Lucas Liboni
Foram poucas as ocasiões em que a cidade do Rio de Janeiro e, consequentemente, o Brasil estiveram tão em alta nas produções cinematográficas mundiais. As paisagens cariocas são pano de fundo de dois filmes de grande repercussão na mídia: Rio e Velozes 5. A projeção conquistada pelo país é, muito provavelmente, maior que a adquirida em qualquer outra produção nacional. Contraditório? A resposta é não, ainda mais quando estamos tratando do cinema brasileiro, que ainda conta com pouco apoio do público tupiniquim.
A animação Rio, dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha, é atração do momento nos cinemas mundiais. Há duas semanas em cartaz, o filme permanece no topo das bilheterias estadunidenses e já acumulou mais de 80 milhões de dólares no país. No Brasil, o desempenho não é diferente. A animação foi lançada em número recorde de cinemas brasileiros — em 1008 salas, segundo a Fox. E o resultado, como não poderia deixar de ser, foi uma bilheteria recorde. O filme arrecadou 8,3 milhões de dólares em seu fim de semana de estreia, a maior bilheteria de todos os tempos para uma première de animação no país.
Todo este sucesso não é em vão. A produção da Fox Filmes contou com uma divulgação de peso. O lançamento da animação foi realizado no Rio de Janeiro — nada mais justo, afinal, o filme se passa na capital carioca — e contou com a participação de vários repórteres estrangeiros, fato incomum em estreias ocorridas fora dos Estados Unidos, principalmente de Los Angeles. Para movimentar ainda mais a première, o evento contou com a presença de astros de Hollywood, como os atores Anne Hathaway, Jesse Eisenberg, Rodrigo Santoro e os músicos Sérgio Mendes, Bebel Gilberto e Carlinhos Brown.
Rio conta a história de Blu, um macho de arara azul domesticada que vive em uma pequena cidade do Minnesota e decide ir ao Rio de Janeiro depois que seus donos descobrem que há uma parceira para ele que mora na cidade. Blu, que não sabe voar, conhece a arara azul Jade e os dois partem em uma aventura juntos. As duas araras precisam escapar de traficantes de animais, enfrentar macacos irados e outros inimigos, tudo isso em meio ao Carnaval, partidas de futebol, montanhas e praias cariocas e muito samba.
Por mais contraditório que pareça, até as polêmicas contribuíram para a divulgação do filme. As comparações entre Blu e o personagem Zé Carioca, concebido pelos estúdios Walt Disney na década de 1940, surgiram assim que as primeiras sinopses da estreia da Fox saíram. Carlos Saldanha faz questão de afirmar que Blu não pretende pegar carona no sucesso de Zé Carioca, além de que sua personagem possui uma complexa história. Verdadeira ou não, a polêmica pode ser considerada um importante aliado à divulgação da animação.
Se os lançamentos hollywoodianos sobre o Brasil estão de vento em polpa, contraditoriamente, os filmes brasileiros ainda custam a emplacar bons números nas bilheterias. “No olho da rua” é uma produção nacional dirigida por Rogério Corrêa e protagonizada pelo ator Murilo Rosa. Com previsão de lançamento para dia 13 de maio, o espaço ocupado pela divulgação do filme nos meios de comunicação ainda é mínimo.
Tal fato endossa a realidade do cinema nacional. Apesar do sucesso de bilheterias, em 2010, como Tropa de Elite 2 — O Inimigo Agora É Outro (a maior bilheteria do cinema nacional, faturando 104 milhões de reais e com um público de 11,1 milhões de espectadores) e Nosso Lar, as produções brasileiras ainda estão longe de terem adquirido o prestígio necessário para alavancar de vez os filmes produzidos no Brasil.
Nem todas as produções nacionais vão para os cinemas. Em alguns casos, são poucas as salas de exibição, além dos poucos horários disponíveis para quem deseja assistir aos filmes. Desta forma, apesar de muitas produções obterem destaque em festivais e premiações no exterior, poucas são prestigiadas pelo público. Uma maior e melhor divulgação destas produções pode ser um caminho para alavancar o cinema brasileiro, afinal, já passou da hora do Brasil se destacar apenas como tema de filmes estrangeiros e passar a ser um grande produtor cinematográfico.