Juliana Baptista
A cobertura da Veja Online sobre o passado do assassino Wellington Menezes está em uma seção especial intitulada “Massacre em Realengo”. Ali, há matérias sobre as famílias das vítimas, outros massacres em escolas pelo mundo e diversas reportagens sobre o perfil do atirador. A matéria escolhida para análise é “A construção de um monstro”, que traz mais informações sobre a infância, adolescência e quais fatores poderiam ter motivado Wellington a praticar o atentado à escola Tasso da Silveira.
A matéria não segue o esquema usual de lide e passa uma impressão literária ao invés de jornalística. Reconstrói a casa onde morava Wellington e descreve a padaria e o campo de futebol próximo à sua casa para mostrar o quanto o rapaz era isolado e introvertido.
Durante a reportagem notam-se tentativas de fazer uma relação com o comportamento violento do atirador com o fato de ele gostar de jogos de computador (por exemplo, Counter Strike). Tal relação é citada para tentar explicar o comportamento de Wellington, porém induz o leitor a ter um preconceito com jogos violentos e generaliza a situação como se todos que jogassem Counter Strike tivessem uma tendência a ter comportamentos violentos.
Mas há estudos recentes que revelam que jogos violentos podem contribuir para diminuir a hostilidade das crianças. A associação sugerida por Veja é precária.
A matéria cita incidentes da infância de Wellington. Antigos colegas de classe afirmam que ele sofria bullying por ser muito introspectivo. Mas, segundo Veja, apenas com uma investigação detalhada será possível afirmar se existe uma ligação entre o bullying e o comportamento de Wellington. Ao contrário de muitas matérias sobre Realengo, Veja não afirma que Wellington teria cometido o massacre por ter sido vítima de humilhação na escola.
Veja levanta os dez massacres em escolas mais conhecidos mundialmente. Seis deles foram cometidos por estudantes que freqüentavam a escola no período do massacre e que evidentemente sofriam algum tipo de descriminação dos colegas. Já os demais foram cometidos por homens mais velhos com algum distúrbio psicológico e que eram ex-alunos das instituições.
A reportagem acertou em não afirmar que o atentado foi motivado pelo bullying, entretanto, atribuir uma parcela de culpa aos jogos eletrônicos parece mais uma tentativa de, diante da falta de informações, oferecer uma solução ao problema.