Ananias e a possibilidade de obter conhecimento pela informação


‖ ‖ ‖ Kátia Viviane da Silva Vanzini ‖ ‖ ‖

 

Você se considera uma pessoa bem informada? Existe uma maneira de mensurar o quanto uma pessoa está antenada com o que acontece em seu país e no mundo? Qual a quantidade e quais são os veículos de comunicação que devemos acompanhar para que possamos estar bem informados?

Independente das respostas a estas perguntas, a questão que realmente deveria ser feita é: o que é estar bem informado, visto que vivemos num processo sem fim de produção de significados, construindo e reconstruindo a realidade que nos cerca?

Baccega (1998) destaca que a comunicação é a produção social do sentido e que ela se concretizar são necessários o discurso, a subjetividade e o contexto, ou seja, a formação ideológica e social.

Mas é no dia a dia, na prática profissional, quer entrevistando uma pessoa ou conversando com um estranho, que provamos o quanto a teoria se aproxima da vida real, principalmente no que a autora denomina incorporação dos discursos.

Recentemente, no programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, um personagem chamou a atenção e roubou a cena. Sr. Ananias, 76 anos, pai de sete filhos, que frequentou até o quarto ano do ensino fundamental, demonstra que, ao contrário de uma primeira impressão que o definiria como lavrador pobre, sem conhecimentos, sem instrução e sem estudo, é possível fazer parte do processo que dá sentido ao real.

O lavrador, que diz não assistir televisão há mais de dez anos, escuta diariamente a CBN, rádio de notícias 24 horas, o que lhe permite tecer comentários e fazer declarações sobre diversos assuntos, como o caso de violência contra crianças numa escola no Rio de Janeiro; o tsunami no Japão; a crise econômica nos países europeus; os desafios de Dilma Roussef frente à presidência da república.

Os efeitos que rádio causam na vida de S. Ananias trazem a possibilidade de ver na prática o que Baccega aponta sobre a comunicação como processo permanente de produção do significado, ou seja, permitem observar a construção da realidade na vida de um lavrador pobre, quase analfabeto. As notícias que ouve em seu rádio de pilha o tornam social.

Quando Ananias é questionado sobre diversos temas, tais como trabalho, desemprego, felicidade, futuro da humanidade e desenvolvimento sustentável, mais uma vez o humilde lavrador reflete o que os teóricos chamam ou debatem sobre a aura de conhecimento proporcionada pelos meios de comunicação agregada à informação e a incorporação dos discursos.

O quanto Sr. Ananias conhece do mundo pela via da informação é inquestionável, mas, que mundo é este retratado, tornando realidade, tornado social? Na verdade, o que devemos avaliar ao ler uma notícia num jornal ou assistir a um programa jornalístico de televisão é se os meios de comunicação nos levam a pensar ou nos induzem a acreditar num real simulado e se a informação gera conhecimento ou apenas perpetua o que se quer fazer conhecer.

 

Referência: BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação e linguagem: discurso e ciência. 1ª edição. São Paulo: Moderna, 1998.