Helena Schiavoni Sylvestre
Em 5 de abril, o programa Profissão Repórter, da Rede Globo, enfocou o drama das vítimas da violência sexual em tratamento no hospital Pérola Byington, na cidade de São Paulo, referência no atendimento.
O programa optou por dar enfoque principalmente a dois fatos: a alta porcentagem de crianças que sofrem abuso sexual no Brasil e as dificuldades das mulheres que decidem pelo aborto quando sexualmente violentadas. O enquadramento da matéria foi feito de modo a dar destaque especialmente à dor e ao sofrimento pelos quais as vítimas estavam passando. Isso foi possível através dos depoimentos dados por mulheres e crianças às assistentes sociais do hospital. Os repórteres fizeram perguntas inconvenientes aos entrevistados, trazendo à tona o sofrimento e a vergonha.
A violência sexual é um tema pertinente. O Profissão Repórter poderia ter apresentado dados e informações objetivos para orientar sobre o contexto em que ocorre a violência sexual e esclarecer como as pessoas podem perceber problemas e denunciar suspeitas. Também seria importante indicar os casos em que o Brasil permite o aborto e que procedimentos as vítimas devem executar. Ao invés disso, a edição optou por focar as dificuldades que uma das vítimas encontrou ao realizar o aborto, e os preconceitos que sofreu por parte de uma funcionária religiosa em um hospital.
A reportagem mostra que a maioria das vítimas de violência sexual no Brasil são crianças de até 12 anos (53% das vítimas). Seria relevante fazer uma contextualização acerca dos dados estatísticos. Explorar de que forma a atuação dos sistemas públicos de educação e segurança influencia os números, o motivo de tantas ocorrências e quem são os principais protagonistas do assédio sexual infantil.
O programa poderia também ter buscado uma gama maior de fontes com a finalidade de esclarecer informações de grande relevância, como quais são as conseqüências psicológicas para quem sofre abuso.