Adriana Donini
Bruno Sampaio Garrido
O assassinato na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, ganhou amplo destaque na mídia. A abordagem se estendeu a veículos especializados como o programa “Ver TV”, da TV Brasil, que analisa coberturas realizadas por meios de comunicação, e a edição online da Revista Nova Escola, publicação voltada, principalmente, a profissionais da área de educação.
A matéria da Nova Escola destacou alternativas de ação que poderiam ser adotadas pela comunidade escolar após um acontecimento como aquele. Para tal, a revista optou por publicar declarações de profissionais que atuam nas áreas de psicologia, sociologia e segurança pública.
“A tragédia carioca lembra que é preciso ter um plano de ação diante de acontecimentos que abalam alunos e funcionários, gerando dor, medo, revolta, raiva e até culpa”, segundo a revista. Essa avaliação é um elemento central no texto e remete a uma lógica de superação dos efeitos do acontecimento que irá se desdobrar nos parágrafos seguintes.
“Para reestruturar emocionalmente a comunidade escolar após o drama, uma alternativa é pensar em ações coletivas, que envolvam professores e equipe gestora”, de acordo com a matéria. “Além de lidar com a comunidade escolar quando acontecem episódios como o do Rio de Janeiro, é importante o trabalho cotidiano que garanta um ambiente de segurança e de acolhimento”. Esses períodos são uma forma de destacar a importância de uma postura mais racional e colaborativa a ser tomada pela comunidade como elemento crucial na superação desse episódio e em uma integração maior entre os membros, como forma de prevenção.
Já o não enfrentamento do episódio por meio de dispositivos de segurança foi reforçado, por exemplo, com depoimento do sociólogo Pedro Bodê, especialista em segurança pública da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “No calor do momento, o trauma gerado por eventos como o do Rio leva a uma reação mais irracional e produz o efeito inverso ao necessário: a escola se fecha, se isola e investe em vigilância”.
“O que menos deve ser conversado nesse momento é sobre como aparelhar a escola ou impedir o acesso da comunidade ao espaço”, segundo Ana Maria Aragão, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem). Esse aspecto ainda pode ser percebido na utilização de trecho de depoimento de Miriam Abramovay, coordenadora da área de Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), que critica a idéia de “revistar alunos e visitantes, usar detector de metais ou solicitar policiamento ostensivo” Para esta fonte, “isso só aumenta o medo e passa a sensação de que a instituição não dá conta de resolver o problema. A polícia deve ser acionada somente em casos extremos, quando houver questões que envolvem o Código Penal, como o tráfico de drogas”.
A matéria também destaca estratégias eficazes na superação do trauma, como ações de cunho psicológico, voltadas ao acompanhamento do comportamento dos alunos e a criação de canais de diálogo mais estreitos, de modo a tornar a superação mais rápida e confortável. “Trabalhar em grupo é uma boa medida. Para ajudar os alunos, o ideal é escolher pessoas que tenham bons vínculos com as crianças para conversar com elas – um professor ou um coordenador mais próximo das turmas, por exemplo. Os pais também devem ser estimulados a estar dentro da escola”.
Assim, notamos que, para transmitir a mensagem pretendida e mais direcionada ao seu público-alvo, o veículo procurou utilizar elementos textuais que produzem um enquadramento diferente do adotado pela grande mídia. Em vez de abordar o drama pessoal das vítimas e seus familiares e a falta de segurança nas escolas, optou-se em enfatizar a tragédia sob uma perspectiva de superação e aprendizado.