A voz das comunidades e o jornalismo cidadão


‖ ‖ ‖ Por Marina Mazzini ‖ ‖ ‖


O portal www.vozdascomunidades.com.br retrata a vida de muitas comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro, como Morro da Baiana, Fazendinha, Rocinha, Cidade de Deus, Santa Marta e Morro do Adeus. O site foi feito por um jovem para divulgar eventos, fatos e opiniões das comunidades, como a visita do cantor D´Black ao bairro, os problemas de saneamento, a falta de espaço adequado para o lixo e o risco de deslizamento.

Renê Silva, de 17 anos, passou a apurar fatos do Complexo do Alemão e a torná-los públicos, mas só começou a ser conhecido fora do seu bairro quando houve a entrada de policiais no Complexo, em novembro de 2010 e, com a ferramenta do Twitter, postou notícias da operação na comunidade, com sua visão de habitante do local. Uma visão que chamou atenção de muitos internautas por refletir a sociedade em que ele se insere, pois mostrou o dia a dia na favela durante a invasão.

Renê, após o sucesso no Twitter, estruturou o site, que tem conteúdos específicos das comunidades e, como pauta, utiliza eventos, noticia o cotidiano de moradores, casos de superação e precariedade de serviços, de forma a mostrar fatos que a grande mídia não expõe, já que poucos meios de comunicação conseguem ter acesso tão íntimo à realidade das comunidades. Além disso, é difícil um jornalista de fora do Complexo do Alemão conseguir obter confiança dos moradores.

Voz das comunidades tem pautas interessantes e assuntos pertinentes, mas é discutível se pode ser chamado de jornalismo. É evidente que faz parte do ofício jornalístico o ato de reportar e publicar notícias relevantes para a sociedade. Mas, se pensarmos na reflexão do jornalismo em si, que entenda o ato de escrever com bagagem intelectual como fator fundamental para consciência da comunidade, alguns textos não poderiam ser publicados por um meio jornalístico.

O site é bem estruturado, principalmente se atentarmos ao fato de ser construído por jovens, alguns pré-adolescentes. Há uma apuração bem feita, com assuntos muito interessantes, de relevância social, que devem ser vistos pela sociedade em geral, não só na comunidade. O site traz para pessoas do mundo inteiro o que acontece nas favelas, é como se seus autores fossem alternativos à grande mídia, ou seja, eles expõem conteúdos exclusivos.

A internet ajudou Renê a publicar informações. Na sociedade da informação, a comunicação não está restrita aos profissionais que a entendem tecnicamente. Dessa forma, muitas pessoas podem entrar no processo de comunicar. Daí surgiu o jornalismo cidadão, no qual todos com um aparato tecnológico conseguem divulgar informações, sem ter a formação de jornalista.

A discussão do jornalismo cidadão é abrangente. Voz das comunidades é um site que exemplifica a maneira de produzir informação por um cidadão que mostra fatos do seu mundo. Mas os textos estão distantes de serem encaixados no bom jornalismo, talvez porque são escritos por adolescentes ainda em formação. Há muitas técnicas, como o lide, a imparcialidade, a maneira de escrever de forma direta, simples, que precisam ser adquiridas. O site atinge a função social de transmitir informações, mas a qualidade do trabalho ainda está em evolução.