Propaganda de governo cresce nas redes sociais na internet


Amanda Valença

 

O fluxo informativo e comunicativo do governo com os cidadãos sempre foi de extrema importância para a construção de um papel digno e honesto da ordem pública. Antes mesmo da era digital, a interação com o público já ocorria através de formas hoje pouco convencionais como comícios, contatos pessoais e cartas de esclarecimento, hoje substituídos pelas novas tecnologias.

Independente dos meios, o fato é que esse fluxo foi ganhando maior destaque e importância com o passar das décadas, diferenciando seu foco de propaganda política até chegar ao que hoje podemos ver como fortalecimento do poder do cidadão em um espaço nomeado esfera pública. Mas como se manifesta esse fluxo de informações? Analisamos o uso que o governo do Estado de São Paulo tem feito das redes sociais na internet, em especial o Twitter, a fim de verificar as intenções das mensagens transmitidas por seus gestores de comunicação e se elas condizem com os interesses dos cidadãos.

A comunicação pública é instrumento do governo para prestação de contas aos cidadãos, seu público-alvo, a fim também de estimular o espírito político. Informações sobre ações de governo devem ser publicadas, assim como a opinião pública deve ser levada em conta. Portanto, o sucesso dessa rede de informações torna-se chave para adquirir a confiança do cidadão.

Uma rede de relacionamentos de comunicação, independente de seu caráter, só possui sucesso se seus públicos forem enaltecidos e tratados com o devido mérito e respeito. Com a inclusão digital, os governos usam instrumentos que atendem à grande variedade de seus públicos, ou seja, meios que ao mesmo tempo podem ser considerados de massa, mas são dirigidos a cada perfil de cidadão.

É possível ver no portal do governo do Estado de São Paulo a consciência cidadã-tecnológica no link “redes sociais”, que aponta para suas ações no Twitter, Youtube, Facebook, Flickr, Orkut, Formspring e Slideshare. É no Twitter que o governo tornou-se mais acessado, devido ao estilo instantâneo e moderno da ferramenta.

A começar pelo caráter estético da página virtual do governo do Estado de São Paulo na rede social Twitter, é possível perceber que ela condiz com papel de seriedade prestado pelos diversos órgãos públicos. O fundo é simples, nas cores pretas e cinza, e possui o emblema e o endereço eletrônico do governo. São 61 contas de órgãos públicos, educativos, financeiros e fundações, acompanhados por mais de 24 mil seguidores.

É possível perceber que todos os dias o Twitter é atualizado com informações, que podem ser analisadas através de três critérios: 1) Interesse público primário (temas que possuem interesse geral da nação e que são constantemente questionados); 2) Interesse público secundário (temas que possuem interesse de parte do público, de caráter regional ou discutidos em determinada época do ano; 3) Propaganda (frases que elevam o governo e seus membros, sem finalidade de esclarecimento).

Separando entre tweets (aquilo que o próprio governo do Estado de São Paulo escreve e publica), retweets (assuntos que outro twitter publica e que os gestores públicos copiam e colocam na sua página virtual) e replys (respostas dadas a questões diretas), é possível analisar o papel do cidadão e como o Estado utiliza esta ferramenta de comunicação pública.

Os tweets predominam na forma de propaganda (por exemplo: “Geraldo Alckmin recebe o presidente do Uruguai”), seguida por interesse público primário (“SP inicia produção nacional inédita de vacinas contra a gripe”) e interesse público secundário (“Ipem-SP fiscaliza produtos utilizados em fantasias de Carnaval”).

Os retweets possuem a mesma característica qualitativa dos tweets, ou seja, os assuntos predominam na ordem: propaganda > interesse público primário > interesse público secundário. No entanto, no aspecto quantitativo o resultado se diferencia. Enquanto a margem entre propaganda e assuntos de interesse público primário é discreta nos tweets, nos retweets ela é maior, sugerindo que o governo do Estado de São Paulo procura com freqüência publicar notícias favoráveis à sua imagem.

Os replys mais condizem com o que o governo de fato deveria publicar. É grande a quantidade de respostas sobre assuntos de interesse público primário. Isso indica que os cidadãos perguntam constantemente sobre assuntos gerais como educação, infraestrutura e saúde, pois não recebem informações espontâneas, ou seja, proveniente dos tweets, que sejam suficientes para atender seu interesse. A ocorrência de replys segue a ordem: interesse público primário > propaganda> interesse público secundário.

Independente da ferramenta utilizada para publicação, tweet, retweet ou replys, é possível perceber que a maioria das informações assume caráter publicitário. As questões dos usuários, da forma como aparecem, discretamente sugerem que sua solução só foi possível devido à intervenção do governo.

Apesar de a comunicação pública ter se expandido e hoje possuir um papel importante de serviço público, fazendo com que a disseminação de informações se torne mais fácil, ainda é preciso haver uma maior atenção à obrigação de prestar contas sem que isso se torne motivo de promoção, ou seja, a comunicação de um governo deve ser um instrumento que facilite a relação entre governo e cidadão e não um canal de propaganda.


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