Giovani Vieira Miranda
O jornalista da Rede Bandeirantes Boris Casoy acusou a Polícia do Rio de Janeiro de favorecer o jornalismo da Rede Globo com um vídeo inédito e exclusivo do assassino Wellington Menezes de Oliveira, exibido pelo “Jornal Nacional” em 12 de maio. No vídeo, gravado dois dias antes da chacina em Realengo (zona oeste do Rio de Janeiro), o atirador revela as razões que o fizeram planejar o massacre da escola Tasso da Silveira, no qual doze estudantes foram mortos.
Durante a edição ao vivo do “Jornal da Noite”, o jornalista da Band comentou: “esses vídeos de interesse público foram vazados somente para a TV Globo pela Polícia do Rio, que só agora promete investigar a discriminação cometida contra o restante da imprensa brasileira através desse vazamento. A polícia do Rio deve explicações”.
Com o comentário, a diretoria da Bandeirantes fez uma queixa formal à ouvidoria da Polícia Civil do Rio para apurar as imagens. Em nota divulgada no dia seguinte, a própria polícia disse que não tinha conhecimento das imagens e que iria pedir o vídeo à emissora carioca. No entanto, segundo a coluna Ooops, de Ricardo Feltrin, a Record também negociava o vídeo com os policiais, mas, por questão de minutos, o furo ficou com a Globo.
Mais uma vez, constata-se que a imprensa brasileira ainda não sabe conviver com o chamado furo jornalístico. Será que a atitude da Rede Globo não seria tomada por qualquer outra emissora que tivesse a oportunidade de adquirir o material e exibi-lo na primeira oportunidade?
Os tradicionais, e muito discutidos, manuais de jornalismo trazem que toda e qualquer notícia deve ser apurada em todas as partes. Mas a exclusividade é uma ambição muito forte. Entregar ao leitor, ouvinte ou telespectador um determinado tema em primeira mão é a ambição de qualquer veículo jornalístico? Mas, afinal, a quem interessa o furo jornalístico? Ele realmente é patrimônio público de alguns jornalistas ou determinados veículos informativos?
Inicialmente, a noção de furo já foi ameaçada pela internet, quando os veículos de comunicação passaram a funcionar como verdadeiras máquinas copiadoras: replicam informações dos outros, com ou sem checagem e crédito. Sem contar que a exclusividade da informação deixou de ser, há muito tempo, uma descoberta de um ou outro jornalista. O exclusivo tornou-se moeda de troca e, cada vez mais, colabora com a transformação da notícia em mercadoria.
A venda de notícias verídicas, independente de quem a noticie, também já é um desafio. Quando a concorrência é elevada, necessita-se criar regras para deixar de lado os caminhos que levam ao mercado negro. Vender notícias verdadeiras sem criar um espetáculo de falsidades é certamente uma difícil tarefa para os jornalistas. O que não se pode é deixar de lado a responsabilidade com os fatos publicados e o sensacionalismo e ignorar a criação de privilégios para o acesso das informações. Se for para dar um furo, que ele seja conquistado da mesma forma por todos aqueles que o procura.
Ano passado, durante a Copa do Mundo, uma situação similar aconteceu. O ex-técnico da seleção brasileira Dunga vinha em constante atrito com a emissora, pois alegava que representava toda uma nação e não concordava em dar exclusividade a uma emissora, cedendo entrevistas coletivas e evitando regalias. Vale lembrar também que, em outras Copas, a Rede Globo costumava ter exclusividade, fazendo entrevistas dentro do quarto de jogadores da seleção e no ônibus em direção ao estádio.
Uma coisa é lutar para descobrir um furo de reportagem e exibir como inédito, outra coisa é ter favorecimento quanto a algum material ou conteúdo de forma no mínimo esquisita.