A cobertura da VEJA do caso Pimenta Neves


‖ ‖ ‖  Helena Schiavoni Sylvestre ‖ ‖ ‖

 

No fim do mês passado, o jornalista Pimenta Neves, réu confesso de Sandra Gomide, foi condenado a 15 anos de prisão após o Supremo Tribunal Federal ter rejeitado o último recurso apresentado pelos advogados. Pimenta Neves assassinou a jornalista e ex-namorada em 2000 e, após 11 anos do assassinato, o STF decretou sua prisão.

A notícia sobre a prisão de Pimenta Neves foi publicada, entre outros veículos, por VEJA, Folha de São Paulo e portal G1. Porém, as abordagens dos três veículos foram diferentes.

Tanto a VEJA quanto o G1 publicaram notícias pequenas sobre o caso Pimenta Neves. Além disso, os dois veículos escreveram sobre o local onde o jornalista ficará encarcerado. Entretanto, a VEJA enquadra a matéria de maneira a mostrar o suposto conforto da cela em que Pimenta Neves ficará. Para isso, destaca o fato de que, apesar de ele estar em uma cela de nove metros quadrados, o local tem o dobro do tamanho da cela onde passou sua primeira noite preso. Além disso, a matéria também enfatiza o fato de ele ficar alojado em pavilhão destinado a presos com nível superior.

Em contrapartida, o G1 também descreve a situação do jornalista na prisão, mas dessa vez sob um aspecto negativo. Diferentemente da VEJA, o G1 destaca o fato de ele ser tratado como preso comum, sem regalias. G1 também coloca que a penitenciária na qual Pimenta Neves se encontra suporta 239 pessoas, mas abriga 322, e que ele passaria pelo procedimento padrão de todo preso. Essas informações também acentuam a intenção do G1 de mostrar que o jornalista não está em vantagem.

Ao final das matérias, tanto a VEJA quanto o G1 relembram o ocorrido e colocam qual foi a decisão do STF em relação à defesa do jornalista. A VEJA ainda coloca que a também jornalista Sandra Gomide rompeu o relacionamento de dois anos com Pimenta Neves, e isso lhe rendeu a demissão do jornal O Estado de S. Paulo, veículo do qual Pimenta Neves era diretor de redação.

O G1, porém, insistiu em mostrar que o jornalista não receberá vantagens: Pimenta Neves “não poderá conceder entrevistas durante o período de observação e apenas receberá visitas da advogada”.

No caso específico da Folha de São Paulo, a contextualização da matéria foi mais ampla. O jornal, além de dar a notícia da condenação de Pimenta Neves, colocou informações essenciais sobre o assassinato de Sandra Gomide. A Folha também justificou um dos motivos para caso ter ganhado tanta repercussão nas mídias: por ser o caso mais emblemático de impunidade da história do Brasil.

Apesar de crimes similares a este acontecerem com freqüência no Brasil, os veículos de comunicação deram destaque ao caso Pimenta Neves pelo fato de ele ser ex-diretor do Estadão. Ou seja, por ser uma figura de alto escalão dentro do círculo jornalístico do país. É possível, portanto, que essa seja uma situação em que, mais que refletir a realidade, os veículos pautam a sociedade, trazendo relevância àquilo que é colocado pela mídia.