão escolar.