‖ ‖ ‖ Juliana Baptista ‖ ‖ ‖
Em 15 de junho, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o Estado deve garantir a proteção dos manifestantes nas marchas que defendem a descriminalização da maconha, segundo o argumento de que proibi-las fere o direito constitucional de liberdade de expressão. A decisão foi tomada depois da repercussão negativa da repressão policial na marcha ocorrida em São Paulo no dia 21 de maio.
Poucos veículos de comunicação abordaram com profundidade o caso, deixando a desejar na cobertura de um fato que feriu os direitos dos cidadãos e também da imprensa. De qualquer forma, as reportagens que abordaram o evento e mostraram o abuso de poder das autoridades e a violência gratuita devem ter contribuído para que as pessoas que não participaram da manifestação pudessem se informar do ocorrido com matérias plurais, como a citada a seguir.
O portal Folha.com publicou no dia 22 de maio, na seção TV Folha, uma reportagem sobre os incidentes ocorridos na Marcha da Maconha em São Paulo. A marcha tinha sido proibida pelo STF no dia anterior com a alegação de que o movimento era uma apologia às drogas, algo proibido por lei. Durante a marcha, houve repressão por parte da Polícia Militar, que perseguiu os manifestantes durante três quilômetros, agiu com violência e acabou agredindo até os repórteres que faziam a cobertura do evento.
A reportagem entrevistou a ex-vereadora Soninha Francine, que é a favor da manifestação, e também deu espaço aos policiais para que pudessem dar a sua versão do ocorrido. Ao mesmo tempo em que ofereceu a oportunidade para a Polícia explicar a reação da tropa de choque, mostrou as cenas do que realmente aconteceu: policiais agindo de forma violenta, atirando balas de borracha em manifestantes desarmados e jogando gás de pimenta nos jornalistas que estavam no local. Cenas que se assemelham muito com a repressão sofrida na época do regime militar.
O repórter pergunta se houve exagero da polícia, e o capitão Del Vecchio responde: “Não, foi tudo totalmente dentro dos limites”. Teria havido apenas um procedimento padrão da polícia para dispersar a multidão. Mas a reportagem mostra cenas de policiais agredindo jovens desarmados e agindo violentamente contra os jornalistas que tentavam registrar as cenas. A filmagem é interrompida quando o cinegrafista é atingido por um policial e cai no chão.
A cobertura priorizou a informação, deu voz aos dois lados envolvidos e conseguiu mostrar ao público o incidente. Muitos veículos se resumiam a abordar a repressão da polícia como apenas uma represália sofrida pelos defensores da maconha, mas a Folha fez diferente. A reportagem não focou apenas em mostrar o abuso de autoridade, mas também que a polícia bate e depois pergunta, não distingue entre manifestantes e imprensa.